31 dezembro 2011

CARAS E BOCAS


TEXTO E ILUSTRAÇÃO: Paola Benevides




Piadas carecas: caretas
Sorrisos: 
ranger de dentes
Quem tem defeitos? Bem-feito!
Não vejo graça na desgraça duradoura alheia
Só porque tenho a cheia miopia dos esquizofrênicos
De mentes da rebeldia bebedoura
De psicodelismos rearsenais arsênicos

29 dezembro 2011

SENTIMENTOS E DESEJOS


Cantiga de Amigo
Por Marcelo Finholdt


Nesses campos, no cerrado
Procurei por meu amado,
Reclamei do fado dado.

Nesses montes, nas colinas
Procurei vocês meninas,
Reclamei do fado dado.

Reclamei do fado posto
C’oas meninas num desgosto
Reclamei do fado dado.

Reclamei do posto fado,
C’oas meninas pelo prado
Reclamei do fado dado.

28 dezembro 2011

27 dezembro 2011

O LANÇADOR

                              Instagram - Por Rafael Noris
O LANÇADOR


         Pensando em documentário, decerto não vira, mas tento que tento descrever como foi. Trata-se de substância sensível – a bola – com as angulosidades aconchegantes, pidonas de um bom petardo, de peito-do-pé e, é claro, de equivalências disso à ejaculação de um membro viril, calibroso e igualmente teso.
         (Sempre meiocampista, via e batia de longe – cálculos precisos e patadas certeiras – lançamentos ambiciosos; o preto no branco no que fosse da defesa. Engenho e arte quando o time avança e me cabe criar.)
         Agora me cabe criar, por exemplo, preencher lacunas (de memória e outras substâncias sensíveis) com ficção, pois me falta todo tipo de registro outro que não seja este descrever, para fazer virar real. E só vira se fizer valer a memória do pé, suas inflexões de corpo. Calos são documentos e eu tenho um calo-artilheiro .
        (Meiocampinta, era eu quem fazia câimbras no nervo ótico da torcida, torcida de várzea, mas minhas inversões de rumo no campo, da extrema direita à ponta-esquerda, faziam diástoles, prendiam respiração.)
       Para criar tecido narrado aqui, sobre futebol de campo (campo de várzea) farei inversões sim, mas não terei, jamais, atrasado a bola ao gol ou penado a bola, que não é inimiga (‘como o touro numa corrida’), mas, -sobretudo, - é mister, diria o João Cabral que, não obstante não me ter visto em proezas, falamos a língua dos tendões e nervaturas do pé.
       A bolota do calo do pé, por vezes e sempre que solicitada (numa falta, por exemplo) vira a testa que cabeceia sim-senhor, mensura a Lei da Gravidade, opera equivalências newtonianas; faz o diabo.)
      Naquele dia-dos-pais, no colégio onde meninos levavam seus pais a praticar esportes coletivos, eu postei o meu embaixo do travessão e entre os dois paus das traves. Então tomei distância de meio-campo e bati com o calo-artilheiro, calibrado. A bola subiu linhaça e desceu projétil bem na testa do filho-do-mãe do meu filho, que desmaiou-se. Eu o tenho salvo da dor.
         


25 dezembro 2011

PAPAI-NOEL

Papai - Noel


         Meia-noite.
         O sono não vem. É natal. Hora dos presentes? Mas sou velha para isso.

          - Marta! Marta! Vem cá!
          - O que é, paspalho!?
          - Vem ver! A chaminéééééé!

          Saí do quarto com toda raiva do mundo. Sabe, aquela raiva típica de adolescente. Eu queria apenas ficar deitada e ver as horas passarem.

          - Então? - eu quase gritei, do vão da porta da sala.
          - Oh...

           O paspalho olhava para chaminé como se ali estivessem os carros da Montaun. Estralei os dedos, mas isso não tirava ele de sua hipnose súbita. Então me aproximei.

            - Psiu. Vem. Volta para cama. Não quero encrenca com os pais.
            - Ouvi... um... barul... vind... daí...
            - Ahhh! Você só pode estar brincando! Devem ser os gatos. Aqui não são os Estados Unidos para que o papai noel apareça na chaminé – eu falei, dando de ombros para isso.

