29 abril 2012

DISSIMULAÇÃO

Dissimulação 




O vinho
O cigarro
A voz hermética
O hálito
O incenso.
Tudo uma questão
De ética sexual.
De ritual.

Os lençóis
Mudos e retinóicos.

A fenda conservada
Em compota
e o cabelo
Tingido.
Fingido.

28 abril 2012

QUEM É JOHN GALT?

por Daniel Matos

Estamos no ano 2012 e ainda não temos carros voadores atravessando as cidades. Nossa principal fonte de energia se baseia num arcaico sistema de combustíveis fósseis e a "grande alternativa" vendida para solucionar isso é a ridícula opção de energia eólica e solar. Temos uma estação espacial que é uma piada e com grande esperança se pensa em retornar a lua. E isso não porque não há melhores opções tecnológicas para todas essas situações, porque há, e há em alguns casos há mais de 50 anos, em outros há mais de 100, mas sim porque durante todo esse período do último século, em vez de termos uma boa competição entre empreendedores para desenvolver um melhor produto em um verdadeiro sistema capitalista, tivemos uma degeneração de gente incompetente e ignorante, se unindo a um lixo corrupto político, com poderes que nunca um governo deveria ter, para aniquilar o trabalho de melhores homens. 

Num verdadeiro sistema capitalista, o mais rico é aquele que tem um produto que melhor contribui para sociedade. No que temos, o mais rico é o que melhor rouba, melhor assassina, melhor sabe colocar no poder gente corrupta que passará leis e publicará jornais para aniquilar melhores pessoas, melhores idéias, melhores produtos que elevariam a humanidade, e não a fariam descer a latrina onde nos encontramos.

A Revolta do Atlas (Atlas Shrugged) Parte 1 do diretor Paul Johansson, baseado no livro de Ayn Rand, exemplifica bem essa corrupção. E é uma boa opção para quem se amedronta pelo tamanho da obra de Rand.

27 abril 2012

TEMPO !



Tempo!


O tempo é sujeito
É categórico
Oculto nas horas alegres
Explicito nos ensejos mortais

Ladrão que se furta - nos roubando
Larapio do que?
De si mesmo.

Desonesto!
Sempre a sussurrar, qual amante em pleno gozo
- Você  tem muito tempo!

Assim, segue-se
O Amor fica para amanhã
O declarar-se, para depois
O Sorriso, retardado
O abraço, na espera

O maior simulacro do tempo
Fazer-se presente a todo momento
No presente, o passado sutil
No futuro, o presente se entende

Longos cabelos loucos o do tempo
Envolve-nos, nos fascina
Para que depois
Descubramos
O tempo?
Se foi!



COLUNA NOTAS ÀS MOSCAS - Por Vivian Marina


























* Devo-não-Nego_Posto-quando_Puder (Dispositivo avançado de anarco-cronogramia)

25 abril 2012

RIFANDO MEU UMBIGO


RIFANDO MEU UMBIGO


Decididamente: de tanto contemplá-lo, enjoei. Ele já me disse coisas demais. Que eu, sabida, transformei em palavras - e ganhei com elas. Nos últimos anos, então, tendo sido forçada a guardar território emprestado e precário (o porãozinho que restou de meu castelo avoengo), sem ter muita companhia, não tive outro remédio senão concentrar-me nessa parte útil, sem dúvida, mas pouco imaginativa, do meu ser. E ouvi-lo de noite e de dia/ padre-nosso ave-maria.
E o que extraí dele...Ciscos e mariscos, memórias e lorotas, solilóquios e circunlóquios (principalmente estes), coisas de somenos e coisas só demais - enquanto o mundo vasto mundo continuava a rolar e a roncar cada vez mais alto, lá fora.
              Mas agora enjoei. Deve haver mais coisas  para se fazer, ó Senhor, do que passar a vida toda e mais três meses a contemplar um mero buraquinho insosso que fizeram quando nascemos, para nos marcar – para que não nos perdêssemos? Para que nos reconhecêssemos como filhos de Adão e Eva?
             Do umbilical domínio já saindo, mais inteligente me pergunto: como podemos descender desse senhor e dessa senhora, se justamente eles é que não tinham umbigo?...
        Onde, em que altura da criação, de qual genitor afinal herdamos esta marca de nosso ser vivente?

A história não está bem contada. Não. Essa história, a da nossa criação, não está nada contada, ainda.
Só nos resta inventá-la.




