28 setembro 2011

NORDESTINOS

NORDESTINOS

Por Cecilia Prada

Aqueles rostos que te olham, na estação Sumaré do Metrô. Eles irritam. Eles sujam a paisagem, estão lambuzados de umas letras pretas, dispersas. Parecem gritar. Não, não gritam - são rostos pétreos, fechados, sem palavras – muito menos gritos. Rostos transplantados da caatinga, encimando rosto magro escalavrado . Mas os olhos sim, te olham, fixos, verrumando – te cobrando, parece.

Eles personalizam a estação que seria banal. Eles são o nosso tempo, gritando da plataforma – enquanto passas no metrô subitamente emerso e por instantes atravessando, todo envidraçado, a paisagem do bairro verde. Um pintor transformou por encomenda o povo em fantasmas – é um povo que não combina com a estação preservada do Sumaré. O que vieram fazer aqui estas pessoas, a secretária encardida, o comerciário de olhos esbugalhados, o pedreiro louco que matou a família? Pichações a carvão na passividade intemporal dos vidros – se não fossem eles, o Sumaré visto daquele ângulo seria uma lembrança da paisagem humana e doce, na memória de quem lembra o bairro ainda em construção, com o deslumbre daquelas casas e seus jardins – hoje, uma paisagem que vê passar um trem todo envidraçado, na sua gaiola.

Mas quando o trem mergulha novamente no ventre esfaimado da terra, olhas pela janela o muro do túnel, que te dá uma bofetada na cara com continuidade sádica mantida. E espantada vês que a galeria continua, de olhos esbugalhados e feições várias, te olhando – da História.

(Este povo de carantonhas, de encardimento e olhos esbugalhados, e letras dispersas cuspidas, não te larga, ele está ali, um memento mori para nos lembrar – ele diz “nós somos a cidade”- a multidão anônima, escura, de dentes ruins, a multidão que chamamos há sessenta anos para nos ajudar a acabar de construir a vila monstruosa.)

_____


27 setembro 2011

NOTÍCIA DE JORNAL- Joseph Hart Vaudeville #14

por Vítor Queiroz


Capítulo XXIV

“O “Respeitável Público” das Archibancadas”

ou, alternativamente “Scenas pitorescas de huma tragédia circense”.


“Barba inculta, chapéus desabados e cacetes alemtejanos; grupos de mascarados abichados, relambóreos, soltando uivos lúgubres de cães agoureiros; mulheres e homens simplóreos a correrem num desespero indômito para esguicharem-se mutuamente nos olhos e no nariz a bisnaga-relógio comprada meia hora antes; hum álacre odor nauseabundo, feito de mil cheiros diferentes, de essências avariadas e baratas; no ar, suspensa, huma poeira fina e infecta, que nos punha sombreados pardacentos e pegajosos no peitilho da camisa, nas mãos e no pescoço; no picadeiro seguiam-se acordes que rufavam em toscas pianolas as suas cançonetas impudentes e descabeladas, ao som das quaes desencaixilhavam-se do espartilho os quadris da creoulada em alce, pello braço dos seus adoradores de occasião, o tablado às escuras, desolava-se com a viuvez dos focos elétricos; o rumorejar indeciso da multidão daquelles pretensos Israelitas em Faran arrastando os pés no lenho maltrapilho, premindo-se, coçando-se nos grossos trapos da “lona” repugnante, comentando entre dentes as mil peripécias da paupérrima trupe de histriões; o guinchos dos baleiros e dos vendedores ambulantes; os “Me largue, seu!” das Ofélias enfarruscadas de fuligem, surpreendidas pelos D. Juans cobertos de barba de pau e sarrapilheira” [ ....... 7pt. ] , etc. e etc.





26 setembro 2011

HOMERO NO MÍNIMO

Por Guilherme Salla



Sabe aquele
poema longo,
derramado
e caudaloso,
extenso
e demorado,
feito leito
fluvial
encharcado
de alma e coração?
Não.


.

25 setembro 2011

O PROFESSOR

Por - Igor H. Tomiatti

Aqui em Curitiba tem um professor de português que usa das músicas populares como método de aprendizagem.
Com mesmo ritmo e mesmos acordes, com as letras modificadas em que diz algo sobre sua matéria. Curtam a música, leitores hipócritas.