           No momento em que eu ir dar as costas ao paspalho e voltar ao meu refúgio, da janela vi uma neblina densa rodeando a casa e um fio dessa neblina entrava pelas frestas. De repente, algo caiu do telhado, deixando meu coração aos
pulos. O que tinha sido? Não estava nem um pouco a fim de descobrir.
           Um xiiiii me fez voltar pro paspalho.

           - O que você está fazend...? - eu fiz cara de poucos amigos. - Por que fez xixi?

            Os dedos dele tremiam, aliás, o corpo todo tremia. De onde eu estava, não sabia se ele tremia de emoção ou de medo. Um som indistinguível rasgava o ar. Um cheiro de sereno invadiu a sala. E meio minuto depois de escutar o
som, vi uma bota enxarcada de sangue sendo cuspida da chaminé. Será que era o papai... noel?
             Eu e meu irmão ficamos abraçados por um breve momento.

            - Quem é você? - foi só o que eu consegui dizer, pois meu corpo não respondia ao meu estímulo de fugir dali.

24 dezembro 2011

THE COCA-COLA MAN

Feliz Natal! Dia do nascimento do deus sol! Sacrifiquem um bom boi, ou virgem em seu nome! O natal como é conhecido hoje em dia é o produto do amalgama de conceitos desenvolvidos por publicitários americanos. Tendo como herói, o vendedor da coca-cola (ex-traficante de escravos, pelo menos na Alemanha), e como narrativa mítica, milhares de filmes a criar uma aura de época de compras, de dar presentes, geralmente impessoais e inúteis. O importante é gastar em algo, em um presente, ou num enfeite de casa - com muito gasto de eletricidade -, ou num evento social com muita comida, bebida e esquecimento. 

Coca-Cola Man, um dos primeiros super-heróis do cinema, maior até que o Super-homem ou o Michael Jackson, e serve para domesticar milhares de crianças desde o início de suas vidas em seres míticos sem origem e sem responsabilidades que podem surgir do nada e tudo resolver. E quando essas crianças crescem a mágica não se perde, pois vira uma época para se dizer: tudo está bem, tudo está bem e olhe o que estou pagando para provar isso!

Então, lá vem o Coca-Cola Man! Drink it, eat it, fuck it!

23 dezembro 2011

POETAR

Poetar


Apenas me aventurando
Atrevendo-me
Como quem diz ao mundo
Tudo é possível

Poetar
Compor
Dissimular
Transliterar

O vivido em palavras
Os sonhos em versos
As aspirações em letras
As tristezas no re...verso

Poetar
Traduzir
Driblar
Confabular

Com palavras sonhar
E ao mundo conclamar
Humanos: Realizai!







22 dezembro 2011

INUTILIDADE E ENCANTO

Inutilidade e encanto

Por Vivian Marina

O inútil do encanto e o encanto do inútil. As reciprocidades nem sempre funcionam bem, nesse caso, entre o inútil e o encanto, arrebatam-se composições flutuantes. O que é (in)útil transmuda e aquilo que se pretende adjetivar persiste corda bamba. Os encantamentos são amores-perfeitos que florescem e murcham e pintam como se fossem explosões de cores pelos ares...
Se resolverem perguntar pelas intensidades, sua resposta poderia ser algo bem perto de: "diz que fui por aí" espalhando potências. Por isso a disfunção do ida e volta, do vice e versa. Os vãos do afetar e ser afetado faz com que pululem tais recíprocos. Aquilo que agarra e faz com que haja envolvimento difere daquilo que solta e deixa ir.
Atrações que se atrevem a atravessar corpos de palavras. Travessas que compõem a mesa preenchidas de alimentos variados, passados de mãos em mãos saciando a fome. Travessas crianças que sapecam e traquinam brinquedos brincantes. Travessas escuras que metem medo e claras que convidam a passar entre uma rua e outra.
Feitiços vacilantes de tantos (a)travessamentos. E "Com açúcar, com afeto", passadiços e êxtases perseguem-se as sutilezas que as palavras podem maquinar.

