31 janeiro 2013

ÀS ESTAÇÕES

Às estações!
(escavando o fundo da furna "escavável")

Por Marcelo Finholdt


São tantas
que
nem
de
mim
sei.

Não sei se
choro
ou
debulho-me

,
nem mesmo
sei
se
hoje
bebo
de
mim.




30 janeiro 2013

ME, MIM, COMIGO


Me, mim, comigo

Por Alvaro Posselt

Eu e meu amigo imaginário brincávamos no jardim.
Meu amigo imaginário fez toc toc toc na minha cabeça e perguntou:
- Tem alguém aí?
Para nossa surpresa alguém respondeu.
Eu, meu amigo imaginário e alguém brincamos a tarde inteira no jardim.

26 janeiro 2013

ÍNDICES*


                                                                         Por: Paola Benevides
Rush hour II  by Caras Ionut
A agenda não age por você, anota uma ação para não esquecer.
A bússola não aponta um caminho certo, só ajuda na localização.
A mãe não cria um filho para si, o mundo fará parir o seu destino.
O carro não guiará sozinho, mas as viagens lhe trarão mobilidade.
O avião não decola por ser leve, suas asas que o sustentam no ar.
O amor não perde a direção, paixão é o pior cão de cego que há.
A calculadora faz suas somas, mas quem presta as contas é você.
A lavadoura só lavará roupas sujas se forem trocadas em miúdos.
A vida continua quando a morte deixa, questão de saúde e sorte.
O pente induz a eletricidade estática, não move um fio sem a mão.
O pênis só irriga até a cabeça se, erguida, não falhar seu coração.
O tempo assa carne, o pó da ampulheta salga o ser, bem passada.
A hora de viver já está programada, os ponteiros são duas pontes.
A travessia se dá entre abismo e monte, alcançará o que escolher.
A chegada será quando se der a partida ou ao se puxar o gatilho.


*Índice dentro da Semiótica é um signo indicador. É quando o significante remete ao significado tomando como base a experiência vivenciada pelo interpretador. Por exemplo, ao ver uma imagem de um carro sem a maçaneta, estando apenas um buraco no seu lugar, isto é um índice de uma tentativa de assalto. Mas isso só se torna evidente porque temos experiências anteriores com assaltos, seja através de experiências pessoais, seja por reportagens vistas no telejornal diário. Segundo Peirce o índice opera pela conexão de contigüidade de fato entre dois elementos.


23 janeiro 2013

HAICAI DE VERÃO


HAICAI DE VERÃO

Por Alvaro Posselt

Vai trôpego o bêbado -
Na mão um ramo de hibiscos
pra se segurar

22 janeiro 2013

Feliz Ano Novo - 2


ÁGUAS
DE
OXALÁ


5.A CABANA DE OXALÁ


Folha verde!
palha de coqueiro um lenço
um laço branco



Folha verde!
tudo muito bom
tudo muito bem amarrado
e a sua cabana
já tá feita, orixá.



Oxalá, meu pai
e minha mãe,
vem morar no meio do povo!


6.IGBIN

Rum rumpi

toque de aguidavi
debaixo do alá:

Os orixás tão chegando!

Aguidavi: varinha, baqueta utilizada para tocar a família de 3 tambores do candomblé Ketu: Rum, Rumpi e Lé
Igbin: Toque de Oxalá; caramujo, "boi de Oxalá", animal consagrado ao orixá.


7.OS ORIXÁS CHEGARAM!

Rum rumpi

caramujo deixa
(e não deixa) rasto no mato.

Epê êeeeee, babá!


8.ALVORADA

Tudo quieto!
O alá, teto de brancura,
tremeu -
um vento, um clarão.

No chão molhado, ainda escuro,
o velho orixá passeia

Epa, epa Babá!

21 janeiro 2013

FAZENDA NOVA

Por Guilherme Salla



Quando cai o pano
do ano que termina, 

sobe a bandeira
branca do novo ano.

O tecido infindo
do tempo costurado
com linha branca,

cobre tudo e todos
sob a tenda de linho.

Alvejar o passado
com água sanitária do futuro.
Almejar o tecido passado,
alisado e sem vinco
cheirando à lavado.




.

20 janeiro 2013

TUDO OUTRA VEZ




Por Regina Zamora

Consola e desconsola
nosso singelo coração,
onde moram
todas as certezas
do sim e do não,
os sabores e dissabores
do que é ser humano,
às vezes constante,
às vezes, distante,
estruturados,
desestruturados,
amado, não amado.
Sangra...
o ar ventila, seca...
e nesse sangue pisado,
as lágrimas veem
e lavam nosso peito,
que, como em tudo,
nos dá o direito
a um recomeço.
Daí...começamos
tudo outra vez...



Publicado no Recanto das Letras
Código do texto: T3027160

14 janeiro 2013

AGORA DE NOVO NO TREZE!


                                                       ILUSTRAÇÃO - Por Felipe Stefani *

BEM NO CENTRO DO CENTRAL PARK

Por Marco A. de Araújo Bueno

Bem no centro do Central Park
Duma cidadezinha provinciana
Eu te interpelaria, assim:
Ei, olhos vesgos:
Saiba que teu magnetismo atroz
Provém desse estrabismo sim !