De - Professor João Amálio Ribas

22 setembro 2011

A MOSCA

Por Marcelo Finholdt


Moscas são donas imundas,
Não se incomodam com nada,
Mesmo se estão moribundas
Maçam até... amassadas.


A MOSCA (Menção Honrosa - Categoria Nanovideo - agosto 2011 Marcelo Finholdt e Luis Augusto Lisboa - Vídeoartista)
Na cozinha foi assassinada a mosca, outras quinhentas apareceram para o velório.





21 setembro 2011

HAIGATOS



Haigatos


Sentado no banco
o gato finge
que é uma esfinge

Entre arranhões e lambidas
para cuidar de tanto gato
precisarei de sete vidas

Nossa relação é quente
Toda noite na cama
um gato entre a gente

Deitado no chão
o gato se espalha
por toda a casa

O gato ronrona
Com meu sono
ele pega carona


20 setembro 2011

ALMA DE GRAXA

FOTO: Por Ju Ramasini [Sr. Olídio Reyner, a quem dedico*]


ALMA DE GRAXA


Por Marco A. de Araújo Bueno



Antigamente, ele trabalhava na fábrica depois ia... me levar flores



[Da série MICROCONTOS À PRIMAVERA]


* Olídio foi quarto-zagueirão, é tricolor apaixonado e cultiva orquídeas além

de criar (credenciado pelo IBAMA) canários do Reino; Reino, aliás, é como o

cartório de registro civil grafou o nome dele, que se aposentou como um dos

mais credenciados lavadores de jazigos da cidade de Valinhos, do Adoniran.


18 setembro 2011

O ENIGMA DO CHUVEIRO

Por Luana McCain

- É aqui que vamos ficar? - eu disse, meio desanimada.
- É só por esta noite, gata - afirmou o idiota do meu namorado.

Eric estacionou o carro próximo de uma árvore sinistramente colossal. Caminhamos alguns metros até toparmos com um portal velho. Uma batida foi o suficiente para que alguém nos atendesse. Eu esperava qualquer pessoa, menos uma velha corcunda. Convidou-nos para entrar. E por incrível, havia mais quatro casais no hall.

Não sou do tipo que curte descrição, mas essa pousada tem um quê de horripilante, equipara-se à mansão da família Adams. Pegamos um quarto do último andar. Demorou alguns minutos para acomodar-nos no tal quarto.

- Não acredito que é aqui que vamos dormir - eu resmunguei.
- Ah, amor, só por hoje. Seria foda se a gente fizesse um sexo selvagem nessa caminha - Eric veio me beijando, mas me desvencilhei e me dirigi à janela, que por sinal tinha vista para os fundos... opa! o que são aquelas lápides lá embaixo? - perguntei-me, espantada, e agora percebi que suava pelas têmporas.
- Vou tomar banho. Tô com o corpo grudando. Cê não vem, amor?
- Eu vou primeiro.
- Cê é quem sabe - ele deitou-se na cama, alongando o corpo, pois a viagem foi longa.

Liguei o chuveiro e me impressionei pela água branquinha que caia diante de mim, uma vez que em pousadas velhas seria mais provável as caixas d'águas expulsarem águas de uma coloração amarronzada. Pois bem, eu tomava banho com o kit de banho que eu havia trazido na mala quando...

- Meu... Deus... - foram as únicas palavras que consegui exprimir ao ver o Eric na minha frente, pois eu tinha certeza que tranquei a porta do banheiro.

Era ele, só que se encontrava de um jeito... Ai! Eric tinha a mangueira do chuveiro cravada no olho direito, atravessando a nuca. O corpo dele descaiu, num baque surdo. Corri à porta, desesperadamente. Apertei a maçaneta. Fiz movimentos pesados nela. E nada de abrir. Martelei a porta com os pulsos.

Socorro!
Sobressalto.
Escutei um barulho às minhas costas.

Esse barulho era da mangueira se desenterrando da cabeça do Eric... E, sobrenaturalmente, ela serpenteou no ar. Veio com extrema violência na minha direção.