21 dezembro 2011

TRILHAS DA MADRUGADA

“Na noite escura da alma são sempre
três horas da manhã.” - Scott Fitzgerald

Por Cecília Prada



Três horas da madrugada era coisa que nem existia,de tão linda. Só numa valsa. Três horas da madru-ga-a-da...que minha mãe tocava naquele piano convencido, alemão, com nome de saponáceo, Sponagel, que ficava guardado na sala de visitas que era outra coisa inexistente de tão linda e tão guardada, coisas só-de-vez-em-quando, esse aprendizado, havia as coisas todo-dia e as coisas só-de-vez-em-quando – que eram as que eu queria, e que não me deixavam. As teclas brilhantes do alemaozão antipático e convencido, que eu não podia tocar, só minha mãe, “só quando você aprender a tocar”, e ela tocava, cabeça inclinada para o lado, as horas da madrugada – que era coisa com gosto de proibido, porque horas da madrugada eram coisa de homem,só os homens saiam de noite, sozinhos, de madrugada, eram senhores da noite e dos mistérios, a rua, era dos homens, as mulheres rezavam iam para a cama dormiam e acordavam para fazer as tarefas da casa e só quando acabavam o trabalho é que podiam também ter seu segredo: abrir a sala de visitas, abrir a tampa do piano esponagado, com cuidado retirar o feltro bordado que cobria as teclas, escolher a partitura, as três horas da madrugada perdiam seu mistério, não eram coisa escura de homens, eram também coisa de mulher, ali, permitidas, parecia, me diziam “há gente que gosta do escuro e do vazio das ruas de madrugada, gente que não tem medo da noite (e o apito do guarda noturno , se enfiando nos ossos da gente, parecia)” –aquelas mulheres entrevistas em um cartaz de cinema de um filme que nunca se veria, que alguma tia contava, a meio, aludia, a atriz francesa, Michelle Morgan, no Cais de sombras...elegante, olhar provocante, encostada em um poste e fumando, uma das pernas levantada e um pedaço de perna aparecendo na fenda da saia, ah!

Os tentadores mistérios do mundo exterior. Em cada partitura, em cada valsa,um mistério. Tardes em Lindoya – onde seria esse lugar tão longe, Lindoya com y, que de tão lindo tinha merecido música também, ah! Mas havia as coisas do medo, também, Os heróis do túnel – a capa da partitura já dava medo, eu não gostava de olhar, o túnel feio, escuro, de boca escancarada para comer gente, e o soldadinho na frente dele, baioneta empunhada, de cara que era um grito de agonia só...Mãe, o que é isso ?, é do tempo da Revolução, uma batalha que houve no Túnel da Mantiqueira, ficou famosa, na divisa de Minas, os mineiros e os getulistas mataram os paulistas. Eu nem pegava na partitura, de tanto medo, era coisa muito feia, eu era paulista e eles podiam vir me matar. Nunca me lembrei de uma só nota dessa música.

São Paulo no final dos anos 30 – mergulhado ainda na Revolução. No ressentimento. Falava-se em sussurros, parecia – frases persistentes nas conversas dos adultos, São Paulo foi traído, mandaram os moços para as trincheiras, os políticos fizeram acordo. A revolução era uma ferida aberta, nas famílias, relíquias,um capacete dependurado na parede na casa da avó materna, um bandeira enrolada numa gaveta, amortalhada, o que está mexendo ai,menina? - a bandeira paulista das treze listas que o Getulio mandara queimar.

Tempo de comitês, de senhoras de tailleur e chapéu de feltro enterrado na cabeça, discursos que se inflamavam enquanto eu, a única criança levada a tais lugares - quais eram esses lugares? um deles, de certeza, era o Centro do Professorado Paulista - arregalava um olhão, não entendia nada, sabia só que devia ser aquela coisa de muito medo, coisa feia, Os heróis do Túnel, o soldadinho de baioneta, o medo quando o trem da Bragantina que soltava brasa por tudo quanto é lado entrava no túnel – então, agora, vinham os mineiros, vinham os cariocas, vinha o Getúlio matar todos os paulistas do trem?

O medo: era cinzento, cor de fumaça, cor de neblina, era uma coisa visguenta vindo,se colando nos ossos da gente.

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(*) (De um romance autobiográfico, inédito)


20 dezembro 2011

BO, A TRADUÇÃO DA TRADUÇÃO



RECAPITULA TUDO, ORDINÁRIA

Bueno, nos últimos capítulo, num turbilhão de ouropéis, orientalismos de fachada e negro spirituals do sul dos EUA, a narrativa a trama o enredão feriu pela primeira vez a barra do seu tecido esgarçado, o buraco de suas agulhas.
Quando, entretanto.
Musa, o profeta muçulmano, numa noite do Cairo medieval fazia o que mesmo? e o Moses dos escravos batistas duma plantation do Velho Sul?

