31 agosto 2011

DA TENTAÇÃO DA POESIA

DA TENTAÇÃO DA POESIA


É a tentação de me encontrar
- não na parede,
nem no bar da esquina,
mas na margem esquerda da página.
É um arrimo, um rumo, um teor,
- na perdição de letras em que estou mergulhada.

Sou aquela menina, não sabe,
a menina que caiu na sopa de letrinhas da infância
- me repesco, todas as manhãs.

Seria preciso me concentrar
- puxar, um a um, os fios do Ser,
me retesar, nas pontas (da cadeira, ou da vida)
para me entregar, una e tensa,
a quem o verso mandar.

[Não mandou]

(Persistência isolada
-pelo menos condensada -
de palavras flutuantes
que puxam imagens esgarçadas.)

O poeta é ser de coisas certinhas
- linhas.

____________


Posso atingir, então, essa outra dimensão em que se restabelece o monólogo/diálogo interior, em que atinjo uma serenidade, uma felici-dade – penetro nesse espaço como uma meninazinha curiosa. É o espaço da criatividade, da comunicação – é “o grande salão do Ser”, com suas preciosidades. Repleto de objetos interessantes, de conversas animadas. Propício à reflexão. Ao nascimento de idéias, de imagens – o salão onde o escritor retoma a sua linguagem, fala e ouve, onde todos os escritores do passado, os grandes artistas, os pensadores, estão.
Tive um grande privilégio, a vida toda – ter sido convidada para esse salão.Lamento não ter usado plenamente esse acesso, essa “permanente” – ter-me deixado arrastar, anos a fio, para a depressão, que é o espaço inativo, letal. Deserto, se diria. Mas é pior do que isso: é o espaço povoado pelo não-ser, um gosmento caldo feito de semi-pensamentos e não-ações, lixo existencial, negatividade.
(E voilà...parece que finalmente cheguei a texto para auto-ajuda de cidadãos de tardios propósitos literários. Agora talvez minha conta bancária fique mais animada.)



30 agosto 2011

EFIPANIA *

FOTO - Arquivo

EFIPANIA


Vendem-se sonhos, por encomenda; para viajem. Experimentem bombocado na lenha!



* Mote do título - Por Daniel Serrano (in BREVES MOTES A MICROCONTOS/Facebook)

29 agosto 2011

NOTODOAPARTE

por Guilherme Salla




Tomar parte disso,
Tomar de quem?
Quem toma parte disso?
Quem parte,
Quem toma de quem?
Parte quem?
                                                Disso,quem toma parte,
Quem?


.

28 agosto 2011

ESQUENTA PARA O FESTIVAL DE MICROCONTOS



BREVES
MOTES
A MICROS



SAIU NO GRUPO "BREVES MOTES A MICROCONTOS - FACABOOK:


"

27 agosto 2011

LOUIS C. K.



Um homem está tendo um encontro com uma mulher, vai bem, estão se divertindo, tem muitas coisas em comum. Vêm um grupo de colegiais fortões bêbados gritando na lanchonete onde estão. O homem pede para fazerem silêncio, um dos fortões vai até ele e ameaça o surrar, perguntando o que ele vai fazer contra eles. Ele diz que nada, sendo obrigado a admitir que é fraco - aceita ser humilhado. Eles vão embora, ele conseguiu lidar com a situação de forma que nada escalasse para a violência, porém a mulher ao seu lado acaba de perder todo respeito por ele, não acabarão mais na cama como ela esperava. Ela vai embora, ele vê o fortão e o segue. Acaba em sua casa, bate a porta conversa com os seus pais. Não veio fazer ameaças, só relatar o que aconteceu e esperar que o certo seja compreendido. Os pais pedem desculpas, ele sai. Na porta da casa escuta como a mesma ameaça violenta usada contra ele é usada contra o colegial pelo pai. O pai sai e conversa mais com ele – está cheio de problemas com a vida, com o trabalho, não sabe lidar com o filho. O homem o compreende, como compreende seu agressor e compreende a mulher que o rejeitou. Essa é a vida, a experiência da vida. 

A mais genuína comédia é encontrada no cotidiano, naquele ponto de quebra entre o que as coisas “deveriam ser” e como elas realmente são. É a risada na tragédia. E o melhor lugar para se evidenciar isso é no humor de Loius C. K., mais especialmente em suas duas séries de comédia para tv, Lucky Louie, produzida pela HBO com uma temporada de 12 episódios - já cancelada -, e Louie pela FX - já em sua segunda temporada de exibição. A primeira lidando com as contradições da vida de casado, e a segunda com a vida de solteiro, divorciado.