17 setembro 2011

DESABAFO DE ONÇA ÀS VARAS CURTAS



Frases soltas de gente despreparada em terreno mui fecundo só prolifera a mixórdia. São tais risadas e calças frouxas, incomodam, deslocam corpos por tamanha impropriedade. Há quem escreva como fale, transcrevendo ruídos de gases com sua maneira de pensar flatulenta. Emitem tolices. Cultivam toletes em forma de miolos. Pior também o zumbi que se pronuncia humano e ainda se farta desses cérebros alheios, sem se darem conta do mau-cheiro exalado por suas bocas após a comunhão com o escarrado, resvalado naquelas ideias de baixo calão, de baixar calção e obrar burras histórias. Influenciáveis por superfluidades. Estas pessoas sem senso deveriam nascer sem palavras ou, sob tortura, costurarem-lhe os lábios!

Por tantas ligações erradas, sotaques forçados, gritos de menino mal-criado por mães obtusas, por tanto gemido perdido dentro de falsos orgasmos, assobios de homens trabalhando alienados, histerismos de desamados, desafinos de desalmados, latidos de cães mal-tratados por donos em descalabro, acendam os candelabros, leiam e se calem, façam-me o favor!

14 setembro 2011

PONTO

ARQUIVO PESSOAL


PONTO

Por Cecília Prada

Era uma vez uma mulher. Uma mulher cansada. Uma mulher aos pedaços - sua fragilidade. Uma mulher que procurava um ponto. No universo. Todos os dias, todas as manhãs, quando acordava, ela dizia: eu tenho de encontrar. O ponto. O ponto no universo. Todas as noites, moída, dava um suspiro - não encontrara o ponto. O seu ponto - perdida no universo.

(Que não era o Ponto G - direi desde logo. Que esse foi declarado introuvable no último Congresso (francês) de Sexologia).

Me direis, nesta história um tanto estranha - mas ela procurava esse ponto, fosse lá qual fosse, seu dia-inteiro, suas mil-horas? Procurava para valer? Remexia armários, esvaziava panelas, desarrumava as malas guardadas no pó dos anos, desventrava gavetas - dos móveis e do Ser? Olhava bem embaixo do sofá, da geladeira, arejava tapetes e almofadas, forcejava portas emperradas, janelas que nunca dantes...?

E saía por aí, procurando?

Ou será que o que ela queria era uma alavanca? Isso, então, “me dêem um ponto de apoio e uma alavanca e eu...”

Sim, talvez fosse isso - mulher pretensiosa. Demais mesmo. Desde menina, seus mil remexeres discussões brigas, teimosa querendo olhar em baixo de todas as coisas do mundo, camas, lençóis, pastas, livros, comendas, certificados, músicas. Pessoas - ela sempre olhava debaixo e por dentro das pessoas suas milfolhas despetaladas, ah! que menina enxerida, mesmo.

(Queria mesmo conhecer o segredo da matéria? O dia mês e ano do aniversário do universo?)

Então, um dia, ela sentiu uma pontada. Não sei bem se foi no fígado ou na consciência.

Era o ponto, cutucando-a por dentro.

(e aí, no sem-mais, ela morreu por causa de uma pontada sem eira nem beira que havia aportado ali, no seu corpo de mulher - e que, ora essa! era só um ponto final : nesta história.)


13 setembro 2011

JOSEP HART VAUDEVILLE 13


por Vítor Queiroz

Brocou, Maria Amélia [ ........... 11pt. ] Bebel, hum? Bebel esculacha. Prosa estapafúrdia? Quebra canecos.

Bengalada nas costas da esposa, vergão no nervo da coxa do marido. Bebel bota pra fuder. O Anão tomou um tiro no último capítulo, foi? Caspita! um pé de verso ficaria tranquilo nesta hora de aflição?

Bebel, o anjo torto de toda novela, escalpela. Bebel arrasa, um Etna fumegante, o chão, sobranceiro de brasas.

Bebel rasga as página, terremoto no Japão. Bebel, furacão no delta do Mississipi, emenda os feriadão.


* * *


NOS CAPÍTULOS ANTERIORES [ ................. 17pt. ] não, porra nenhuma, Valtinho. Basta de enrolação, nada de capítulos anteriores. O circo ta pegando fogo, hôme.

Bora aboletar os cotovelos todos no camarote pra ver é o pau quebrando. Na boca do espetáculo. Bang, bang... tábuas frinchadas de horror. Achtung!


Capítulo XXIII

Respeitável Público


Bum, bang... é o bumbo dos histriões. Pancada surda. Baqueta trêmula na pele estirada. O anão tomou um tiro na nuca.