Baque da roca [ .............. 14pt. ] no treque trebeque do fuso, o negro e o árabe, seguia(m) as passadas dos primeiros versículos do capítulo 3 do Êxodo, o Shemot hebraico.
Para amarrar bem amarradinho o fio da meada nos entremeios, bora traduzir o trecho, então?

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TRADUÇÃO
DOS VERSÍCULOS CITADOS ATÉ AGORA

e apascentava Moshê o rebanho de Yitro seu sogro sacerdote em Madiã e levou o rebanho para trás do deserto e chegou até o Horeb o monte de Deus e o anjo de IHVH apareceu numa chama de fogo do meio de uma sarça e olhou e eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se queimava e Moshê disse darei uma volta e verei essa estranha visão verei por que a sarça não se queima

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Bueno, para quem não curtiu essa versão tão próxima do hebraico bíblico avec repetições, without pontuações de qualquer espécie, sem vocabulário precioso nem pronomes de tratamento chiques preparei mais duas versões.
A primeira tem versículos, uma adição posterior e artificial e os nomes aportuguesados:

e apascentava Moisés o rebanho de Jetro seu sogro sacerdote em Madiã e levou o rebanho para trás do deserto e chegou até o Horebe o monte de Deus
e o anjo de IHVH apareceu numa chama de fogo do meio de uma sarça e olhou e eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se queimava
e Moisés disse darei uma volta e verei essa estranha visão, verei por que a sarça não se queima

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A segunda tem o selo “tradição, família e propriedade”. Pontuação, vocabulário pomposo, orientalismos espúrios e sintaxe latina:

Apascentava Moisés o rebanho de Jetro alto sacerdote de Madiã e pai de sua esposa. Um dia, conduzindo as ovelhas para a outra banda do deserto, Moisés viu-se aos pés do Horebe, que é a montanha do Senhor.
Numa gruta, no meio das penhas, um Anjo flamante do Altíssimo apareceu entre as brasas de um fogo no meio de um arbusto. Moisés olhou-o e eis que a sarça ardia. No entanto, não consumia-se ainda o lenho seu.
Disse Moisés: “Aproximar-me-ei para ver de perto este estranho fenômeno, este espetáculo extraordinário e então saberei por que o espinheiro não consumiu-se ainda.”





LEITOR CRISTÃO, MUÇULMANO, JUDEU, ATEU, CONFUCIONISTA, TAOÍSTA, BUDISTA, HINDÚ OU AGNÓSTICO... NÃO PERCA!
NA PRIMEIRA TERÇA-FEIRA DO ANO QUE VEM A RODA RODARÁ E O FUSO FUSARÁ.
É NÓIS NAS FRITAS. FELIZ PERU DE NATAL E UMA PRÓSPERA BATIDINHA DE CÔCO.



19 dezembro 2011

POETA QUE LADRA

por Guilherme Salla


Um poema me escapou
da coleira e mordeu
o carteiro.

Mas poeta,
onde está a focinheira
dos teus versos,
pensas que poema é borboleta?

Castra tuas estrofes,
mete uma antitetânica,
pois a raiva
é uma rima
que rosna espuma
nos cantos da boca.

Tranca este metro no canil,
sacrifica este poema
antes que ele ataque
o teu leitor.

Poema que late.




.

17 dezembro 2011

TORTURA CHINESA



Por: Paola Benevides


Por hora, não às cinco, quero servir um chá-mata-leão a quem me não é dileto, leitor. Papo reto e firme. Não porei leite ou respingarei limão, vai sem açúcar nem afeto mesmo. Veneno, talvez, goela abaixo. Adoçantes ficam para quem não soube optar pelo mel, felando a vida com gosto, queixando-se por obter nenhum gozo, porém, e nenhum papel. Aos paga-paus, proporcionarei um quente no meio dos beiços, a arrancar pedaços enquanto chuparem o bico da chaleira materna. As caras ficarão vermelhas, de medo, menstruarão. 


Acrescentarei ácido murmuriático aos ouvidos desses canalhas também, vociferando baixinho suas podres verdades, aí sim apitarão fumaça feito panelas pérfidas na hora da fervida pelos buracos da audição:
- O que houve? 
- Ouvi nada não! 
- Muito bem, diga que o chamei ao ritual do chá vestindo uma japona, assim não desconfiarão.
 茶の湯...


