Por Bia Pupin
Renata ligou quatro e dez da madrugada delirante, para a tia, a sua confessora. Precisava saber se estava lá.
-Havia levado as flores? Em prantos perguntava.
Sempre teve essa dúvida, mas só depois do sonho é que ficou claro, de que não se lembrava.
-Eu me lembro, do cheiro das flores e das velas, me lembro do choro também. E que cantei a música que ele me ensinou criança, mas não me lembro do resto, nem do rosto, não me lembro de quase nada.
-Eu estava lá? Por que não me lembro?
Ela sabia que não se lembrava, mas mesmo assim não conseguia se lembrar.
Foi quase estrangulada pelo sonho. A tia sobressaltada tentava acalmá-la e repetia:
-Sim você estava lá. E levou as flores para seu pai.
E Renata repetia:
-Eu não estava lá. Por que não acompanhei o cortejo?
-Foi difícil, mas lá você estava.
Nessa noite elas perderam o sono.
4 comentários:
Renata promete, e não cumpre.Promete um folhetim incrustrado na subjetividade clivada. Não cumpre porque, p.ex., ao dizer 'eu minto', estará dizendo a verdade. Bela estréia Bia, texto esmerado na sinuosidade.
Bravos!
Obrigada Marco, por toda a lisonja do convite para o chaleira.E nã há nada que eu goste mais que o paradoxo...
Que loucura... uma linha tênue entre o sonho e a realidade...
passo maus bocados com estas coisas, constantemente. Noite passada foi assim.
Aproveitei, pois senti na pele o texto.
Não há uma explicação no final sobre o que aconteceu, o texto dá as dicas, a morte do pai e o sofrimento da filha, mas tudo fica um pouco confuso. Fora o fato da morte do pai, há o sofrimento desta filha, tão intenso, criando um novo clima a ser interpretado pelo leitor.
Muito bom! Grande estreia.
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