Bebel vaiou, a plateia vai abaixo. Zé Bregal, professor da Academida de Dublês, tentou dar uma camablhota. Nada. Produção! Produção!, um palhaço descabelado berra. Nada.

Bebel [ . 1pt. ] o Capeta romântico, apressa o turnaround de qualquer folhetim, Maria Amélia.

Bando de sádicos! a equilibrista bicéfala chorava. Nada. Plateia terrível, canícula! o público bate palma achando que, para o bufo, a tragédia final é fingimento, apenasmente.

O húngaro do monocilo:

tentou, em vão, segurar os pulsos do negro, do pianista. Mãos enormes, uma delas tocando uma valsa diabólica a outra puxando o misterioso caixote.

Perna fina, as panturilhas de Fleurette fizeram de tudo para embasbacar os trouxas. O cadáver do anão foi puxado.

Bum, bang... é o bumbo dos histriões. Frank? Frank?

Joseph Hart chamou, nos anéis, nos dedos, as manchas. Ódio. Bruta poça no chão. Vermelha.

Frank dá cambalhotas debaixo das patas de um elefante acorrentado. Enfurecido, mas acorrentado. Fluerette vai para a sua direita, esquerda, direita [ ....... 7pt. ] um pas-de-deux, magina.

Bravo! um rufião esmurrando a arquibancada. Gostosa, um moleque cospe e assovia.

Henri French, ora ora, aparece topetudo. “QUEM MATOU MARIA HELENA?” levanta um cartaz. Abominável. O público esfria.

Matronas chorosas, crianças ranhentas, tabaréus quadriculados. O público esfria, o público fareja a tragédia, uma moça da plateia abre o berreiro e então...


NÃO PERCA! NA TERÇA-FEIRA, 27 DE SETEMBRO, O SHOW TERMINARÁ.

O QUE HÁ ATRÁS DAS CORTINAS? ÓDIO. VOCÊ NÃO PERDE POR ESPERAR...




12 setembro 2011

TATO É TUDO





Mimeógrafo nos olhos
e nas mãos dedos fotógrafos
das minhas próprias letras.

Repito-me e repito
A vontade de falar
O novo.

Repito-me e repito
e sou o meu próprio ovo
amparado nas mãos que detêm calor,
mas não a paciência de me ver
choco.


.

11 setembro 2011

ENCONTRO DE LITERATURA

Paulo Venturelli e jornalista da Rascunho: Literatura como
"resistência". FOTO Por - Ju Ramasini
Álvaro Posselt, Homero Gomes, Marco A.de A.Bueno e eu
FOTO Por - Ju Ramasini



Por- Igor H. Tomiatti

Olá sou o novo integrante do blog De Chaleira.
No dia 05/09 estive no Teatro Paiol em Curitiba na companhia de meus amigos Marco A. de Araújo Bueno, Álvaro Posselt e Isabel Furini para o encontro de literatura com o palestrante Paulo Venturelli.
Conhecemos a história deste escritor e sua dedicação em seus livros publicados, além disso Venturelli argumentou sobre a integração da literatura com a tecnologia, a qual está se intensificando, através de tablets com o aplicativo Ebook que compactam os livros sem a necessidade de grande espaço para guardar obras impressas, como é o caso de bibliotecas.
É, realmente a tecnologia está se integrando cada vez mais com o aprendizado e a literatura.