Chaleirada na cabeça dos que não tem nada dentro! Evaporada. Leva porrada no olho, que mira todo roxo de brincar de tiro-às-pálpebras com torrão e torradas. Ficarão cegos e coxos, mudos e moucos. Só não ficarão mais loucos por falta de mérito, pois hospitaleiros são os hospícios; sob os auspícios deles é que a sanidade não será posta em uma xícara de chão.


14 dezembro 2011

MUNDO ANIMAL

MUNDO ANIMAL

Por Álvaro Posselt

O cachorro não para de latir.
- Pare com isso, Rex! - grita o marido.
- Isso é modo de falar? Não tá vendo que é o instinto dele?
- E é o meu também!


13 dezembro 2011

ESTALAÇÃO - COLETIVO DE-CHALEIRA SERÁ EDITADO E PUBLICADO NO 2012!


Quase neste Treze/Doze/do Onze (13-12-11 - Aniversário de 1 ano e 11 meses do coletivo De Chaleira!)
recebia boa nova: este coletivo de Literatura e Artes terá, em boa hora (no empós dois anos de interpolarização dos escaninhos virtuais dos escritores, ilustradores e críticos -inicialmente - da natimorta Revista RODA*, gesta do Sesc-Campinas (Alan Carline, Alexandre Toresan, Bia Pupim, Daniel Serrano, Eustáquio Gomes,  Guilherme Salla, João Antônio Bührer de Almeida, Luiz Contro, Marco A. de Araújo Bueno,  Maurício de Almeida, Rafael Noris, Thiago Alves) o De Chaleira (que ressurgiu das cinzas doutro coletivo para ferver (ideia de Ju Ramasini e estalar bolhas de tinta sobre papel pólem!) irá pra o prelo. Os que já estamos selecionando textos, imagens e entrevistas inéditas, estamos também ocupadíssimos com esse devir de literodiversidade. Nisto inclui-se Marcelo Finholdt (Barretos-SP), Paola Benevides (Fortaleza-CE), Wagner de Souza (Rio de Janeiro -RJ) e, mais tarde, - Antônio Gusta Fo (fronteira- ?), Daniel Matos (São Paulo -SP), Luciano Garcez (Rio de Janeiro - RJ) Cecília Prada ((Campinas- São Paulo), Rafael Carvalho (São Paulo -SP) e Luana Maccain (São Paulo - SP); fora (da faixa etária e do eixo SP-Rio, de Curitiba, o Igor Tomiatti, maturando...)  a estalarem a grandeza que nos tem sido a longevidade desta matriz inicial. Por ocupadíssimo e muito pensativo no que a especificidade da experiência do 'coletivo' na BLOGOSFERA, publico um pinçamento extraído de um livro ainda não editado ("Cabelo de Boneca Véia") sobre cujo teor fiz intervir, a convite do autor - o taxista e escritor - Rodrigo Rafael Ribeiro, alguma minimal lapidação, a que se brindasse com algo da substância da brevidade, da economia textual aliada à potência do pré-epifânico. Ei-lo:
                                                                       INSTAGRAM meu, - Por  Rafael Noris

                                                MONTERROSIANA*

 Por Marco A. de Araújo Bueno

                                                             * Dedico ao Haroldo, bom e afetuoso galo de rinha, do Alan, um nosso Chaleira histórico, ora em sabático, por cá.

 (...) Éramos aterrorizados por ele que corria atrás da gente, picando e esporando (gigantescas esporas) toda a molecada, o galo branco. O dono dele (...) - certa vez, o vizinho deparou-se com ele transando com seu porco de estimação, ['não o porco do galo brando, do vizinho'], assim, até hoje, seu apelido é "O Rei do Porco'! Depois do abuso sexual, o suíno sumiu. Já, o galo, não sei do final dele. Mas, conhecendo seu dono ['o dono do galo, não do porco'] (...) deve ter ido parar na panela ou pra cama, com ele! ['não do vizinho, mas deste que, uns oito anos mais velho, fez parte da minha infância. ['Não da minha, da do autor d'O Galo Branco].
                    CRÉDITOS? Ah...!


