06 março 2010

Susto bem tomado


Por Paola Benevides (ilustração e texto)

Tsunameiramente veio rastro dele sobre ela. Ela que já o tinha apagado em brilho eterno na lembrança, viu-se cerceada por um amar bravio, por uma vela que a queimava em repentino do nada, pelo centímetro pavio.

Nadar? Não sabia, não cria que fosse possível nem na respirada. Quis afogar tão cedo quanto o sol tardino dentro do risco horizontal. Era fogo e morte, era lava. O que fazer poderia? Enquanto maturava o chá pensamenteiro, ele dizia: - Nada! Nada! Nada!

Então crescia o medo feito água fervente dentro da chávena. Baixava a chama, chamava, não vinha. Era saudade apenas. Não que apenas pudesse ser saudade, não que isto fosse um só "a penas", a duras penas era uma falta absorvente dentro do oco dela. E o mundo se sobressaltava feito a crosta terrestre de agora, naquele segundo único capaz de subtrair um dia. Os dias dela mais pareciam neve. Derretiam seu calor pelo outro, só queria o mesmo, o ido que voltava fantasma na ânsia do amor dela. Da dor, nem sei. Era de dar dó. Sabia. Mulher sábia que era tanto tantas vezes, deixando-se consumir por lembrança tão tadinha... Ó! Fumaça.

Tempo curará. Curar-se-á a sorte. Mas isto se a morte não lhe provocar. Pois os antigos que dizem, ser chamado em nome audível por ninguém visível é perigo. Fulana, fulana, fulana... Seu bú enquanto põe a chaleira para esquentar...

2 comentários:

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Fáilte, Benevides! [saudação que equivale, em irlandês,à intimidade polida com que você acupa seu espaço neste coletivo. Por si, tem um efeito encantatório, diz muito da Paola ética, por excelência]

Beijo

Unknown disse...

Minha gratidão sempre enternecida por este espaço! Fáilte, Bueno! Buenas!

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