23 agosto 2011

A TORRE DE BEBEL - [INTERVALO COMERCIAL]

Intervalo Comercial Safado

por Vítor Queiroz


Bebel prende e arrebenta.

Fiódor Dostoiévski. Os Irmãs Karamatzov, 1879.




A Torre de Bebel

lied


Berlim, 1933.

No Zoologischer Garten

um chimpanzé

do Congo Belga

rifado numa feira

enfia o dedo no brioco

e cheira enquanto Adolph

Hitler toca o terror

no Reichstag.


Na Nova Zelândia

o canguru perneta

chupa o dedo na bolseta

e os urubus?

preferem fazer um ninho

bem quentinho

no olho do cu.


Bebel, do alto de suas tranças,

ajeita o bustiê, aperta

o espartilho e capricha no laquê.


Pra que serve

o esôfago das girafas?

é pra provar

que Lamarck estava certo,

pra mastigar alfafa

ou pra dar uma

de Marylin Manson?


Brontossauros

e mamutes nos seus poços

de piche vivem,

hoje, numa farra só

de Viagra guaraná catuaba

amendoim ostra e pó.


O urso do Cana-dá,

o califa de Bag-dá,

os reis do Su-dão

e o clã dos Tokugawa,

Bebel? furava

de um tudo no Japão

desde o tempo da vovó.


Bebel, do alto de sua torre,

borrifa perfume,

faz chapinha nas madeixas,


espirra numa nuvem de pó de arroz

e depila a axila

passando batom na boca e na bochecha.


Fulgêncio Batista

em Havana, os atletas russos

trucidados por Stálin,

a Senhorita Perón

fraquejando na sacada,

os restos mortais

de Getúlio Vargas

em São Borja, Júlio César

depois da facada

e os turistas chineses soterrados

no último terremoto

gastam tubos de vaselina.


Napoleão

trepou mais que chuchu

num cercadinho póstumo

e o cadáver etíope

de Vera Verão

ainda provoca protestos

entre os cristãos

das primeiras catacumbas.


Bebel, do alto de seus peitos fartos,

calça um sapato de salto,

estica a cinta-liga e passa talco na porta do fiofó.


Senadores romanos,

Maria Antonieta,

aquela que se amarrava

num negão

chamado Brioche,

Doutor Hélio, Dona Rosana,

Antônio e Cleópatra

renderam-se

às velhas corjas políticas,

viraram o inferno

do avesso,

e ainda posaram pra foto.


O tempora o mores!


Puritanos no Parlamento

inglês, o recruta

de cabeça raspada

que funga atrás

do sargento e a gorducha

que atrasa o aluguel

todo mês gemem mais fino

do que a Xuxa,

mas os padres do Vaticano

papam mais anjos

do que Maria

das Graças Meneghel.


Bebel, do alto de seu conto de fadas,

toma gim, fuma charuto, canta e fode.


Os anões e os passarinhos

da Branca de Neve,

as abelhas

e até os viadinhos do Restart

ou do Back Street

Boys estapeiam a bunda

de lacraias e mocréias.


Borboletas e lambretas,

mexilhões bacalhaus e moreias,

besouros, o David

de Michelangelo,

as mariposa quando chega

o frio, o Arnesto e a praga

de gafanhotos no Egito, magina?


Bebel, Bebel, Bebel, tira o Ford da garagem. Adão e Eva,

apesar do vexame, esconderam no fundo

da mala uma marmita cheia de fruto proibido


Bebel, Bebel, Bebel, camarões em cativeiro?

o Cupido de gesso?

os pinguins de geladeira? as minhocas de jardim?

as baratas do banheiro? Ninguém tá à toa, Bebel.


Berlim, 1989.

No Berliner Mauer

uma picareta abre

um buraco no reboco,

o Congo Belga

já virou uma bagunça

e Mobutu, que não admitia

a dedada de maneira alguma,

foi pro sugestivo

cemitério de Rabat

vencido pelo câncer de próstata.






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