31 março 2011

SONETO XXV (EM VERSO ALEXANDRINO)


Por Marcelo Finholdt

"S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,"
Momento de grande depressão...

S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,

S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,

S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,

S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s.,
S.o.s., s.o.s., s.o.s., s.o.s. ...

 Música: Solidão - Madredeus
http://www.youtube.com/watch?v=CwO9lHwQ3R4

29 março 2011

JOSEPH HART VAUDEVILLE - 5


NOS CAPÍTULOS ANTERIORES a trupe do Joseph Hart Vaudeville tomava uma fresca na beira da estrada.

Nuvens ameaçadoras pairavam. Vai chover? as lonas e a possível apresentação dos histriões ficará comprometida? Boatos e risos de escárnio passavam de boca em boca: um anão e um pianista foram surpreendidos fofocando sobre o casamento e a conduta moral de seu patrão, Sr. Joseph.

E mais, não sabemos, se este e sua esposa teriam assassinado o velho proprietário Giacomo. Masenfim tudo está pronto, tudo anuncia...


Capítulo VIII

A MERDA

ou

O PRÍNCIPIO DO FIM


Jamais [ ................. 17pt. ] tudo & nada está pronto. Raios trovões projéteis. Veja só, Maria Amélia, estrangula a merda a merda. O quê? nossa garganta.

Mãos do pianista negro [ .... 4pt. ] pra que? de que adianta? você está vendo? Beletrar, anunciar, fazer e acontecer, intelligere. Bem pouco.

Pra que ler entra as linhas, pra que buscar a poltrona e o copo d´água.? Veja bem, a podridão está aí. Lona aberta, palma da mão fechada. Os ossos do pianista estão aqui. Clavícula, clavícula. Pela estrada afora.

Qualé a crueldade das palavras? Veja, Maria Amélia, o revólver sempre esteve engatilhado. Cai o pano. O palco, todavia, ainda está lá.

Nuvem? Mas borrasca não está no vento. Qué que as asas dos pássaros têm a acrescentar a este férreo parágrafo? Na beira da estrada [ .............. 14pt. ] não há nada. Prontofalei. Não há pedra que baste. Não há mais nada. Qué, Joseph Hart, que anuncia o bico do garnizé?



O ódio.


Redes de intriga tecidas com agulhas de osso e balas de latão. Não há prata num vaudeville tão, nas rodas dessas carroças tão, numa vida tão curta. Nessa vida de merda. Chove, Maria Amélia. Chove. Nessa vida de merda.

Não, não vou terminar tão cedo. Veja, tudo o que os bufos têm: enredos, rins, ampulhetas. Encharcados. O anão e o pianista sacudiram a poeira das mangas. Achtung! Nos tacões da bota do patrão caíram as primeiras gotas de chuva.

Que merda! gritou Bia Havel. Vamos ter que arranchar no posto, hein? Que merda.

Lonas dobradas, ferida a linha fina. Para cá, uma navalha cortou metade do quadro. Que metade? Nada, ainda estamos bem longe do tiro. O urubu voa alto. Para que serve, então, o bico dos pássaros?

Bem no meio do quatro, a linha fina. Metades que não são metades opostas. Falar, O´Brien, é acumular escombros. Achtung! Vai chover. Chove. Choveu. Quando, entretanto. Chove ainda. Urubu na frincha da carniça. Espoleta e pólvora.

Nebertheless. Na beira da estrada [ ........................... 27pt. ] não há ralo algum. Para onde as baratas fogem então, porra?

... e agora? os saltimbancos chegãro ao posto de gasolina antes do anoitecer? e quando o ódio finalmente sair dos bueiros e do cano dos revólveres? quem vai limpar a merda?

Quem varrerá os nossos ossos do chão?


NÃO PERCA, NA TERÇA-FEIRA, DIA 12/05 LIBERTE SEUS ESCRAVOS COM ANTECEDÊNCIA E CONFIRA O PRÓXIMO CAPÍTULO DO NOSSO FOLHETIM...



Nota Grafológica

[ .... 4pt. ] e quetais = Pausas, my dear. Espere 4 segundinhos, tome um gole de café e volte à página.




{ESTAMOS EM OBRAS}

OBRANDO E TECLANDO NESTE VALE DE TUDO

ESTAMOS EM OBRAS


Com o perdão da redundância. É para sinalizar alterações internas em nosso cronograma,
na dinâmica dele. Haverá medida cutelar sim, não obstante, ainda hoje e, em boa hora, mais um
capítulo do folhetim do colunista Vitor Queiroz na coluna Folhethin.

28 março 2011

CISCO



Aqueles grandes olhos viram
e voltaram suas pupilas
rentes às pálpebras,
roçando os cílios
uns nos outros.