10 setembro 2011

MELANCOLIA

Melancolia é o último filme do diretor dinamarquês Lars Von Trier, mais um exemplar da sua fase depressiva, como o próprio admite, começada em Anticristo. Ainda a deixar na espera a conclusão da trilogia de Grace, começada com Dogville, seguida de Manderlay, e supostamente a ser concluída em Wasington. Melancolia nos traz um amalgama desse estado depressivo que dá nome ao filme, um amalgama tanto nas inspirações narrativas, como nas referências, sendo músicas, Wagner, ou reproduções de quadros, Ophelia. O filme é dividido em três partes. Começamos com uma seqüência reminiscente do final do 2001 de Kubrick, só que com seu exato oposto, em vez da chegada da vida, da possibilidade, após toda a melancolia do filme, temos a chegada da morte, da total entrega ao nulo, ou a total entrega ao desespero que pode o anteceder. É o destaque do filme, com suas tomadas em câmera lenta e efeitos. Câmeras lentas a capturar o abismo que afunda o tempo durante um estado de depressão, com seus segundos que se tornam milênios a transformar todo o cenário e a vida neste presente num amalgama embaçado, sem definição, sem sentido, sem propósito. Na segunda parte, temos algo que só pode ser uma adaptação de Os Vivos e os Mortos de Joyce. Narrando um jantar de casamento de uma classe alta ociosa e sem direção, afundada na confusão de valores e aparências que não lhes dizem nada. A depressão causada por ter de sempre estar sorridente, quando nada leva a isso, quando mesmo no roteiro tudo estando perfeito, ainda falta algo, ainda há um imenso e gigantesco vazio, um buraco negro a tragar no seu campo gravitacional o planeta chamado melancolia. Na terceira parte temos a melancolia em si, a pura entrega a ela, tanto num absoluto estagnar, numa absoluta imobilidade, por alguém que a conhece, e a ela pertence, tanto em um de seus reflexos, o medo de quem a ela não quer pertencer, pois não entende que já é dela, o desespero. Em suma, o filme é um elogio a depressão. Se você gosta dela, esse pode ser um filme para você. Ainda prefiro o herói moderno, determinado e com um objetivo definido, encontrado na saga de Grace.

08 setembro 2011

7 DE 7EMBRO



(Dedicado a uma pseudo - pátria)

Minha terra tem asneiras;
Jegues, trouxas, parvos, mulas,
Bicho gente, gente forte,
Que sequer sabe o que é bula!

Minha terra tem maneiras;
Aviões, portos e mares,
Muitos fortes vão embora,
Respirar por outros ares.

Minha terra tem peneiras;
Não passamos entre os fios,
Alguns passam livremente,
Este é o nosso desafio!

07 setembro 2011

CORRA, FORREST GUMP !

Corra, Forrest Gump!




Fundos da escola, a bolinha é de papelão e as bases são de lata de alumínio. A correria levanta poeira.
Na calçada fria está sentado o menino, que aplaude e ri vendo seus amiguinhos jogarem bete-ombro com as muletas dele.


06 setembro 2011

VOVÓ ZUMBI

Vovó Zumbi

Por Luana Maccain*

(interinamente à coluna FOLHETHIN - Vitor Queiroz)


Era hora de dormir. Eu e meus irmãos tivemos um dia muuuuuito agitado. Primeiro, vovó levou a gente no parque de diversões. Depois, no cinema. Assistimos Um dia com a vovó zumbi. Por mais que o titulo fosse aaaaaaaassustador, o filme era de aventura.

- Meus amores, já está na hora de dormir.

- Vovó, a gente vai embora amanhã... não queria... foi legal passar as férias aqui – disse meu irmão do meio, com aquela vozinha de sempre.

- Eu também – os olhos da minha irmãzinha se encheram de lágrimas.

Revirei os olhos.

- Vovó, antes de dormir, eu posso comer aquele bolo de nozes que cê fez hoje de manhã?

Ela fez uma cara pensativa. Segundos depois, falou com aquela calmaria de sempre:

- Hmmm não, não pode. Você acabou de escovar os dentes.

- Mas...

- Na na ni na não.

- Vovó, quero água – disse meu irmão do meio.

- E eu tô com sede – falou minha irmãzinha.

- Venham. Eu levo vocês.

E eles foram. Só eu fiquei no quarto.

Dez minutos depois.

E a casa estava um puro silêncio. Senti uma intensa vontade de descer na cozinha e ver o que os três estavam fazendo. Era sempre assim: vovó realizava os desejos daquelas malinhas e eu sempre ficava de fora.

Fui pra cozinha, quietinho da silva. Eu queria pegar eles de surpresa. Um passo. Dois passos. Três... e na porta da cozinha estava minha irmãzinha de cócoras e cabeça baixa. Eu cutuquei ela e nenhuma resposta. Peguei ela pelos cabelos e enoooooooooooooorme foi o meu susto, eu vi ela sem os olhos e a sua língua caiu nos meus pés.

Dei um pulo pra trás. Eu queria chorar, mas não conseguia. Virei pra cozinha e meu irmão estava diante da pia comendo o bolo de nozes, mas atrás dele estava a vovó, com uns dentes-monstros, super afiados, pronto pra abocanhar a cabeça dele.


