Aos
pedaços
Por
Vivian Marina
As
flores estavam derramadas aos pedaços sem que fosse possível
reconhecer suas vivas cores. Coberto, o chão respirava por pequenos
clarões abertos pelo soprar do vento. Nada permanecia imóvel, nem
os pedaços de flores, nem os pedaços de respiro. Ambos moviam-se
como se estivessem dançando, numa coreografia que respondia ao sabor
da brisa leve.
Barulhinho
bom do arrastar das plantas naquilo que as (des)abrigava. Liberdade
de balançar sem que as frestas lhes desviassem, sem que os becos
lhes acumulassem, sem que os buracos lhes fizessem cair umas por cima
das outras, sem que os desníveis lhes oscilassem a horizontalidade.
De
repente, não mais que de repente, as nuvens começaram a chorar seus
prantos, numa chuva macia que inundava e arrefecia aquela paisagem de
pedaços. Aos poucos, as lacunas respirantes foram aumentando e os
vãos entre as flores se alargando. Desnudado, o chão foi sentindo
falta da delicadeza dos carinhos daquele floreio, cadenciado entre os
movimentos dançantes e o som suave de seu balançado.
Guardadas
as sensações sem ressentimentos, logo elas tornar-se-ão outras,
abrindo o inesperado para cada parte dessa composição.
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