Que isso vem desde James Dean-
O astro- e, passando pela sestrosa
Atriz de Luz Del Fuego – a Santos
(pós-marqueza, pois sim!) ,
Incendiou o Fidel Castro e,
Inda hoje, enfeitiça a mim ?

E tu, erguendo a lata de energizante:
Well-Welch, vich, poeta do instante,
Dum bardo, o the best!
Te isnpiras uma Readers Digest,
Ou este tédio sem fim
Bem no centro do Central Park ?





* Ilustrador do blogue coletivo De Chaleira


12 janeiro 2013

AMOR

Por: Paola Benevides

Linda Ganstrom, "Cosmic Egg".

A cada dia te sinto melhor em mim. 
É como um embrião crescendo no íntimo do corpo, 
a gente estranha às vezes, mas depois que desentranha, 
soa como uma oferta ao mundo em felicidade. 
Explosão de estrela embelezada pela distância da noite. 
Só a projeção espacial saberia dizer 
as milhares de implicações solares dentro do cosmo. 
Aérea, viajo por osmose na tua companhia. 
Estendo as mãos para colher tua cadência 
e guardo os sonhos nos punhos. 
Olha que nem são pequenos, 
a alma suga o que é de bom quando ela se põe grande. 
Descobri que sou um ovo de avestruz intergalática
e ainda dou de mamar a quem me ama.


08 janeiro 2013

FELIZ ANO NOVO - 1

ÁGUAS
DE
OXALÁ



1.AJEITAR O ALÁ

Alá, teto de brancura,
abraçado
contra o peito. Vento nas folhas, vento da vida inteira...

Alá: Grande pano branco, pálio ou manto estendido em homenagem à Oxalá...


2.PRIMEIRA VIAGEM

Solo

Fui e voltei,
virei poeira

estrada canoa 
ônibus légua

tirana. Só pra
tirar as nódoas,

encher d´água
sua camisa, Babá!

Côro

Pra lavar
as ferramenta

do pai
de toda gente
de tudo...


3. SEGUNDA VIAGEM

Água
transparente, uma camisa vidro
sem cheiro
nem cor sem forma nem linha
nem gosto
nem pecado
na cabeça
na orelha, nos óculos
no pescoço

Tira tudo nas água, Oxalá, e traz depois tudo de novo.
Epa Babá!


4.TERCEIRA VIAGEM

Folha verde!
já brotou
nos mato de anteontem,

a quartinha santa
agora tá enfeitadinha...


07 janeiro 2013

A PALAVRA CHUVA

                                                    d'OS arquivos incríveis de J.Bührer*

*Usar a lupa com o nosso Eustáquio Gomes!

04 janeiro 2013

CLASSIFICADOS


Classificados

Por Wlaumir de   Souza

As escritas escolhidas
Alcançadas na multidão dos vocábulos

Vastidão de sinônimos
Tão iguais andam ao par
Respeitando a diversidade das expressões
Puritanos de partido único
Solitários na multidão de si  mesmos
Sussurram uns nos outros


Lástimas dos antônimos
Em guerra nos sentidos
Na revelia da conformação
Olhos tortos quase caolhos
Um para cada lado
Dispares querendo o impar

Minutas perdiam na espera
Embaralhadas na anciã inspiração

03 janeiro 2013

O FRACASSO DO FEITIÇO



(Cantiga de Escárnio-09/2010)
Por Marcelo Finholdt 


Mote
Certa Bruxa com vassoura
Espalhava a bruxaria,
Tinha pose de Senhoura,
Encantava a velharia.


Glosa
Espalhava a bruxaria
Com seus olhos verdes d’água,
Todo o asilo então gemia
Quando a tal erguia a anágua.

Encantava a velharia,
Pois noviça assim, de fato;
Sempre quente: nunca fria
Era mesmo o melhor prato!

Tinha pose de Senhoura,
Mas foi vista então sem capa,
Quando os velhos, na salmoura,
Revelaram que era Sapa!


Certa Bruxa com vassoura?
A vassoura foi sozinha,
Quem saltou da manjedoura
Foi a gorda coradinha!

01 janeiro 2013

COISAS DO GONÇALO (ESPECIAL)





“Quais são as situações em que determinados versos se tornam claros e inequívocos?

Isto é, poderemos nós dizer que, tal como há elementos químicos que só se formam sob determinadas condições atmosféricas, também existirão certos versos que só ganham sentido quando enquadrados numa determinada situação narrativa? O exemplo que anteriormente foi referido parece ir nesse sentido.


Poderá, assim, desenvolver-se a teoria de que o verso mais obscuro, mais inatingível, ou mais irracional passa  ser aceito com normalidade, no caso de o leitor colocar o verso no meio de um conjunto de frases que constituem uma história.


Assim, poderemos defender que cada verso é o fragmento de uma história que o poeta, ou por distração ou pelo instinto de ocultar, resolve apagar ou diluir. Um verso seria, assim, nesta história, o indício de uma história.


O problema, então, é eu alguns poetas obrigam os leitores a imaginar histórias complexas para compreenderem um pequeno verso.


A questão é: e se o leitor não gosta ou não possui habilidade para contar histórias?


Aqui ficaríamos num impasse. O leitor diria: este verso é absurdo, e o escritor diria: este leitor é imbecil…” (O Senhor Eliot e As conferências)



; Gonçalo Manoel Tavares com quem , alguns chaleiras tiveram a honra de privar em curso nesse 2012.)

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