28 setembro 2012

VI...VER


Vi...ver


Viver, ver.. vi,... vi ..ver!
Em todos se clama pela vida
A todos alguém diz – Viva!
Afinal, por que tantos dizem
Outros tantos pensam

Existir está acima do sujeitar-se
A história lança-se, sem desculpas
Biografa, simplesmente...

Falas do afeto – perdido ou por encontrar
Pensas nas possibilidades

Abandones o modo de ser
Daquele que veio apenas para ver
Conduza a vida para além
E diga – Vim, vi e vivi!






23 setembro 2012

NEM TENTE



Por Regina Zamora


Não sou mulher
de pedir perdão,
porque nunca preciso...
Sou prudente com os corações,
não magoo e nem engano,
nunca entro pelo cano.
Não é a minha carinha,
muito menos,
é a roupa que me veste,
que me faz tão fértil!
São as minhas verdades,
que me seguram
nas minhas vontades.
Não sou apenas aparência,
sou sabedoria e inteligência.
Consigo enxergar tudo,
principalmente,
os inconsequentes...doentes!
Não deturpem a minha mente,
nem tente!


22 setembro 2012

TUDO O QUE CABE NUM BREVE ACENAR





Um aceno pode ser um olá disfarçado de adeus ou um adeus disfarçado de olá. Alguém passando as mãos no vidro embaçado de uma chuvosa janela. Um aceno pode vir de um manequim por detrás da vitrine, de um busto de político ou mesmo do Cristo crucificado a abençoar a culpa eterna de seus devotos. Um aceno pode ser um gesto obsceno, a ameaça de um tapa, um pedido de graça ou um agradecimento pela benesse alcançada, a coreografia desarmada de uma criança ao contornar o arco-íris em imaginação e movimento. 

Um aceno pode vir do limpador de para-brisa, do flanelinha, do boneco do posto cheio de ar, do pedestre ao pedir para passar, educadamente, dos trabalhadores dando sinal para o ônibus parar. Um aceno pode ser confundido com um soerguimento da palma para proteger a face do sol ou mesmo com um sentido de soldado. - É um assalto! - Mãos ao alto! - Passa o celular! 

Um aceno pode ser Tai Chi Chuan, balé, louvor, karatê, anarriê, tchan-tchan-ran-ran-tchan-tchan. Pode vir de um torcedor iniciando a ola na arquibancada, de amigo pedindo a outro um HI-5, bate aqui, toca aqui, axé, aiatolá! Além do bracejar, um aceno pode ser feito com a cabeça, tirando-se o chapéu, cutucando de baixo da mesa. Um tchauzinho de miss ao ganhar troféu ou do Papa ao visitar outros países, deslizes de dedo dentro da brisa. 

Um aceno pode ser um palavrão em cultura diferente, um arsenal para portadores de ideias beligerantes, um balançar da Torre de Pisa. Pode ser um oceano cheio de golfinhos convidando ao mergulho ou um chacoalhar da pata de um urso dentro da jaula. Pode vir de um bom dia do vizinho, dar boa tarde ao porteiro, da boa noite antes de voltar à cama. Um aceno pode ser matemático, teorema e trama, vai depender do prisma, do cosseno e da tangente. Há de se calcular até as intenções da gente que gesticula através do olhar.
 

20 setembro 2012

SONETO A UMA RUA ONDE NADA ACONTECIA



(Bebedouro SP 20/09/2012 - Arredores da UNIFAFIBE)



Por Marcelo Finholdt


Toda vez que de longe escutava um ouvido
Logo alguém já dizia: É da rua esquisita!
Toda vez que um olor visitava a alma aflita
Logo alguém respirava: Enfim fez-se o sentido!

Toda vez que ventava o arrepio era tido
Logo alguém pressentia: Ah! Na pele bonita!
Toda vez que distante enxergava Lolita
Logo alguém se entregava: Ah! Saía polido!

Toda vez que o sabor da maçã era o gosto: 
Logo alguém desgostava; esquecia, sumia,
Logo alguém já voltava e provava no rosto.

Toda vez que Lolita assombrava essa via: 
Logo alguém misturava; aquecia-se exposto,
Logo alguém se borrava; esfriava e tremia.


19 setembro 2012

TÃO BREVE QUANTO O AGORA

Por Alvaro Posselt


Não cresceu com fermento
Para o pão ficar grande
usei lentes de aumento

***

A vida é um flash
entre quem está parado
e quem se mexe

***

a letra A tremeu na base
ao topar com outro A
teve uma crÀse


Poemas do livro Tão breve quanto o agora, a ser lançado no dia 06 de outubro,
Paço da Liberdade, Curitiba/PR.

17 setembro 2012

14 setembro 2012

RECÍPROCO


Recíproco


Agora falta pouco...
Lá vem
Com mais promessas

Alguns já se cansaram dos encantos
Outros ainda têm dúvidas da capacidade
Gerar o que prometes
Muitos são envoltos pelos braços
e abraços... Deleite!

