30 abril 2013

PASSARINHEIRO




Andorinha natural de Campinas, 
andorinha, andorinha... 

e se lhum passarim bica um farelim 
de pão, lhum lundum, lhum fadim 

lhum Universo, lhum ôi-tudo-isso! 


é todotexto tout court inventado, 

e reinventado...distraidamente 
como a vida passa em Dias Dorim 

e Noites Neon. Distraidamente 
como trabalha no peito a máquina 

do coração.

29 abril 2013

FUMO

Por Guilherme Salla


Preciso
largar do cigarro,
preciso
reforçar minha fé,
o meu café.


Uma pira queima meus desejos,
uma oração de fumaça
entre a xícara e o cinzeiro.





.

27 abril 2013

A ILUMINAÇÃO DE HILDA HILST


A ILUMINAÇÃO DE HILDA HILST,
EM BARÃO GERALDO, NA BEIRA DO RIACHO
CHAMADO DE RIO DAS PEDRAS.

Por Vitor Queioz

I
DO MITO

Partiu da velha o fêmur
Em pedaços em lascas em estrelas
Partiu o fêmur da velha

E para o fundo foi tudo
Até cair na areia do riacho de águas
Escuras. Cada fragmento

Sumia na barrela. Ossos partidos entretanto

De possibilidades vivem cheios.

II
DO MILAGRE

Estrelas, conchas de cálcio. Noites escuras, velhas:
suavidade e madrepérola.

III
DO MÍNIMO EXPRESSIVO

Ô, felicidade!

23 abril 2013

SONETO DO PÓS ATO*


                                                        Ilustração sugerida pelo filósofo -

Chiu Yi Chih

                                                           





Neste intrépido trepar e pitar
Mal me cabe em sutilezas ou vãos,
Desperdício daquilo que se vá
Refazer-me num depois de amanhã;

Desonroso este certame de mãos
Que mal sentem algum onde se pousar-
Se é que quero um desmanche deste afã;
Se é que ouso dormir pra me acordar.

Fantasias  que descongelam aqui
Mais adiante encavalam-se dispersas;
Mais adiante me afastam de você.

E se for-me este amálgama consigo,
Mal me alcanço em qualquer desfalecer
Que não seja torpor de reunir farsas


 *Este soneto inscreve-se no desafio de confeccionar poesias 'pós humanísticas' que
comporão uma antologia a que fui convidado por Luiz Bras há pouco. Optei pela
via formal (e não temática) para obter algum estranhamento: eu sujeito pós humano
vale-se de uma forma arcaica (no futuro) - o decassílabo-, mas coloca as tônicas   nas
terceiras sílabas métricas. Na crítica do escritor Wagner de Souza esse recurso virá
 melhor escandido, pelo que agradeço ao colega, também colunista aqui .



19 abril 2013

18 abril 2013

O POETA



Por Marcelo Finholdt

O Poeta é maldito, ultrajado, culpado!
Toda a culpa recai sobre o mais sorridente;
Ultrajado prossegue o seu rumo humorado
E o maldito de fato a amolar o tridente!

O poeta é maldito e culpado, ultrajado!
Todo ultraje é uma forma arrogante e indecente;
Mal falado percebe a conversa de lado
E os culpados na fé de que são coerentes!

O Poeta ultrajado é culpado e maldito!
Todo dito maldito anuncia um Profeta;
E os culpados na lida e feitura do mito!

Ultrajado e culpado é maldito o Poeta!
O Poeta é este asceta, este mito bendito;
Sem seus trajes, sem culpa a cumprir sua meta! 

16 abril 2013

A SERVIDÃO DE UMA IDEIA FIXA

Por Vítor Queiroz

arrocha

3 anos
3 meses
e 3 dias

e no dia seguinte o Amor
voltou


3 anos
3 meses
e 3 dias


e esse Amor voltou com tudo
tive febre taquicardia enjôo
dispinéia


3 anos
3 meses
e 3 dias


ouviram de longe uns tiques
um batuque um estrondo mas eu só
só eu abri porta e apaguei
a luz


3 anos
3 meses
e 3 dias

e no dia seguinte o Amor pôde afinal
dormir tranquilo


3 anos
3 meses
e 3 dias



15 abril 2013


  Final do 3-3-3: Três anos, três meses e três dias deste coletivo De Chaleira!
  Vamos falando mais, como a Paola Benevides, p.ex.:


Markito, parabéns a ti, que bedelhou-se nessa ideia primeiro, contagiando a todos os chaleiristas com seus chás quinzenais. Muito honrada por pertencer ao coletivo até hoje, né coisa pouca não, trocamos experiências demais e bonitas. Tim-tim!


