30 junho 2012

INVESTIDA



Risca de giz o meu brim
Rasga meu jeans
Mete o cetim dentro da calça
Arranca minha alça no dente
Sente o nosso tecido nervoso?
Levanta esse vestido até o umbigo
Vê minha calcinha de renda
Renda-se a cada fio de meia ¾

Vamos para o quarto de despir
Quero sentir seu aveludado
Novelo de lã em pelo na anágua
O fechecler não quer abrir
Desafivelemos com calma
Meu modelo, já o quero nu
Estou sem sutiã
Olha quanto eu suo!

Nós nos amamos sobre a trouxa de roupas
Sujas estampas que logo poremos a lavar
No varal, uma cueca branca entre as rotas
Denuncia por onde tentei lhe desabotoar

Meu batom também manchou o colarinho
E enquanto as nossas peças não enxugam
Na máquina a centrifugar peço outro carinho
Em cada poro sem ar que seus beijos me sugam.


28 junho 2012

O DESPEITO DE MAFALDA


Mote

Não mais sei se xingo ou se amo.
Será que amo e não mais finjo?
E se finjo não reclamo,
Pois reclamo e à pena tinjo.

Glosa

Despeitada e com enganos,
Doce amiga e confidente,
Não mais sei se xingo ou se amo
Este... homem inocente.

Será que amo e não mais finjo?
Este tal... inconsequente,
Pelo qual eu quase infrinjo,
Meus conceitos mais latentes.

Tento, finjo que não sinto,
E se finjo não reclamo,
Esse amor, tenaz, distinto.
Então clamo: Vem meu amo!

Quanto mais a vida passa,
Mais eu amo mesmo e cinjo,
Vou, reclamo que ele faça...
Pois reclamo e à pena tinjo.

27 junho 2012

26 junho 2012

SEXTA




Sexta


Sexta-feira, manhã nublada, era um daqueles dias em que ela mal acordava e, antes mesmo do café solúvel, deixava-se dissolver pelas poucas páginas do jornal do bairro. Sem pressa, sem ânimo, sem prioridades; entre a letargia e um leve impulso masoquista. Pulava o editorial e as primeiras matérias pagas com fotos de gente familiar ao seu cotidiano. Deixaria pro fim os fragmentos naturalistas que lhe devolvessem algum senso de realidade. Pularia a leitura de seu próprio signo no horóscopo e a de seu próprio obituário se fosse o caso, baixa probabilidade, de que o jornal, desculpando-se alhures, fizesse menção à existência dela ao noticiar seu passamento. Baixa probabilidade, pois jornais de bairro não trazem obituários, tratam a morte pelo seu avesso. A programação cultural então, nem pensar. Ficaria aflita com a idéia de diversão compulsória para mais aquele “f.d.s.”. “Ótimo “f.d.s.”! Ou “Curta bem o seu “find”!, era o que lhes desejariam seus e-mails ao final do dia, referindo-se ao sábadoedomingo, inexorável.
Adorava começar e interromper a leitura de mini-matérias edificantes, novidadeiras de ruminações. Suspendia-lhes qualquer desfecho moralizante, rindo-se da idéia, segundo a qual, escrever é como falar sem ser interrompido. Pois não só interromperia como completaria a leitura com um outro assunto qualquer, buscado a esmo, de trás pra diante, de qualquer jeito. Importava manter a letargia plena de significados desconexos, abertos; e que a manhã se mantivesse nublada, sem chuviscos nem meio-sóis.
Se passava algum desconforto numa vista d’olhos pela coluna social, logo o aplacava, divertindo-se: isso sim é que seria probabilidade baixa! Mas, sabe-se lá, por um capricho de angulação imperfeita, em evento qualquer...e ela ali capturada fora de foco, em movimentação bizarra - um escotoma, ela! O ponto cego de um fotógrafo. Foi quando notou, em ângulo aberto, uma figura conhecida, ainda que anônima. Sentiu o reverso de um encantamento, uma familiaridade brutalizada, esvaziada de toda uma certa magia que, certa vez, a recobrira. A tal senhora que lhe parecia tão enigmática na ocasião em que proferiu uma sentença quase mística, oracular como no horóscopo: - “Cuidado para não perder a sua identidade!”.
Foi numa floricultura do bairro (entrara só por entrar) e, logo ao sair, perplexa com a suposta profundidade da sentença proferida pela cotidiana senhora, notou que a carteira de identidade lhe saltava quase um terço pra fora do bolso traseiro do jeans.
E como o incidental da coisa não lhe chegasse a provocar algum riso, da mesma forma não mais prazer conseguiria com aquela desleitura de jornal de bairro.