24 agosto 2011

HAIKAIS E SENRYUS

HAIKAIS e SENRYUS
Por Alvaro Posselt

Sol repentino -
Vai embora carrancudo
o vendedor de guarda-chuva

*

Vento de inverno -
Na superfície do lago
o céu se movimenta

*

Forrado de prata
o mato alinha o horizonte -
Primeira geada

*

Sentado no banco
o gato finge
que é uma esfinge

*

Ganhou uma flor
a folhagem do jardim -
Borboleta de inverno



23 agosto 2011

A TORRE DE BEBEL - [INTERVALO COMERCIAL]

Intervalo Comercial Safado

por Vítor Queiroz


Bebel prende e arrebenta.

Fiódor Dostoiévski. Os Irmãs Karamatzov, 1879.




A Torre de Bebel

lied


Berlim, 1933.

No Zoologischer Garten

um chimpanzé

do Congo Belga

rifado numa feira

enfia o dedo no brioco

e cheira enquanto Adolph

Hitler toca o terror

no Reichstag.


Na Nova Zelândia

o canguru perneta

chupa o dedo na bolseta

e os urubus?

preferem fazer um ninho

bem quentinho

no olho do cu.


Bebel, do alto de suas tranças,

ajeita o bustiê, aperta

o espartilho e capricha no laquê.


Pra que serve

o esôfago das girafas?

é pra provar

que Lamarck estava certo,

pra mastigar alfafa

ou pra dar uma

de Marylin Manson?


Brontossauros

e mamutes nos seus poços

de piche vivem,

hoje, numa farra só

de Viagra guaraná catuaba

amendoim ostra e pó.


O urso do Cana-dá,

o califa de Bag-dá,

os reis do Su-dão

e o clã dos Tokugawa,

Bebel? furava

de um tudo no Japão

desde o tempo da vovó.


Bebel, do alto de sua torre,

borrifa perfume,

faz chapinha nas madeixas,


espirra numa nuvem de pó de arroz

e depila a axila

passando batom na boca e na bochecha.


Fulgêncio Batista

em Havana, os atletas russos

trucidados por Stálin,

a Senhorita Perón

fraquejando na sacada,

os restos mortais

de Getúlio Vargas

em São Borja, Júlio César

depois da facada

e os turistas chineses soterrados

no último terremoto

gastam tubos de vaselina.


Napoleão

trepou mais que chuchu

num cercadinho póstumo

e o cadáver etíope

de Vera Verão

ainda provoca protestos

entre os cristãos

das primeiras catacumbas.


Bebel, do alto de seus peitos fartos,

calça um sapato de salto,

estica a cinta-liga e passa talco na porta do fiofó.


Senadores romanos,

Maria Antonieta,

aquela que se amarrava

num negão

chamado Brioche,

Doutor Hélio, Dona Rosana,

Antônio e Cleópatra

renderam-se

às velhas corjas políticas,

viraram o inferno

do avesso,

e ainda posaram pra foto.


O tempora o mores!


Puritanos no Parlamento

inglês, o recruta

de cabeça raspada

que funga atrás

do sargento e a gorducha

que atrasa o aluguel

todo mês gemem mais fino

do que a Xuxa,

mas os padres do Vaticano

papam mais anjos

do que Maria

das Graças Meneghel.


Bebel, do alto de seu conto de fadas,

toma gim, fuma charuto, canta e fode.


Os anões e os passarinhos

da Branca de Neve,

as abelhas

e até os viadinhos do Restart

ou do Back Street

Boys estapeiam a bunda

de lacraias e mocréias.


Borboletas e lambretas,

mexilhões bacalhaus e moreias,

besouros, o David

de Michelangelo,

as mariposa quando chega

o frio, o Arnesto e a praga

de gafanhotos no Egito, magina?


Bebel, Bebel, Bebel, tira o Ford da garagem. Adão e Eva,

apesar do vexame, esconderam no fundo

da mala uma marmita cheia de fruto proibido


Bebel, Bebel, Bebel, camarões em cativeiro?

o Cupido de gesso?

os pinguins de geladeira? as minhocas de jardim?

as baratas do banheiro? Ninguém tá à toa, Bebel.


Berlim, 1989.

No Berliner Mauer

uma picareta abre

um buraco no reboco,

o Congo Belga

já virou uma bagunça

e Mobutu, que não admitia

a dedada de maneira alguma,

foi pro sugestivo

cemitério de Rabat

vencido pelo câncer de próstata.






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