Diante... os votos
Desejo a você
Te aspirando
intensamente

Nada!

Diante do amado
A ausência da partilha
Do abraço intenso dos corações ritmados,
A respiração em uníssono.

Diante dele me jogo
Projeto-me
E almejo...

Espirar um ano novo
Realmente original
Com todo o frescor
De ser tudo o que pode ser
Mais do que real
A fantasia de si no encontro.


13 setembro 2012

MENINICES


Meninices


Era uma vez um menino que queria um pirulito. Aquela circunferência colorida de roxo, creme, verde, azul, laranja e amarelo o fascinava como nenhum doce o fizera. Outro atrativo era poder segurá-lo por um pauzinho enroladinho de branco e vermelho. Como aqueles homens faziam essa explosão de cores, todas juntas, ao mesmo tempo separadas a ponto de identificarmos cada uma delas? Cores enroladas que lhe davam tanto prazer, quanto questões.

Além de muito colorido, era de uma doçura incomparável. Nenhuma bala, essa completamente sem graça por sua monocromia, alcançava seu sabor. E olha que já fizera até um teste, colocando várias balinhas coloridas de uma vez só na boca... não era a mesma coisa. Nem o sabor, nem a possibilidade de segurá-las todas, uma vez mais em suas mãos, afinal nenhuma bala possui um pauzinho enroladinho de vermelho e branco.

Quando pode então ter aquele doce tão desejado em suas mãos, nem pestanejou, abriu-o com todo cuidado e lhe deu a primeira lambida. E lambeu, lambeu, lambeu... Olhou-o, pois, outra vez, para saber se suas lambidas fariam com que as cores se misturassem e, dessa mistura, qual, então, lhe restaria. Para sua surpresa, elas permaneciam intactas, continuando com suas particularidades incríveis e com seu brilho todo especial.

Continuou com suas lambidas para saber qual era a cor que sobraria no final e sua alegria não cabia em si, quando percebeu que nunca ficaria com uma única cor, já que até mesmo o pauzinho, com o qual faria o trapézio de seu circo, possuía duas cores – branco e vermelho!

08 setembro 2012

TERCEIRA-PELE


Nossa vida tão tênue tal um tecido aos rasgos de precipício. Qualquer quedinha parece despencar das montanhas mais rochosas. Homens parecem crianças saídas daquela propaganda de sabão em pó. As mulheres, bem, nosso desejo virou um sutiã pendido à ponta do iceberg. Bicos de seio enregelados perfuram transparências. O destino perdido no triângulo das bermudas gera preguiça de preparar a bagagem. Revê todos os filmes e seriados, de Titanic a Lost. Da janela da nave, uma limpa camisa estampa poeira cósmica. O navegador acena para as nuvens querendo trajá-las por conforto quase divinal. 

Deu chuva, a lavadeira corre para arrancar os panos do varal. Nas lavanderias públicas centrifugamos tempo, alvejando o colarinho sujo de batom da amante, assistindo a novela rodar nas máquinas cheias de calcinha alheia. Assim, vamos aos tanques e barrancos. Passar ferro na calça com vinco saiu de moda, a sua mãe já sabe, mas não custa avisar mais algumas vezes quando for fazer a visitinha ingrata de todos os meses. Mora sozinho, porém aluga a velha para serviços domésticos de vez em quando. O casal mudou há pouco, ela fofoqueira espreitou tudo da varanda. Vincularam guarda-roupas desde a primeira transa, constatou respingando suor da testa. Compartilharam gavetas, seringas, molhos de chave entre meias, brincos, pistola, canivete, colírio e drágeas, muitas drágeas. Teceram juntos réquiems para um sonho.


(...)

Risca de giz a professora um mapa-múndi sonhando com uma viagem à Itália, enquanto seu mais destro pupilo, o próprio sobrinho, grifa Dolce & Gabbana com caneta em seu vestido azulado, conferindo grife ao amarrotado da tristeza dela. Esboçou um sorriso e preparou-lhe macarronada no almoço com bastante tomate, só que logo desfez felicidade ao perceber o garoto melar no molho a manga comprida recém-engomada. De tanto medo, mordeu o guardanapo. Lá vinha a tia solteirona descontar suas frustrações de novo, com os olhos arregalados, fumegando mais que a panela cheia pela boca:  

- Me dá que eu lavo, pirralho escroto!

E o menino tentava imitar timidamente Caravaggio, desenhando, a lá Vik Muniz, uma Medusa com o garfo mergulhado na bolonhesa. Farto.



06 setembro 2012

TROVAS AO DEUS BACO


Por Calíngua
(Bebedouro 28/08/2012)

Sempre o vento traz olores
Só não vê quem já está dentro
Das surubas, dos sabores,
Dos buracos bem no centro.

Todo o Olimpo fica em festa:
Excitadas as bacantes,
Deuses veem pelas frestas
Das orgias elegantes...

Invejados são humanos,
Pois fornicam sem parar,
Sem prezar perdas ou danos
Para Baco consagrar!

05 setembro 2012

Related Posts with Thumbnails