24 junho 2012

APOCALIPSE



Apocalipse

Por Paula Miasato


Querem que eu acredite que sou louco. Talvez eu seja. Não pelos meus 100mg de fenobarbital e 10 mg de diazepan diários, afinal eles foram apenas consequência do estupro psicológico que sofro há 20 anos. 
Estupro psicológico sim. É o que acontece todos os dias. Todos eles querem que eu acredite que sou louco. O serviço público não permite autenticidade e honestidade. Foi o que eu ouvi. Hoje. "Seu jeitinho incomoda"... Respondi como respondo há vinte anos: "Foda-se!".
Enfiam o pau sebento do sistema do funcionalismo nos meus miolos diariamente e depois eu é que sou louco.
Não. Eu não sou louco... Talvez um pouco, quem sabe por permitir ser violada diariamente pelo sistema durante vinte anos consecutivos e abrir mão do meu humilde sonho de vender sanduíche natural     pelas praias do litoral brasileiro. Sim. Talvez eu seja louco por sentir vergonha da minha covardia.
Sou um covarde. Abaixo os olhos e a cabeça ao passar pelas ruas. Sinto vergonha. Sou um covarde.
Sinto orgulho. Sinto vergonha e orgulho. Nunca compactuei com o sistema. Sou um sobrevivente, não um louco.

Originalmente publicado no blog coletivo De Chaleira
http://www.e-chaleira.blogspot.com


23 junho 2012

BOBCAT GOLDTHWAIT


Esta não é uma coluna para analise de qualquer forma um filme, ou do diretor em si,  mas sim uma necessidade de dividir uma descoberta de ouro. Algumas pessoas já podem estar reconhecendo essa foto ao lado como o personagem Zed, famoso nos filmes da Loucademia de Polícia dos anos 80, e interpretado pelo comediante Bobcat Goldthwait. E para mim, ele era só isso, um ator que gritava muito, até que me deparei com um filme do ano passado chamado God Bless America. A história de um homem que descobre que tem câncer no cérebro e começa a matar pessoas na mídia que ele acha que influenciam mal a população e não merecem viver. A premissa não é muito inovativa, mas os diálogos são realmente inteligentes. Num mar de filmes como Prometheus, Dark Shadows, A Dangerous Method, e outros que nem sei o nome, pois não tinham um alien (pois já não espero muito do Ridley Scott), um Tim Burton, um David Cronenberg, para me dar a ilusão que vão ser bons, achar um filme inteligente como esse, dirigido e roteirizado pelo cara que gritava engraçado no Loucademia de Polícia, é achar ouro! Mas não acaba ai, antes desse filme, ele dirigiu um outro, World´s Greatest Dad, que tem como protagonista o ator e comediante Robin Williaws. Sim, o mesmo grande ator que na última década só tem feito lixo, e nesse filme trás uma ótima performance, pois ele tem um realmente inteligente roteiro para trabalhar. A história, como pode ser vista no trailer, é sobre um escritor sem sucesso que tem de lidar com um filho idiota. Essa é a trama pelos primeiro 20 minutos do filme, para depois tomar um rumo totalmente inesperado. Outro ouro!


Veja os trailers:
World's Greatest Dad

God Bless America

22 junho 2012

20 junho 2012

A UM LIVRO QUE NÃO SE DEIXA ESCREVER

Por Cecília Prada

Vem, Livro, senta aqui ao lado da minha cama, pega na minha mão, vem, eu não posso dormir de tanta tensão - tenho de te parir. Afaga a minha cabeça, me põe no colo - ou sou eu ‚ que te devo pôr no meu? Eu sou tua escriba. Você me usa para se expressar, impiedoso, ambíguo, quando quer, teu bel-prazer , se escorregando nas pontas - peixe ensebado , se negando, sem se entregar.Eu estou exausta.Você não podia vir se derramando sem mais frescuras, todo fluência e se contando?