05 setembro 2011

TPM - ESPECIAL DE CURITIBA

FOTO - Por Pamela Catarina Tomiatti

Hoje, cinco de Setembro, em Curitiba e ciceroneado por Álvaro Posselti e Isabel Furini (respectivamente - colunista e ex-colunista do De Chaleira) e, ao encontro do amigo do blogue Homero Gomes (todos curitibanos) para tratativas ao "FRAGMENTÁLIA - Festival Nacional de Microcontos - agradeço a lúdica acolhida com...um micro de dez palavras:


TPM

'Tá pá me vim; vai que me vem - já era!'




04 setembro 2011

Crucifixo

Por Felipe Modenese

Torturando entre o desejo e o amor, Ademir perambula em sua jaula de carne e osso, escravo de seus impulsos de bondade e refém de sua bestialidade. Nada parece límpido e tudo exige sangue, sendo cada passo merecedor de padecimento.

Ademir raspa a aspereza do concreto em acordes sem sabor, tendo no ombro dependurada sua pasta detentora de conhecimento. O acumulado de megabits enverniza o ego e exorciza qualquer chance de sentir-se só. Ele caminha pelas pústulas do dia e deglute pulsos de prazer sensorial em megahertz. Fala do alto de seu crucifixo em forma de pele e vísceras.

No pulso esquerdo, como cravo, está o tempo, e no direito, a pulseira amarela de solidariedade com as crianças do Sudão. Na cabeça, o penteado disforme espeta sua singularidade fazendo gotejar pelo ralo o sumo cítrico de sua essência. Entra no elevador e sobe ao décimo andar.

Ao lado direito fica o escritório contábil e, do outro, sua massagista erótica predileta. Ele sai do elevador e, esquartejado, ajoelha-se pedindo clemência à sua carne e ao seu espírito. Abre os braços e mergulha no abismo entre seu amor e o desejo.


03 setembro 2011

TESTANDO


É só isso?E esses linques* todos que estou preparando para minha estréia - quê que eu faço?



* Serão podcasts breves da palestra do escritor Paulo Venturelli no Teatro Paiol, aqui, em Curitiba, no mesmo dia em que fui convidado pelo Marco a assumir a coluna TOMITEC; eu
escolhi umas fotos também, da ex-Chaleira Isabel Furini (que me presenteou com um livro - legal, professora!), do Marco conversando com o escritor Homero Gomes ( Sandrinni também) e do Álvaro Posselt, ao lado de quem me sentei no Bistrô e que foi muito bacana comigo. Eu me comprometo a rechear minha coluna com informação+conhecimento ligado às novas tecnologias (e-books, lançamentos, tabletes já beneficiados com impostos baixinhos;(vou cobrar!) e - sempre - tendo a Literatura como pano de fundo. Escreverei quinzenalmente aos Domingos, revezando com o Felipe Modenese. Hoje é tipo uma palhinha do que está NA PONTA DA AGULHA, para quem acha que sou um nerd infanto-juvenil.


02 setembro 2011

BORALÁ



Vamos abstrair, sem trair a gente.
Vamos abrir o mar de Moisés com os pés sujos sobre a água.
Lavar a cara com mentiras deslavadas até enferrujar corrente.
Nadar contra nada, só a favor dessa cantiga, em 'la-ra-la-rás'.
Deixar a vida levar para onde der, vier e doer na vista.
Vamos contrair o vírus da indecência e descontrair o sexo.
Amplexos ao luar são tão cheios de risco...

A tudo de insolúvel e solarável, proponho um brinde!

Corre, corre, vem me buscar dentro do nascente.
Arrebatar-me em estrada sem fim, para qualquer jardim mais oportuno.
Importunar o futuro, nós que vamos em frente.
Vamos a mim, vamos àquela que sente, e demais.
Vamos bancar o doido do mais louco dos ancestrais.
Sem temor, medir o universo com um dedo mínimo.
Dar bolo no mundo, mordendo a Via Láctea inteira.
Ao falar fosforescências, cuspir estrelas de farinha.
Acordarmos em sono profundo feito alcoviteiras do passado.
Mover moínhos, para não remoer o tempo todo.
Remover da fé o lodo que insiste em habitar montanhas.
Sermos o que se é, sem certo, nem ter errado.
Tecer arte e manhas um bocado...

Vem?

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