24 abril 2012

EU SOU O QUE É


A TEOFANIA
parte 2

Um fio de cabelo crespo
num paletó sertanejo
ou a aparição do verbo

ser no toco, no deserto,
no oco, ondequé? nonada
de uma sarça ardente?

Chilreios, falas, outeiros,
uivos, trinados, gorjeios,
feras, zurros e pastiches.

Tevês, roncos, ganidos,
hienas ululantes, messias,
urros, pios e grugulejos.

Silvos, grunhidos, rugidos,
arrulhos, relinchos, véus,
guinchos, nós e cacarejos.

Onças, videntes, latidos,
bramidos, choros e bens.
Balidos, berros, mugidos

e nenhum argumento.
Nenhum valor, nenhuma
vida, nada, nenhum vão 

entulhado de somenos.
Nonada, que orelha, ora,
seria capaz de captar

na aspereza de um paletó
aquele fio de cabelo crespo
ou a aparição do verbo

ser no toco, no deserto,
no oco, ondequé? nonada
de uma sarça ardente?


23 abril 2012

CHOVE-SE

Por Guilherme Salla




Tomar chuva
não mata
a sede
nem salva
ninguém.

A água
descontínua
que desaba
de nuvens,
poças,
lagos,
oceanos
e rios,

Equivalem-se.

Molhada,
a natureza
brilha,
água 
e
luz,
gotas
e raios,

Assemelham-se.

A chuva
cai
do céu,
a luz
cai
do sol,
o que tem sede,
o que se afoga,

Igualam-se.





.





22 abril 2012


LIMIAR PÚBLICO

Por Carmô Senna


O vapor embaçava a janela e saia da chaleira para o café matinal. O corpo também transpirava e turva a visão, seus pés umedeciam o chão da cozinha, formando uma cartografia pequena e denunciando seus rastros... Onde pontos remotos marcavam suas linhas verticais e horizontais de um vermelho adocicado pelo amargo do gole mais quente do seu corpo.

E ao andar pela cidade, vazia e fantasmagórica em seus finais de semana de pré-folias, preliminares de pequenos córregos e várzeas que me preparo a percorrer nos futuros vindouros momentos de verão.

A proximidade delicada, a força bruta do corpo dela, que vibra e transpira a cada toque meu. Liberam a adrenalina e a pulsação de que rente ao meu corpo se escondem mistérios de alcovas, que frequentadas antes de mim forram minha futura cama. é inebriante e altamente tóxico o cheiro que exala daquele corpo, que não tem donos nem proprietários. essa terra selvagem que transformam minhas seiscentas terminações tântricas em deuses pagãos. E a vontade de tocar-lhe sem pudores me torna um animal irracional sedento que ignora os olhares dos espectadores, transeuntes e observadores desse meu mundo cio.

Prendo a respiração para sorve-lhe os cheiros do corpo em chamas que sinto e recinto. Uma cocaína que anula todo e qualquer outro sentido são. Tornando-me alimento dos poros e desejos táteis. E é assim, tateando que pretendo invadir barbaramente suas fronteiras. Que “bouleversando”, os versos gemidos de orelha, as minhas despertam odes romanas, templários e revolucionários franceses que sinto latente.

Tento destruir suas bastilhas rosadas e úmidas, com minha língua fremente, para nas ruínas dos risos reconstruir minha qualidade persa de luxúria. Sendo em suas argolas mouras, os anéis de fumaça que me aprisionam ao doce sequestro. Dando-me o prazer de vivenciar Estocolmo.

Sei que ainda tenho em minhas Odessas repletas da presença de bombas e minas, nunca dantes encontradas. Fazendo o terreno minado. Mas não se assuste as guerras. Pois, não me importam novos caminhos, só a vontade estampada e violenta nos teus olhos, com o gosto ereto do gozo que é viver em tuas nascentes claras.

Apenas o quente deleite do café que me desperta os sentidos, faz meu Danúbio descongelar. Escondido nas coxas grossas da moça, que tuas mãos e olhos percorrem. Tais abissais desejos! Fazem de mim passageiro e navegante, em Abissínias tuas e minhas, cheias das credulidades e perversões.

Onde em nuas ilhas flutuantes esperam de sua boca as mordidas famintas e desejosas, a marca da carne, a propriedade momentânea de pisar na lua.

21 abril 2012

PEDRA

                                                             Por: Paola Benevides

Não obstante representar obstáculo, 
a pedra soergue paredes, atravessa vidraças. 
À primeira medra, 
a mão que afaga é a mesma que nos atinge. 
No meio do caminho tinha uma queda. Trapaças. 
Se a vida não apedreja é porque finge. 