Esse cabalismo prediz:

O número 3 representa o princípio manifestado, Espírito, A Trindade de todas as tradições, o triângulo equilátero, o Verbo Solar, Mundo dos Efeitos, três mundos, Imperatriz, três esferas, o Sol do Pai-Mãe-Filho, equilíbrio universal, a palavra pensada, dita, Lei Maior, expressão, comunicação, escrever, falar, representar, harmonioso, simpático, alegre, pintura, teatro, sensibilidade, clareza, paz, entendimento, harmonioso, intelectual, tranquilidade, etc.

Por isso tem dado supercerto!

Sugestões: republicar e comentar o que se postou na data três anos atrás?

12 abril 2013

11 abril 2013

NARCISISTAS


 NARCISISTAS

Por João Bührer de Almeida

Aprendi muita coisa sobre sexo nas páginas de Ele & Ela, lendo os artigos de Neila Tavares. Ora sobre sexo, ora sobre psicologia, enfim, cresci como homem lendo estes escritos tão saborosos.. Também aprendi a admirar uma bela mulher vendo-a na tv ou nas páginas de Homem,  em outubro de 1976. O ensaio foi de Tripoli.

                                                      dos arquivos incríveis

09 abril 2013

UM 'DECA" UM DECALQUE


        Manero na Namorada*

           Por Marco A. de Araújo Bueno

   Manda mais maneiro, mano, - manera! Manerar, -  maneirou. Na namorada só.


*Deca: Microconto de dez palavras


     
                                          TRANSANTÔNIOS LUSÓFONOS


LOBANTUNIENSES – Exercícios de decalque
Tenho antônio no nome também
(o Lobo, agudo; o meu, – circunspecto)
Perdi um carro com selo distintivo belíssimo
(Wolfland)
Suponho aludir ao Território do lobo, e não tenho Antunes no nome, nem antagonismos muito ao contrário, então apraz-me esparramar meu texto como ele faz ao simbiotizar-se com os dele.
Aqui é para contar como brotou duma artéria viária preferencial que atravessei
em perfumado crepúsculo e tomei tremenda porrada lateral , uma moça
O carro era um Logus e calhou que eu não tivesse razão neste sinistro.
Veio a jejuna motorista Carolina e porrou a lateral do carro. Assustei-me, noprenuncio de uma sina revisitada
(é que a parva tomou o breque pelo acelerador)
Faz vinte e três anos, um ancião acompanhado da esposa velhinha cometeu o mesmo desatino de motricidade e porrou um Fiat 147 que eu guiava. Era um velhote turrão que errou igual à jejuna
(que se fazia acompanhar pelo filinho atado ao banco traseiro)
Cicatrizes, cacos de vidro purulência incrustados no rosto, pálpebras. Mais tarde, dada a lei da gravidade e minhas pesadas leituras fiz-me operar das pálpebras empapuçadas
(Pitose, o nome da intervenção cirúrgica que uma médica oriental cometeu)
Deu-se que minhas pálpebras não se fecham a contento seja para dormir seja para banhar-me
- Perdeste o automóvel ?
Sim, perda total e outras perdas de autonomia.
Mais tarde ainda logrei instalar-se em mim uma prótese.
(Acetábu-lo- assim literalizo a grafia do nome do osso cujo o fêmur dardejava)
No quadril: Titânio por fora e cerâmica na concavidade. Cerâmica na bolota do fêmur convexo; conjunto não-cimentado que hoje cuido pra que não quebre, que não me dê nuanças de perda total
(PT; salvação)
O primeiro Logus naufragou nos vales, Valinhos do Adoniran;
O segundo foi porrado na travessa José Lins do Rego.
Acudi a ambos!
A seguradora acudiu-me o carro.
E hoje lendo o quarto livro de crônicas do António Lobo deslizo-me, biônico, com meu andador e sonho com voltar a pedalar pelos vales e jogar futebol
(a evitar caminhos com o nome de grandes escritores)
Pois sim.