A íris redonda
do aro saltada e o
Cisco, oportunista, pousa
e para na borda da vista bonita
que aqueles olhos viram grande.

Enquanto dava volta
soergueu as sobrancelhas
e do nada, pára e olha.
Segue fixo e seco nos cantos
olhando ao lado a mancha
embaçada.

Leva as mãos à testa,
tapa firme e solta.
Deixa a fresta que o delata
nem nota, pisca,
e, novamente, pisca.

Fechado ele era ainda
e nem sempre isso ele era,
era às vezes.
Não dizia nada
devido ao sentido
que não era dele,
mas das palavras.

Assistia atento
os lábios da boca.
Lacrimejava salgado,
engolia seco,
molhava as mãos,
empoçados nas palmas.

.

27 março 2011

LEMBRETE PRA MEMÓRIA

Leia no Mundo Livro uma extensa entrevista (na verdade, a íntegra da versão editada que foi publicada nas páginas centrais de hoje do Segundo Caderno) com o escritor Michel Laub qu,e hoje, no dia 27 próximo, estará na Livraria Cultura de Sampa, onde haverá o Lançamento de "Diário da queda", já lançado em Porto Alegre.Agradeço a gentileza da cessão do teor via
http://bit.ly/ertb5B

26 março 2011

VIA

Av. Aguanambi fotografada da janela do meu apartamento, madrugada qualquer, Fortaleza/Ce.

Tem gente que não trafega, naufraga.
Ao acimentar semente para germinar autoestrada.
Realiza a motorsíntese, inalando carbônico.
Gasolina e álcool como se fossem água.

O asfalto dá crosta aos pés sem destino do profeta.
Preto-tapa-poros na testa. Pare. Siga. É logo em frente!
Poucos sabem ler as fissuras de calcanhares mendigos.
Sirene. Ceroto. Semáforo. Senhora a atravessar rua.
Para se seguir à risca na reta, tem de se perder na torta.
Se vier a viver a mil por hora, alimentar-se de poeira deve.
Sem consultar relógio, nem cobrar taxímetro, me leve.
Os quilômetros ainda a percorrer fuligentam demora.
Pneus envelhecem, ficam carecas, grunem alto e fino.
A existência: essa eterna sucessãozinha de acidentes.
E cá nós estamos, entre mortos e deferidos.
Cantando o hino dos buzinaços.
Comprando passagens só de ida.
Fazendo ponto nos faróis de milha.
Verde. Amarelo. Vermelho. Volta.
Esmaga escaravelho* na faixa de pedestres.

*No Egito Antigo, escaravelhos eram seres sagrados, usados como amuletos relacionados com a vida após a morte e a ressurreição. Utilizados em mumificações para proteger o morto no caminho para o além. 

24 março 2011

TROVAS METAFÍSICAS




                                               por Marcelo Finholdt


Mote
Pensou tanto sobre a vida,
Que acordou perante a morte,
Logo a foice deu partida,
Foi-se assim, pensou sem sorte.

Glosa
Pensou tanto sobre a vida
No regaço das manhãs,
Sob o sol sentiu-se forte,
Cultivou idéias vãs...

Pensou muito, sonhou tanto
Que acordou perante a morte,
Em seus braços, acalanto,
Sem destino, rumo ou norte.

Pensou sempre, de saída,
Bem sem laços, sem afãs,
Logo a foice deu partida,
Repartindo então seu clã.

Agiu sempre a natureza
Mutilando a vida aos cortes,
Foi-se a vida com beleza,
Foi-se assim, pensou sem sorte.

22 março 2011

BEM NO CENTRO DO CENTRAL PARK

ILUSTRAÇÃO - Por Felipe Stefani *

BEM NO CENTRO DO CENTRAL PARK

Por Marco A. de Araújo Bueno

Bem no centro do Central Park
Duma cidadezinha provinciana
Eu te interpelaria, assim:
Ei, olhos vesgos:
Saiba que teu magnetismo atroz
Provém desse estrabismo sim !

Que isso vem desde James Dean-
O astro- e, passando pela sestrosa
Atriz de Luz Del Fuego – a Santos
(pós-marqueza, pois sim!) ,
Incendiou o Fidel Castro e,
Inda hoje, enfeitiça a mim ?

E tu, erguendo a lata de energizante:
Well-Welch, vich, poeta do instante,
Dum bardo, o the best!
Te isnpiras uma Readers Digest,
Ou este tédio sem fim
Bem no centro do Central Park ?


