Fiódor Dostoiévski. Os Irmãs Karamatzov, 1879.
A Torre de Bebel
lied
Berlim, 1933.
No Zoologischer Garten
um chimpanzé
do Congo Belga
rifado numa feira
enfia o dedo no brioco
e cheira enquanto Adolph
Hitler toca o terror
no Reichstag.
Na Nova Zelândia
o canguru perneta
chupa o dedo na bolseta
e os urubus?
preferem fazer um ninho
bem quentinho
no olho do cu.
Bebel, do alto de suas tranças,
ajeita o bustiê, aperta
o espartilho e capricha no laquê.
Pra que serve
o esôfago das girafas?
é pra provar
que Lamarck estava certo,
pra mastigar alfafa
ou pra dar uma
de Marylin Manson?
Brontossauros
e mamutes nos seus poços
de piche vivem,
hoje, numa farra só
de Viagra guaraná catuaba
amendoim ostra e pó.
O urso do Cana-dá,
o califa de Bag-dá,
os reis do Su-dão
e o clã dos Tokugawa,
Bebel? furava
de um tudo no Japão
desde o tempo da vovó.
Bebel, do alto de sua torre,
borrifa perfume,
faz chapinha nas madeixas,
espirra numa nuvem de pó de arroz
e depila a axila
passando batom na boca e na bochecha.
Fulgêncio Batista
em Havana, os atletas russos
trucidados por Stálin,
a Senhorita Perón
fraquejando na sacada,
os restos mortais
de Getúlio Vargas
em São Borja, Júlio César
depois da facada
e os turistas chineses soterrados
no último terremoto
gastam tubos de vaselina.
Napoleão
trepou mais que chuchu
num cercadinho póstumo
e o cadáver etíope
de Vera Verão
ainda provoca protestos
entre os cristãos
das primeiras catacumbas.
Bebel, do alto de seus peitos fartos,
calça um sapato de salto,
estica a cinta-liga e passa talco na porta do fiofó.
Senadores romanos,
Maria Antonieta,
aquela que se amarrava
num negão
chamado Brioche,
Doutor Hélio, Dona Rosana,
Antônio e Cleópatra
renderam-se
às velhas corjas políticas,
viraram o inferno
do avesso,
e ainda posaram pra foto.
– O tempora o mores!
Puritanos no Parlamento
inglês, o recruta
de cabeça raspada
que funga atrás
do sargento e a gorducha
que atrasa o aluguel
todo mês gemem mais fino
do que a Xuxa,
mas os padres do Vaticano
papam mais anjos
do que Maria
das Graças Meneghel.
Bebel, do alto de seu conto de fadas,
toma gim, fuma charuto, canta e fode.
Os anões e os passarinhos
da Branca de Neve,
as abelhas
e até os viadinhos do Restart
ou do Back Street
Boys estapeiam a bunda
de lacraias e mocréias.
Borboletas e lambretas,
mexilhões bacalhaus e moreias,
besouros, o David
de Michelangelo,
as mariposa quando chega
o frio, o Arnesto e a praga
de gafanhotos no Egito, magina?
Bebel, Bebel, Bebel, tira o Ford da garagem. Adão e Eva,
apesar do vexame, esconderam no fundo
da mala uma marmita cheia de fruto proibido
Bebel, Bebel, Bebel, camarões em cativeiro?
o Cupido de gesso?
os pinguins de geladeira? as minhocas de jardim?
as baratas do banheiro? Ninguém tá à toa, Bebel.
Berlim, 1989.
No Berliner Mauer
uma picareta abre
um buraco no reboco,
o Congo Belga
já virou uma bagunça
e Mobutu, que não admitia
a dedada de maneira alguma,
foi pro sugestivo
cemitério de Rabat
vencido pelo câncer de próstata.
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