12 dezembro 2011

HOMOMATOPEIA

Por Rafael Noris

PLAFT!
cai a taça

é preciso juntar
c    d       c    q    i     h
   a    a        a    u    n    o

pra jogar no lixo

PLAFT!
cai o moço

é preciso varrer

c    d       c    q    i     h
   a    a        a    u    n    o

pra baixo do tapete


11 dezembro 2011

O FABULOSO FIM DE SEMANA DE AMÉLIAS, AMORAS E EUS



um casaco de lã, pele de porcelana

sonhos de amelie poulain... bacana

uma toalha roxa, um beijo de amora

e conversa sem hora pra acabar



a cor do sutiã, a folga do pijama

aquele chá de hortelã e cama

e pra manchar a colcha, mil beijos de amora

e namorar sem hora pra recomeçar



raiar de outra manhã, brindar outra semana

passeio, parque, raiban, caldo-de-cana

uma sombrinha boa, pés do pé de amora

a gente deita e rola naquele chão...



lua em vez de tupã, brisa na persiana

um vinho tinto bom, safra sul-africana

estar na sala à toa, mais beijos de amora

e a noite vai-se embora pra além da canção...







agradecendo e festejando...

nas fotografias e na filmagem surpresa, projeto dezpenteado; na companhia, diogo nazareth; nos apoios, coletivo ajuntaê e fora do eixo...

no aconchego desse quintal virtual, de chaleira

... e nas xícaras, café solúvel extra-forte com amarula!





.

10 dezembro 2011

NÃO QUEREMOS SUPER-HOMENS!

O cinema, a tv, com seus filmes e séries, carregam a ideologia de uma era, a vendida por seus governantes, uma série de rituais a serem imitados pelo povo em sua domesticação. Assistindo a filmes de décadas diferentes é possível se ver o contraste das realidades, quando analisando séries dos anos 60 como Jornada das Estrelas, ou Além da Imaginação, vemos sempre o reforço de certos papéis, como o do homem determinado, seguindo seu próprio destino, tomando ação, repreendendo os inferiores a ele, os que só seguem, os que não lutam, os que são deixados para trás a obedecer. Há um sentimento nos textos que os melhores da sociedade tem de lutar para se fazerem vistos e a partir dai comandarem com a sua excelência. Enquanto os fracos devem perecer, ou obedecer. Vindo para o presente, somos apresentados ao total oposto, em séries como New Girl, The Big Bang Theory, ou Two and a Half Men. Todos são aceitos, defeitos não são mais defeitos, são identidades, não há necessidade assim de melhorar, de se transformar, se deve ficar sempre no status-quo, e todo problema que deste provir, é só um fato da vida. Sim, temos os competentes em certas áreas, áreas bem específicas, que servem bem a sociedade, aos governos, mas que sozinhas ainda os deixam incompletos como indivíduos. O texto agora é: ache uma função, produza dinheiro com ela, e fazendo isso, tudo estará bem, pois mesmo sendo um desastre em todo resto, esse é quem você é, e veja temos muitos produtos mas esse seu tipo de você! Não queremos super-homens!

09 dezembro 2011

TRADUÇÃO

Tradução



Olhos ávidos
Distinguiu além
Falou pouco
Disse tudo
Chegou ...


Tinha dois nomes
O oficial estava na lista
O próprio era sigilo
Alavancou...

Disse aos poucos
Em frases entrecortadas
Maga da esperança
Semeou amizade
Elevou...

Singela
Espiritual
Alva
Transcendente
Transcendental
Permanece...

Para Roberta Jade de Nefertari 

08 dezembro 2011

ACHARES

Achares

Por Vivian Marina

Nela mesma... mas nela mesma quem? Escrita? Casa? Ela? Isso não importa, o "quem" permanecer-se-á interrogativo aos gostos e desgostos do acaso. O que cabe é dizer das entranhas, do cá de dentro dela. Do cá dentro nela. Cá-nela. Canela em pó e em pau perfumando escrita, casa, ela.

Não se afobe, os aromas e sabores que se desprendem da canela e habitam boca e nariz são delicados e marcantes. Canela especiaria, parte corpórea e um cá bem juntinho nela. Lambem-se os espalhamentos de sílabas, letras, bordões e frases aformoseando-a, escrita, casa. Drummond diria que apenas um arabesco abraça as coisas, sem reduzi-las.

Arabesquemos, pois, o que envolve os pensamentos. Deixemos a escrita como os torrões de açúcar, que frágeis como são, adoçam ao derreter. Explicações e pormenores ficam ao gosto do "quem" e dos patinhos de borracha.