19 abril 2012

NO TEMPLO DE ÁRTEMIS


Por Marcelo Finholdt
(Intertextualizando com fotografia do amigo vídeo - artista Luiz Augusto Lisboa!)
Argos e Lux discutiam em busca do brilho da União!

17 abril 2012

DESESPELHO

                                                                DESENHO -Por Felipe Stefani


Desespelho

Por Marco A. de Araújo Bueno

Espelho, espelho meu,
Existe alguém no mundo?
Sim! O pressentido, que ousa.

Quando não refrata teu corpo
No corpo reconhecido;
No gozo que a especulava
Só para descapturá-la.

Seqüestrada pelo invisível do seu cio,
Há meses carente desse sinto-no-sinto,
Desse vejo, no vejo refletido
Na barbárie de desfragmentá-la.

Por puro desespelho, no fundo, ousa
Com dedos, restaurá-la plena em pelo
Em plena nudez da visibilidade.
Aquela que não aliena, quebra o espelho!

Espelho, espelho meu-
Que não exista alguém no mundo
Que não me seja apenas eu.



15 abril 2012

COCA COLA FILOSÓFICA

Por Paula Miasato



Subimos. A mesa redonda sugeria um bate papo, sempre sugere, diariamente. Conheço meu espaço, sei o que ele proporciona. É instintivo. As pessoas apenas entram, e depois do meu sorriso simpático logo sentam e esperam ansiosamente pelo bate papo. Minha simpatia fez do espaço um consultório de psicanálise sem remuneração e sem hora marcada. Ler que é bom, nada. Assim como nos dias anteriores inevitavelmente foi.
Três horas da tarde e três pessoas ao redor da mesa redonda. As xícaras de café mal lavadas pela parceria do detergente barato e da bucha dupla face mais que usada e totalmente habitada por microorganismos. No centro da mesa uma garrafa de coca cola 600 ml e um saquinho de pão de mel comprados com moedas contadas do porta níquel da pobre psicanalista não remunerada. A garrafa suava ali no meio, aflita, esperando pelo seu fim. Eu devo ser simpática... Sorri e abri a garrafa. A aflição da filha da puta era tão intensa que ejaculou na mesa toda. Foi praticamente um ato suicida. Sorriram. Eu, desajeitada limpei a cagada.
Devo ser simpática... Notei uma mancha de batom em uma das canecas. É. Elas estavam mal lavadas pela parceria do detergente barato e da bucha dupla face mais que usada. Pronto! Foi parar logo na mão do cara da pochete! Que merda! A moça havia acabado de tomar café nela e seu batomzinho vermelho sangue carimbou seu lábio inferior na caneca e como a parceria da imundície predominava no local, seu beicinho ali havia ficado e foi parar logo na mão do cara da pochete, é o cara que vivia a coçar a virilha suada!
A moça de pele branca e lisa não notou. O cara da pochete (ou da virilha coçada) a pedido de sua barriguinha gorda de açúcar por falta de sexo logo carregou a caneca de coca cola. Socou um pão de mel na boca. Não pronunciei uma só palavra. Ele olhava com admiração e encantamento a mocinha, mas ela nem ligava, estava mesmo era interessada na conversa filosófica da mesa. Eu concordava com tudo, afinal, discutir filosofia com um historiador amante de filosofia e uma estudante de filosofia não combinava com meu jeito prático de ser, então era mais prático que eu concordasse, ou socasse coca cola e pão de mel guela abaixo pra justificar o meu silêncio. Foi o que fiz. A mocinha não. Além de estar discutindo assunto interessante com o cara da virilha coçada, ou melhor, o cara da pochete, já havia sofrido de bulimia, então evitava comer.
Meus olhos não conseguiam parar de seguir a manchinha da caneca do cara da pochete (que esbarrava na virilha coçada). Ele segurava os arrotos e quando fazia isso, inevitavelmente dava pequenos tranquinhos com o tórax na cadeira e interrompia a fala. Olhava a mocinha como quem olha um pudim de leite condensado.
Meus olhos seguiam a caneca carimbada. A mocinha de pele branca interessadíssima no assunto. Eu olhando a caneca e concordando com tudo.
Entornou e girou a caneca. Pronto. Ele viu a marquinha de batom.
"Olha! Uma marquinha de batom."
"É! É dela. Acabou de beber um cafezinho nela. Acho que a caneca estava mal lavada moço..."
Ele não sentiu nojo. Olhou a marquinha na caneca, olhou pra boca vermelha da mocinha e lambeu a marquinha da caneca até que ela saísse totalmente, gesto feito sem tirar os olhos da mocinha.
Eu descreveria o gesto como sexo oral filosófico, visto meus breves conhecimentos sobre as preferências sexuais do cara da pochete, por várias vezes reveladas no meu "consultório" em suas frequentes visitas.
A mocinha, educada, fez de conta que não percebeu a intenção do gesto.
Eu, lógico, fui pra varanda fumar um cigarro. Afinal, depois de servir de voyer naquela modalidade de sexo estranhamente cult, um cigarrinho caía muito bem.

