Palavras
e silêncios
Por
Vivian Marina
Havia
um amontoado de palavras guardadas na estante. Ao primeiro olhar,
pareciam todas quietas, inertes, adormecidas – e estavam.
Esperavam, pois, apenas serem recolhidas por alguém que lhes desse
vida. Esse tal alguém poderia arranjá-las de maneiras muito
peculiares. E o que o silêncio daquelas palavras desejava era que
fossem tratadas com delicadeza, que fossem escolhidas uma a uma numa
composição suave, cheirando alecrim.
Silêncio
ambicioso, mas, por que não desejar algo tão sincero? Ele, o
silêncio, gostaria que as palavras fossem lidas com paixão, que
aguçassem outras combinações, que fossem pintadas com grifa textos,
circuladas, marcadas, (ab)usadas...
Enfim,
alguém não apareceu. E as palavras, bem como seus silêncios,
permaneceram ali, amontoadas na estante. Nenhuma frase fora formada,
nenhum balbucio ousou soar, nenhum toque para lhes embaralhar, nem
mesmo um vento, uma brisa, para tirar-lhes da estagnação.
Já
desacreditadas, as palavras e seus silêncios olharam com o canto dos
olhos e viram ninguém aparecer. Era franzino, silhueta delgada,
quase quebradiço – será que se deixariam escrever por tamanha
miséria? Foi quando ninguém lhes tateou com todo o cuidado,
rearranjando-lhes os sentidos, dando-lhes, pois, aquilo que tanto
desejaram – um pouco de zelo, para que, então, pudessem não mais
estarem amontoadas na estante e sim enfeitadas e adornadas por ninguém!
Um comentário:
belíssimo!
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