Pois, afinal, para quê servem mesmo os patinhos de borracha? Sei lá, respondeu relutante. Não pré-conceitue, responda o que lhe vem à cabeça. Deixe me ver... eles alegram os banhos com seus jatinhos de água que saem pelo buraquinho, qüem-qüenzando por entre espumas, águas, cheiros e cantarolas escondidas, quase como se fossem coadjuvantes ou back-vocal! Não lhes dão o devido lugar nos banheiros que frequento, há uma alegria amarelada naquele objeto emborrachado e a sua inutilidade torna-se seu encanto.

07 dezembro 2011

TRANCOS E BARRANCOS LITERÁRIOS

Por Cecília Prada

Vem cá, vou te contar uma coisa, aquela noite fria e paulistana, de chuva, e aquela reunião de poucas, tão poucas pessoas, na Oficina Literária, e as escritoras reunidas - no final dos anos 1990. Lygia Fagundes Telles presidia a mesa - e foi aquele o único dia em que a vi mal-humorada e pessimista, em toda a vida que a conheço.

“Era uma noite de chuva e frio”. E se a gente fosse uma escritora antiga pegava todos os reflexos das luzes nas poças d'água, o tec-tec das goteiras nos telhados de zinco, coisas de cobertas acolhedoras, uma xícara de chá, um livro na cabeceira da cama, e.....
Pois te digo: literatura é este espaço de gostosura, de noite de chuva. Xícara de chá de velhas tias solteironas - dizia Proust.

E então é esta imensa distância, esta impossibilidade espessa dentro da qual todos nós, escritores sobreviventes, nos agitamos aparvalhados. Distância da literatura (esgotou-se o estoque de chá?).


Se eu me dependurar nos lustres da lembrança...

Toda manhã saio chamando o texto - que sempre se esquiva embaixo de um móvel, na dobra da cortina, sob a geladeira. Bit, bit, vem cá buscar a tua papinha (humana), bicho antropófago e mimado, esse texto. E meu destino é o de Sísifo inglório, sair nessa busca, a cada manhã recomeçando o mundo.
E tão esgarçada...tão precária, e tão só.

(O tempo escorre como chumbo derretido nos meus ossos - chamam isso de artrose. Seu verdadeiro nome é : solidão.)

______________

06 dezembro 2011

BO, UM FOLHETIM ARDENTE - 4




Capítulo III
Khan el Khalili
ou
o assassino,
os pivetes, o kaab e o eunuco


Pele escura – no bazar, Alá seja louvado! na barafunda dos becos e das vielas, na feira de Khan el Khalili o narrador, o kaab, estalava um substantivo atrás do outro no fundo da glote. Jamal, o assassino, tratou de esconder o punhal esquecido de sua vítima – e o anjo de Alá apareceu! – um funcionário de baixo escalão, o pobre dum eunuco dos haréns da Besta, do terrível sultão Al-Zahir Rukn ad-Din Baibars.
Alá, ó clemente, ó misericordioso, afasta o terror do trono usurpado, afasta a calúnia da terra do Egito, Jamal ainda pensou, quando-entretanto, seus dedos sujos, maravilhados pela trajetória de Musa, o antigo profeta, pela trama tecida a teia o fuso do linho fino a narrativa do hábil kaab já afrouxavam, olvidados, o cutelo – agora uma arma qualquer. Preguiçosa testemunha no fundo de sua túnica encardida. O anjo de Alá apareceu nas faldas do monte Horebe.
Matronas boquiabertas e suas escravas batiam palmas encostadas no madeirame das barracas, o eunuco fugiu esgueirando-se pela velha muralha – o anjo de Alá apareceu numa chama de fogo no meio de um espinheiro! – até achar uma sentinela montada cuspindo e esfregando um trapo na albarda da sua égua. Alá uh akbar, Alá seja louvado no burburinho do fim da tarde de todos os bazares do califado.
Pele escura – a feira vazia, apenas o poeta de punhos fechados e o vendeiro de um caravançará torcia – as cordas nas mãos, a matemática esquecida, curioso. Noites do Cairo. Os outros mercadores cortinas fechadas, tapetes enrolados, tocavam uma fila, um rol de bestas de carga quando a tarde, cheia de anéis,

trancou a porta da casa
e da tenda. E quando a noite
chamou pardais e corujas

para o seu esconderijo
ou para a beira dos túmulos,
rude, agreste embora fosse
o apelo de sua voz,

cada pátio do Egito
bocejou num pálio trêmulo
de asas frágeis, perfumes,
esquecimento e penas