Não. Você tinha de ser feito de pedra, como tudo. Livro-pedra no sapato. Queria te pensar gostoso, livro-sorvete, se derretendo no céu da boca, sorvete de limão no calor, chazinho quente no inverno. É assim que os livros bem comportados se comportam.Vai.Senta a¡ ao lado da cama,na minha madrugada insone. Vai me contando uma história, Livro. Pode ser a tua. Ou a minha, melhor. Sou toda ouvidos. (ah! isto o que eu queria ser, não mais a menina faladeira, a que fala pelos quatro cotovelos literários, mas a menina que escuta histórias imemoriais...)

E aí, depois de um breve silêncio, ouviu-se o rascar de um pigarro leve, depois, tímida, uma vozinha que parecia sair da estante (possível?) e que disse "...se não fosse Édipo e o casamento, o que haveria para se contar?" – era ninguém menos do que Roland Barthes, tentando ajudar a escritora a resolver um Ponto de Nó do seu relato autobiográfico.

19 junho 2012

TOADA GONGÓRICA


 A TEOFANIA
parte 5

 

Nhô, escuite bem a voz d´aquele
que um dia servio aa senhora
sua vontade n´alguma grota escura

e sempre guiava manso o cabrio 
d´algum descampado até a boca 
ronca, até o toco de sua parentella!

No coraçam particular de sua própria 
gente, veve o sol quente, o eito,
e o opróbrio permanente do povo

do Egypto. Apois, escuite direito, nhô,
do areal o êrmo bravio: Avrah´am
Ytza´ac eY´ekhev por aqui já houvero

de passar (que todo deserto é igual,
vestígio ou ausência) e na costela 
de cada vivente, de cada um dos filho 

de Adam a brasa do desejo e a cinza
da necessidade ainda o mistério, 
desta sarça ardente, translúcido, aviva.



18 junho 2012

ÁGUA SALGADA

Por Guilherme Salla




Nada, vejo o não.
Aparece, desaparece.
A vista é clara,
límpida, translúcida.


Nada, a paisagem
insípida, incolor,
o vazio preenchido.


Nada, um risco
na retina opaca
reflete em vão
um resto de luz.


Nada, o navio naufraga.
Nada vê o olho aberto
boiando na cara.




.

17 junho 2012

O CONHECIDO


·        
O Conhecido


     A pressa e a fome transformaram o omelete em ovos mexidos embora o resto de feijão com farofa rendeu um quase-tutu de primeira!
 Viver sozinho está me transformando em um especialista em grudes e gororobas! 
    Depois do rango, licor, punheta, cigarros e TV ligada até que eu pegue no sono e esqueça que o "agradável" silêncio da cozinha se estende até o quarto.


16 junho 2012

13 junho 2012

SANTINHO

Por Alvaro Posselt

Dentes perfeitos no sorriso lindo. Tão bonita e infeliz nos relacionamentos.
Até fez a simpatia do Santo Antônio emborcado no copo d'água.
Cupidos não faltavam entre os amigos.
Na festa de aniversário, levaram um bolo surpresa.
Comeu um pedaço e sentiu um estranho estalo.
O dente da frente quebrou-se ao morder a estatueta do santo casamenteiro.

* Do livro "A brisa é você"

12 junho 2012

'EXPEDIENTE MATERNO' VIRA 'DODECA' NO PERU


[DECAS MONOFRÁSICOS POLIGLOTAS CRESCEM NO PERU...]

Expediente materno

Por Marco A. de Araújo Bueno

Ante el temor de que sus hijos se cayeran, forraba los portarretratos.

Marco Antônio de Araújo Bueno (Sao Paulo). Es psicoanalista y autor de cuentos de
ciencia ficción. Ha publicado su tesis doctoral Brevidade e epifania na micronarrativa contemporânea.

