CHÁ DE SUMIÇO
Por Cecília Prada
Me mandaram um pacote, verdinho,
até bonito. Coloquei-o em cima da mesa, acendi uma vela, fiquei olhando para
ele e pensando: “sumiço” não é coisa de mágico desaparecimento, não. Ele não é
“nada”, não se esvai no ar, não é vazio : é material complexo, de pegajosa e
muita humanidade - e umidade. É
perigoso, sei. Por isso não quero abri-lo, temo seu embutido poder de Pandora –
espalhará mais sombras, algum morcego talvez, pelo meu ninho forrado de
preocupações?
É um presente o que ele contém? –
uma armadilha, talvez? Em matéria de presente, confesso, preferia um maço de
rosas – sem espinhos, claro. Em matéria de armadilhas, já conheci e provei
tantas, vida afora, que o hábito de sofrê-las matou-me a curiosidade, de vez.
Em matéria de chá, preferia um
daqueles bem elaborados da Romana com mil coisices gostosas, com alentado papo
e risadinhas de contentamento – à falta absoluta do quê, na cidade
absolutamente morta, defunta já, nestes feriadões....só me resta a gastura.
O chá de Sumiço – que venha.Que seja.
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