macias. E voltaram todas
as fontes da vitoriosa
cidade, do Cairo antigo

a brilhar nos caminhos escuros de seus ricos jardins. Palmeira seca – na feira de Khan el Khalili, quando-entretanto, as unhas sujas do narrador apontavam para a vastidão do êrmo. O anjo de Alá apareceu numa chama de fogo no meio de um espinheiro. Noites de Al-Qahira, noites do velho Cairo.
Alá seja louvado! e talvez até mesmo o kaab, admirado pela turbulenta mansidão, pelo curso de suas própria fábulas, tenha sido fisgado, ó clemente, ó misericordioso, tenha caído na rede, no laço armado de seu próprio verbo. O anjo, translúcido, acendia candeeiros e sarças nas faldas do monte Horebe, nos becos truculentos de Al-Qhira, a vitoriosa, do velho Cairo.
Pele escura, anoiteceu – Alá abençoe a língua, a trama e o poeta. Alá, que de secos rochedos fez a água jorrar, que fez também o coxo e o gago, aniquilou os povos de Tamud e Ad e também os poderosos faraós do nossa Misr do velho Egito abençoe Musa, o profeta. Na beira do fogo, anoiteceu.

... E AÍ? CADÊ OS PIVETES DO TÍTULO? O QUE ACONTECERÁ COM O ASSASSINO DISTRAÍDO E SEU EUNUCO FUGITIVO? E O SULTÃO BAIBARS VAI PARTICIPAR DO MIS-EM-SCÈNE?
NÃO PERCA! NA TERÇA-FEIRA, DIA 20 DE DEZEMBRO, A TRAMA DO KAAAB VAI ESTREMECER DE ESPANTO E AS VIELAS PERIGOSÍSSIMAS DO CAIRO MEDIEVAL PODEM ESCONDER TERRÍVEIS SURPRESAS! VOCÊ NÃO PERDE POR ESPERAR...



04 dezembro 2011

O PEGADOR

Por Álvaro Posselt

O cara havia pegado todas, de A a Z. Até as com letras mais difíceis. Mas faltava ainda a letra Q.
Não conseguia.

Há tempos sentia dores na mão.

- Você pegou quiralgia - disse o médico.

03 dezembro 2011

FUI BLOQUEADA!

Por Paola Benevides

Há um bloco de notas, mas há o bloqueio. O que com palavras pintar? Tanto e nada a dizer, que nem sei o que jorrar direito. Alguém poderia gritar colorida-mente: - Balde de tinta gelada na cabeça! 

Um banho desses poderia me desengatar da preguiça, meu coito com ela é cachorrada, embora a maçada seja o trabalho pouco criativo a me onerar ultimamente. Ele me paga! Enfim... Veremos com o que sugestionarei as minhas mãos. À obra, vamos acordar:

Esta manhã havia sonhado com um amigo me convocando a acompanhá-lo até o dentista em dolorosa extração de dentes e foi quase um parto para ele, coitado. Ou melhor, semblante enrugado à força feito uma prisão de ventre daquelas. Dor inigualável, arrancou o filho de ossos da boca, que saiu com muito sangue e chororô. Foi foda... Lembrei de imediato a sensação enquanto eu tentava evacuar uma ideia no banheiro e a dentadura de minha mãe sobre a pia me sorria amargamente. 

Dei descarga, abri a porta. Era ela agora quem dormia, banguela, na sesta habitual. Com o que ela sonhava? Eu me perguntava ao passar pela cama da velha. Raras as vezes recordava um sonho ou me contava em detalhes. Mas na maioria era de um movimento meio trágico dos olhos, melhor mesmo nunca ter lembrado para me contar, tudo reflexo das novelas da TV e refluxo dos programas policiais da rádio de todos os dias. [...] Fora do ar. Por essas que não quero envelhecer, quero ser. Como será?

Há outro bloco de notas, persiste o bloqueio. O que com palavras ornar? Muito e pouco a dizer, que nem sei mais como expressar. Alguém poderia mesmo me atirar um balde de água gelada à cabeça! [continua ou não] [...]

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01 dezembro 2011

VININHA! UMA SAUDADE!


Por Marcelo Finholdt




Chorou Vinícius em coro quando pensou que era tarde... estava para lá de morto, mesmo aos tapas, berros, bossas, amor e Boêmia! Chorou...



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