           CAPA

[Antologia "Fix100" - Peru  latinoamericana de Microficción]

Centro Peruano de Estudios Culturales

10 junho 2012

ANTONIO


guignard

Antonio


Era a vontade pungente de amor que movia os corpos nas ruas do Centro. Desiludidos, machucados e feridos, eles se inteiravam da dor do outro, da falta de completude, da vontade de completar-se de passado. O olhar seguia a silhueta que ele fazia. Alta esguia e triste, do seu peito deflagravam cores, fortes que a arrebentavam. Tiros de cor: vermelhos, verdes, lilases, mas sempre com uma força bruta de uma besta faminta.
A cabeça sempre explode a essa primeira lembrança, pois flanando silenciosos entre as ruas de pedras portuguesas, suas ausências gritavam mais alto que o zumbido dos passantes. Só que gritavam pra ela, apenas pra ela. Pois nele ela não entrava, não era, ele, invadido.O silencio que permeava as passadas só acentuava a vontade dela de fugir. Mas o silencio dele sufocava, pois pintava. Estava virando tinta aos olhos inquiridores de sua observadora. No olhar que ele desviava sempre e na timidez que ambos nutriam. Lá estava ela, mais uma vez vivendo um momento ESTOCOLMO.
Como será que ele chora? – essa era a pergunta latente nela.
Será que se as gotas ao caírem em uma folha branca viram lindos quadros? Será que seu rosto fica multicolorido? Sua roupa salpicada, por sua dor,é feita de cor?
Isso aflige, pois pra ela salvá-lo da dor em seu mundo mudo e preto e branco, é sua forma de ser menos Isolda e mais Tristão. As cores formam furacões num paradoxal movimento de apreender em translucida forma tais tintas, SER vibrante como ele É, e não mais percebe.
- PERCEBA – ela sussurra em súplica.
E a fuzilaria acontece, de dentro pra fora de fora pra dentro, e o labirinto de pinceladas, colagens, imagens e montagens. Enquanto, liberta o grilo falante, que medrosamente não sabe o que faz e como fará para equilibrar tantas intensões em palavras. Não é necessária muita cor, preferindo sempre o branco e o preto, o papel e a caneta o espaço entre eles que guardam universos, isso basta em alegrias e tristezas. Acredito, eu, que se ela passar a língua em seu corpo vai misturar mais as cores e sua saliva ficará doce. E sim, seria um banho de gato só para vê-lo sorrir. Afogar-se em uma piscina de cor, quem não quer? Quem não desejaria? Todos... É cor, que queremos sempre, numa busca constante, pois o horizonte é uma linha que se delimita abstratamente na mente. Mas, transpor horizontes é salpicar-se de cor, ele é feito de horizontes.
Cada corpo possui sua intensidade, cada corpo é um oceano. O dele, pela forma como se compõe, é o Atlântico, quente e inexplorado para aqueles que não sabem navegar. Ele sabe que precisará atravessar, precisará crescer... Dentro e fora, cair e levantar recomeçar, infinitamente como sua pele tatuada um oroboro temporal.
Sempre observando o viés, o modo felino que ele anda, e o menino nos olhos atrás dos aros grossos dos óculos, que a faz olhá-lo bem.
Em dado momento, vê-lo de cabeça erguida, menos machucado, mais confiante é sua potencia duplicada no corpo dela pelo corpo dele.
É a minha impotência literária evidenciada, pois me faz pensar: Como fazer para isso ocorrer, para eles? Personagens reais das minhas lembranças não consumadas, pessoas que são ecos da minha memória futura... Como fazer? – me questiono contorcendo-me na cama vermelha preenchida por cafés. E sonolenta olho meu mural, há nele duas miniaturas de Modigliani me fazendo lembrar eles, me fazendo reverberar eles. Que a cor dele é mais, a vontade dele é mais e ela é espectadora da cor transbordante nele.
Isso faz refletir,ao imaginá-los, que só um pensamento havia; quando ela se aproximou e até hoje tenta conhecê-lo:  compartilhar! Mesmo estando branca para autopsia sem anestesia, do distinto cirurgião que a observava de tempos idos, através dos olhos que não foram pintados. Amadeu permeava suas dores diferentes e xipófogas.
As perguntas brotam, pois ativam a criança interna questionadora, sedenta por respostas simples e irrespondíveis; como: por que o céu é azul? Por que existe brisa e vento? Por que as cerejeiras nascem rosa e ficam brancas? Por que existem bonsais? Por que o amor machuca? Por que continuamos buscando o amar? Por que existe arte?  Por que... Por quê? E nada é resposta! Nada é todo o silencio desse que não sabe nominar, nesse que pretensiosamente ela quer salvar.  Que no fim indicam minha salvação,  por fim ele me salva...