* Pseudônimo de Antônio D'alemar

06 abril 2013

ESPLÊNDIDA



Daisy era feliz porque a porta se abriu dentro do sorriso dela, amarela margarida cultivada em vasinho de verniz, comprado no supermercado à esquina de casa. Tem durado o suficiente, pois recebe adubo, banhos solares e de água corrente todos os dias. De vez em quando, pega umas chuvascas noturnas também, choros de lua, serenos que funcionam como lustradores das reentrâncias petalares a acumularem poeira, asfalto, olho grande... Frágil, porém hábil e eterna em sua circunstância fugaz. Fazia a fotossíntese das experiências.

Percebeu que a planta era extensão do cuidado de seu corpo. Se a saúde ia mal, a flor murchava na janela, virava o talo para longe da rua, abaixava a cabeça, antissocial. Na tristeza, era proibida de tocar nas folhas, que logo se punham adoecidas, de cor marrom-escura. Assim como absorvia o calor das manhãs, captava a energia das pessoas. Os adultos eram seres muito carregados, notava através das áureas índigo quando próxima das crianças a brincar na praça. Vindos do trabalho, saídos da frente dos aparelhos televisivos, celulares, computadores, acabavam se mecanizando, perdendo fluidos - eram parte seiva, parte óleo. Todos os ciborgues deveriam tirar um dia na semana para um passeio ao mar ou à cachoeira sem temer a ferrugem; ir às montanhas, aos parques, a fim de se reconectarem com a natureza, que é consigo no signo próprio do ser e com o próximo: abrigar o interior no equilíbrio.

Houve uma tarde em que se arrancou os mal-me-queres feito ervas daninhas e bem se quis sozinha. Foi quando um colibri a beijou e saiu a flutuar quase sem asas, pelo movimento veloz de se fazer sumir em pleno voo à ilusão de ótica dos humanóides. Daisy foi polinizada, então abraçou suas sementes como quem põe seus rebentos no colo. Depois que germinou, passou a ser povoada. Transformou seu redor em jardim.

Daisy (do inglês) traduz-se por: margarida; bem-me-quer; coisa esplêndida.

05 abril 2013

POR FIM


Por fim

Por Luiz Contro


deixo de pedir
tua atenção de leitor
pra me despedir

três anos e pouco mais
de assuntos muitos
de iguarias desfrutadas
palavrarias compartilhadas

a fatura da literatura
cobra processo
reiteração do escrever
dedicação ao cadinho
de onde pode pingar
algumas palavras que
no experimento da combinação
pode revelar doses de sentido
até mesmo de beleza

é o que levo
e se puder ter deixado algo
também muito valeu


(agradecimentos especiais a Marco Araújo Bueno pelo convite e inclusão, e a Rafa Noris pelos muitos acertos nas postagens. Aos parceiros de colunas, até as próximas...)


04 abril 2013

CANTIGA




Por Marcelo Finholdt



Flores novas, muita cor:
Plantei, encharquei d’amor
Num mar de inconstantes ondas.


Flores novas, muita dor:
Plantei, encharquei por pôr
Num mar de inconstantes ondas.

  
Mia senhor as enviei
Quanto então as despejei
Num mar de inconstantes ondas.


Mia senhor as entreguei
Quanto então as replantei
Num mar de inconstantes ondas.

02 abril 2013

DA MORTE

Por Vítor Queiroz


toda a vil cobiça é abandonada,
e cadê a iluminação?

cadê a foto do primeiro Buda
no fundo do poço?

cadê o espelho do Buda
que salvou a aranha e sua teia a samambaia e o revólver?

o tédio o morro a taquicardia
os ventos uivantes e o óbvio ululante?

cadê o fundo do poço, aliás? 

uma das pedras musguentas
do tanque
perorava tentando encobrir o zumbido inquieto da libélula,
toda surda e transparente:

"- Vamos, não fique a vontade na casa
desse Buda!

Passe voando, criatura,
pelo deserto chamado "Aqui Não Mora Nenhum Buda"."

mas cadê a rã a pedra o musgo e a transparência
cadê o número um?
"Aqui Não Mora Nenhum Buda"

um a foto da primeira iluminação
uma cantiga
uma estação que favorece a instrospecção
e certo hermetismo
uma balada elizabetana
uma dor de dentes

cadê?
cadê?
cadê?
cadê?
cadê?
cadê?
cadê?
cadê?
cadê?

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