13 abril 2012

TEMPO


Tempo!


O tempo é sujeito
É categórico
Oculto nas horas alegres
Explicito nos ensejos mortais

Ladrão que se furta - nos roubando
Larapio do que?
De si mesmo.

Desonesto!
Sempre a sussurrar, qual amante em pleno gozo
- Você  tem muito tempo!

Assim, segue-se
O Amor fica para amanhã
O declarar-se, para depois
O Sorriso, retardado
O abraço, na espera

O maior simulacro do tempo
Fazer-se presente a todo momento
No presente, o passado sutil
No futuro, o presente se entende

Longos cabelos loucos o do tempo
Envolve-nos, nos fascina
Para que depois
Descubramos
O tempo?
Se foi!



12 abril 2012

REFRÃO

Refrão







Os pés seguiam lentos e claudicantes como se, num vacilo, pedissem ao chão que lhes indicasse o caminho, que lhes evidenciassem a superfície. Que besteira essa estória de manter os pés firmes no chão, afinal de quem é mesmo a firmeza?
Seguidos uns dos outros, os passos lembram a repetição de um gesto. Lembram, por que, na verdade, eles são mesmo repetidos? As diferenças que eles podem engendrar são tão significativas quanto as mesmices.
Nem repetição, nem diferença. Ou repetição e diferença num mesmo patamar de possibilidade. O claudicar não cessara, tampouco pediu perdão à superfície por não saber, quiçá duvidar, da firmeza. Também não parou para reclamar informações, essas recordam-lhe palavras de ordem e não sugestões bem-vindas. Resistiu a repetir, diferenciar, cessar, se informar... criou pelo tilintar das asas de uma borboleta certa música chamada Badaladas.

10 abril 2012

HOMENAGEM A GILBERTO GIL


A TEOFANIA
parte 1


Bota o polegar opositor
no rádio transistor,
Maria amélia, tá vendo?

Cadê Moisés, minha nega?
Jeová cantarolando na gruta,
no Horeb, no vulcão... e agora?

Vamos fugir pra onde,
Maria Amélia? e agora? Cadê
a teofania? Cadê o tédio

vencido? Cadê jeová no toco
do êrmo? Ta pegando
a frequencia, minha nêga?





07 abril 2012

SOLSTÍCIO




Eu perfaço caminhos desertos com mil correntezas.
Anoiteça o que anoitecer, mantenho as luzes acesas.


05 abril 2012

LUA[NA] SERESTA

(Dedicado à amiga Luana Centurião)

Por Marcelo Finholdt

Vejo a Lua prateada,
Vejo de ouro a chuva prata,
Vejo a noite: que estrelada.
Vejo a Lua em serenata.

03 abril 2012

TORRES, PODER E TÂNATOS - DECAS FÁLICOS

                                                     DESENHO POR Felipe Stefani

 Torres, poder e tânatos - Decas fálicos


 Por Marco A. de Araújo Bueno

1. BRODHERS

Demóstenes,com quem andas? Dir-te-ei quem fostes. Fora o privilegiado !




2. BROCHAS 


Parece pêndulo!O Pêndulo de Foucault...Ih, teu pênis refugou !

01 abril 2012

DIAS INÚTEIS


Dias Inúteis


Hoje pela manhã eu fodi com a angústia penetrando por orifícios melados, usados e esgarçados. Fodi com a solidão sobre lençóis manchados de sangue e esperma que nunca mais haviam sido lavados.
Lambi cabelos (t)fingidos. Enfiei a língua grossa de cachaça em bocas e esfoliei gengivas, esgrimei infernos e céus de bocas.
Hoje pela manhã eu senti o gosto amargo de fendas peludas e as invadi, arrombando portas trançadas de pêlos com corrimento de dias sem banho.
Hoje eu fodi com a minha semi vida e a expulsei de mim sem piedade.
Hoje eu fodi com a inodora angústia e com a insólita solidão.
Hoje eu me libertei de mim, mas sinto saudade. Não sei onde me escondi só sei por onde andei, embora quisesse esquecer.



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