capítulo IX
FRATURA EXPOSTA
Parece que não.
Parece que não vai. Não tem graça, borboleta furada,
não vejo nenhuma graça na cabeça de alfinete que prendia, então, as noites e os tablados. Adão, naquela época, chamou cada bicho de bode, cachorro, elefante
ou vespa. As palavras, hoje quando, entretanto, não têm mais serventia. Uma família de refugiados atravessa a fronteira do Líbano em 1982. Moscas azuis caídas
para suturar. Lábios, ossos ou feridas. Nervos. Cartilagens. Músculos falidos. Não vai. Achtung! Bruta chuva, bruta chuva. O tédio varre a Palestina, o Irã, a Líbia e o Egito. Parece que. Parece que não. O tédio que acompanha o tiroteio, o ódio e o exílio fratura os varais, senhoras e senhores, do nosso folhetim.
Aldrich? Anão de merda. Enfie a cenoura na boca e fique quieto. Página em branco, é o que há. Palavrões. Nada será capaz de rabiscar, ó agulha. Ó crueldade. Palhaços, trupe de folgazões, saltimbancos. Profissionais sérios. Nossa Senhora e o seu filho na beira da estrada, num jumentinho que vai para o Egito. Sem pecado. Crianças que não querem crescer. Sem pecado, sem pavor. Pegue um charuto, lamba a ponta do polegar. Bora, Maria Amélia, folheie as páginas. Você está vendo? O que é que você está vendo? Choveu ontem à noite. Pegue a caneta, rabisque, rasgue o folhetim. Não adianta. Parece que não vai. Páginas cheias de formas, páginas trituradas, manchadas de lama, lanhadas de alto a baixo ainda são páginas
Parece que não
vai. Aranha, grilos e formigas. Parece. Alfinetes traiçoeiros, escondidos nas areias do deserto. raspando a carne viva dos meus pés e das minhas mãos. Bata palmas, João Batista, bata palmas.O burrico trotará indiferente. Os saltimbancos voltarão, senhoras e senhores, no dia 26 de maio.
O folhetim prosseguirá. Firme e forte. As palavras e as borboletas, memsahib pupin, têm serventia. Ossos e feridas. Nervos. Cartilagens. Pé de cabra. Não quero choro nem vela. Músculos flácidos. Achtung! Não procure, Aldrich,
a batida perfeita de Flaubert. Não vai. Parece que. Parece que não. Não vai dar certo, anão. Enfie a cenoura na boca, Chast Aldrich, achtung! e fique quieto até o próximo capítulo. O posto de gasolina já está bem perto.Rodas de carroça, lonas bem amarradas. Pinguim de geladeira, bibelô de porcelana. Vamos em frente.
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