Por Vítor Queiroz
Capítulo III
Khan el Khalili
ou
o assassino,
os pivetes, o kaab e o eunuco
Pele escura – no bazar, Alá seja louvado! na barafunda dos becos e das vielas, na feira de Khan el Khalili o narrador, o kaab, estalava um substantivo atrás do outro no fundo da glote. Jamal, o assassino, tratou de esconder o punhal esquecido de sua vítima – e o anjo de Alá apareceu! – um funcionário de baixo escalão, o pobre dum eunuco dos haréns da Besta, do terrível sultão Al-Zahir Rukn ad-Din Baibars.
Alá, ó clemente, ó misericordioso, afasta o terror do trono usurpado, afasta a calúnia da terra do Egito, Jamal ainda pensou, quando-entretanto, seus dedos sujos, maravilhados pela trajetória de Musa, o antigo profeta, pela trama tecida a teia o fuso do linho fino a narrativa do hábil kaab já afrouxavam, olvidados, o cutelo – agora uma arma qualquer. Preguiçosa testemunha no fundo de sua túnica encardida. O anjo de Alá apareceu nas faldas do monte Horebe.
Matronas boquiabertas e suas escravas batiam palmas encostadas no madeirame das barracas, o eunuco fugiu esgueirando-se pela velha muralha – o anjo de Alá apareceu numa chama de fogo no meio de um espinheiro! – até achar uma sentinela montada cuspindo e esfregando um trapo na albarda da sua égua. Alá uh akbar, Alá seja louvado no burburinho do fim da tarde de todos os bazares do califado.
Pele escura – a feira vazia, apenas o poeta de punhos fechados e o vendeiro de um caravançará torcia – as cordas nas mãos, a matemática esquecida, curioso. Noites do Cairo. Os outros mercadores cortinas fechadas, tapetes enrolados, tocavam uma fila, um rol de bestas de carga quando a tarde, cheia de anéis,
trancou a porta da casa
e da tenda. E quando a noite
chamou pardais e corujas
para o seu esconderijo
ou para a beira dos túmulos,
rude, agreste embora fosse
o apelo de sua voz,
cada pátio do Egito
bocejou num pálio trêmulo
de asas frágeis, perfumes,
esquecimento e penas
macias. E voltaram todas
as fontes da vitoriosa
cidade, do Cairo antigo
a brilhar nos caminhos escuros de seus ricos jardins. Palmeira seca – na feira de Khan el Khalili, quando-entretanto, as unhas sujas do narrador apontavam para a vastidão do êrmo. O anjo de Alá apareceu numa chama de fogo no meio de um espinheiro. Noites de Al-Qahira, noites do velho Cairo.
Alá seja louvado! e talvez até mesmo o kaab, admirado pela turbulenta mansidão, pelo curso de suas própria fábulas, tenha sido fisgado, ó clemente, ó misericordioso, tenha caído na rede, no laço armado de seu próprio verbo. O anjo, translúcido, acendia candeeiros e sarças nas faldas do monte Horebe, nos becos truculentos de Al-Qhira, a vitoriosa, do velho Cairo.
Pele escura, anoiteceu – Alá abençoe a língua, a trama e o poeta. Alá, que de secos rochedos fez a água jorrar, que fez também o coxo e o gago, aniquilou os povos de Tamud e Ad e também os poderosos faraós do nossa Misr do velho Egito abençoe Musa, o profeta. Na beira do fogo, anoiteceu.
... E AÍ? CADÊ OS PIVETES DO TÍTULO? O QUE ACONTECERÁ COM O ASSASSINO DISTRAÍDO E SEU EUNUCO FUGITIVO? E O SULTÃO BAIBARS VAI PARTICIPAR DO MIS-EM-SCÈNE?
NÃO PERCA! NA TERÇA-FEIRA, DIA 20 DE DEZEMBRO, A TRAMA DO KAAAB VAI ESTREMECER DE ESPANTO E AS VIELAS PERIGOSÍSSIMAS DO CAIRO MEDIEVAL PODEM ESCONDER TERRÍVEIS SURPRESAS! VOCÊ NÃO PERDE POR ESPERAR...
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