08 junho 2012

CANINHA


Caninha


A cana plantada
A cana inclinada
A cana cortada
A cana sujeito

Pra onde foi o sujeito?

Humano esgarçado
Humano talhado
Humano esbagaçado
Humano migrado

De que lugar é o sujeito?

Sujeitado
A-sujeitado
Negado
No açúcar
No anidro.




07 junho 2012

TILINTARES


Tilintares



Uma corda perguntou a outra como era possível viverem tanto tempo juntas sem nunca, nem ao menos uma vez, dizerem a mesma palavra? A outra corda respondeu que não eram as palavras o material com o qual faziam sua arte, sua vida. Os tons são o que entoavam essa melodiosa forma de viver.

Uma corda agora que soube dar nome aquilo que se transforma em seu verbo – viver, artear, paralelar, ressoar, desprender, dispender … – e quase como uma convocação, indagou novamente para outra: comprometeremo-nos, pois, tonificar lado a lado?

Outra corda respondeu: não são com-promessas que faremos nossos verbos tornarem-se tons. Mas con-ação, com-posição e con-sideração que entoaremos, mesmo que desafinadamente, as canções que embalam nossos tilintares. Exatamente porque não temos um mesmo tom para oferecer, com-binaremos os nossos e os que virem a posteriori, no dedilhado movimento de nossas vidas.

05 junho 2012

INTERVALO COMERCIAL - FICÇÃO CIENTÍFICA

 Por Vitor Queiroz 




Lucienne L´accord abriu, então, a portinhola da direita. A escotilha toda esburacada, vidrões partidos, derrubada mesmo.
A lataria tronchou, pipocando... um gemido na fresta... Mocréia... outro abalo na frincha dos tempos verbais. Vá se fuder, biscate!
Lucienne L´accord, cheia de fuligem, berrava, perdida no meio daquela estúpida paisagem lunar. Maquiada na desgraça. Basta, pra mim chega, o rímel escorrendo.
Buceta!
 Fugia, pra quê? pra onde?, tropeçando nas próteses, nas suas próprias pernas de plástico. As suas de carne ossos nervos e epiderme haviam sido arrancadas pelos marcianos vingativos. Bum!... O ESTOURO com letra maiúscula, no quando entretanto:
Buceta! e a nave obsoleta, toda enferrujada, explodiu atrás da moçoila. Basta de marcianos. Lucienne L´accord ainda teve forças pra cuspir entredentes e, pimba, caiu de bruços na lua.
Branca imensa cafona e deserta.
A nave, sem quê nem pra quê, desintegrava peça a peça, no horizonte estrelado e um par de reatores seguia o rifão de Lavoisier no caos da galáxia: alta ciência alienígena pulverizada, afinal, em terra em cinzas em supernovas em sombra em nada. 





02 junho 2012

VORAGEM



Armas, amarras mais que antes.
Amavas mais o mar que as próprias amantes.


Ancoradouro dourado de sóis.
Teus abraços eram distantes tais sonhos por sobre os lençóis.


Ácaros revisitavam teu sono de Ícaro, 
Enquanto as asas invisíveis viam-se, meio assim, de viés.


És as reveses esquecidas debaixo da cama,
Poeira, sêmen: lama.


Pés descalçados em busca do piso que não achas.
És frio, um abismo cheio de pausas...


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