Gizes
Por
Vivian Marina
Demoro-me
em minhas próprias palavras, passo por elas, apago, permaneço,
rearranjo, descanso. Instantes e pessoas que estão em mim e me
inscrevem, escrevem, expectoram. Sinto em minha pele esses efeitos, à
flor da pele. Já não sei e nem quero saber do que me lembro e
esqueço, fato e ficção criados por mim mesma. Tudo mistura-se numa
indiscernibilidade que convém ao agora.
Cheiro
de canela, gosto de amora, não os sinto, apenas desperto-os pela
poesia. O suspiro que encaracola sua doçura e chama um devaneio. A
trama tecida pela aranha em sua teia, aquela outra toda açucarada
enfeitando e dourando o doce e essa feita de palavras que estão
embaralhadas em meu corpo.
O
pássaro que leva e traz lembranças, voa espalhando o que não
aconteceu, rememorando um futuro incerto. Os tempos fazem-se pelo
pensamento, as pessoas fazem-se pelos encontros.
E nessa versão, o amor e a vida são um desenho de giz no
quadro negro já todo manchado desse mesmo giz – nítido e
esfumaçado que embriagam, dilaceram e continuam a ser queridos.
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