* Ilustrador do blogue coletivo De Chaleira

20 março 2011

A CEREJA DO BOLO

A CEREJA DO BOLO

Por Bia Pupin

É na cereja do bolo que todos prestam mais atenção, vermelha, saborosa e em destaque – bem ali no centro do bolo.
Raimundo era dono de uma tara sexual estranha. O seu objetivo era devorar mulheres, não se importava muito com os tipos. A dona do esmalte rosa lembrava sua mãe no trato com o padeiro, de quem sempre desconfiou ser filho. Já que sempre ganhava um sonho de presente em toda fornada.
Do pai, um escroto, ganhava boas surras. Ainda garoto, não entendia muito bem o porquê que sua imagem era tão negativa ao velho. Quando a mãe morreu, descobriu, o padeiro era seu pai. Estava escrito no diário de safadezas da mãe. Sua inspiração para o resto da vida. Às vezes o lia e se trancava no banheiro.
Grisalho e bonito, bem sucedido em seu boteco de esquina com suas frituras crocantes celebradas pelos bons amigos jornalistas - que ali faziam uma boquinha e bate-bocas homéricos.
Todo tipo de gente freqüentava a esquina, Natasha a mais linda das meninas de quadra, sempre faminta era sua cereja do bolo...
Natasha nutria por ele um apelo paternal, chegava e exigia!
- O que vou ganhar hoje?
Os lábios grossos, olhos meio puxados, pele vibrante e cabelos de índia, tiravam o sono do velho.
A menina, antes de tudo era de boa família. Quando o pai morreu, a mãe casou-se de novo, com um agiota violento. A menina se fez mulher por ele, mas foi com Raimundo que ela aos 15 se entregou.
Raimundo estava lá com a imagem daquela menina, mas dessa vez, com seu corpo mórbido.
Recordou como em um filme, da primeira beleza da menina e de sua explosão em uma bela bunda e pernas. Natasha sempre em suas mãos. Por hora, lamentava que ali estivesse, agonizando na beira da quadra.

19 março 2011

ALÉM DA VIDA - OS FANTASMAS SE DIVERTEM

Além da vida, o recente filme de Clint Eastwood, clamado por alguns, um dos seus melhores, não é muito bom. Podemos dizer que sim, a sequência inicial do tsunami é um grande efeito especial, mas mais nenhum elogio pode ser dado a esta obra cinematográfica. A história é clichê, os personagens, com a exceção do garoto inglês, não são bem desenvolvidos. E o final não faz absolutamente nenhum sentido. O que nos leva ao filme de Tim Burton de 1988, Os Fantasmas se Divertem, ou Beatlejuice. Uma verdadeira dramatização da vida após a morte, ou seja, burocracia, burocracia e burocracia, em que fantasmas ficam presos em casos no meio de desertos com minhocas assassinas.

16 março 2011

PROCISSÃO


PROCISSÃO (*)

Por Cecília Prada

O mundo, daquela vez, era lindo – o encantado mundo da infância. Os anjos dourados iam e vinham, principalmente na estação dos anjos: o Natal.
Na procissão, vestida de cetim branco, a menina de cabelos lisos e franjinha na testa sentia a lata da coroa encimada por uma estrela ir aos poucos apertando a cabeça numa dor intolerável, latejante, naquele calor de fim de ano. O sapato também, fechado, de pelica branca, novo, ia escamando lento e constante o seu calcanhar esquerdo. Ela levava um buquê de copos de leite colhidos no quintal da tia, devia manter para cima as flores de cabo comprido. Mas as flores, teimosas, desobedeciam às suas mãos – tanta era a dor de cabeça, o lento apertar da coroa de latão, o calcanhar esfolado.
Faltava muito para chegar na igreja?

Bendito louvado seja
O Santíssi-i-mo Sacramento...

A procissão de bairro tinha fotógrafos, até mesmo um rapaz que ia filmando. Quando ela olhou para o homem que lhe assentava a objetiva na cara, tropeçou na barra do vestido, caiu. Filhas de Maria acorreram, disseram que não era nada, ela queria chorar, arrancar a coroa e jogar longe o sapato, as flores, tudo, as flores tinham agora um cheiro murcho de cemitério. Mas chorar era pecado, chorar na procissão. Depois tinha de contar para o Padre.
Andava devagar, segurando a barra da saia para não tropeçar de novo, olhando para a calçada, dos dois lados, para ver se descobria a mãe. Senhoras de mantilha de renda ajoelhavam quando passava o Santíssimo. Algumas, muito gordas, desabavam com os dois joelhos no pavimento. E os homens, distintos, de terno colete e gravata, com o chapéu na mão, dobravam um joelho só sobre um lenço, na calçada. Mas a mãe não aparecia.
Ela retardava o passo, olhando. O anjo que ia atrás dela, uma meninona rosada de túnica de cetim azul, empurrou-a, anda, molenga. Ela tropeçou de novo, tinha uma vontade enorme de chorar. Parou. O suor escorria pela testa, sob a pesada coroa de espinhos que um a um lhe enterravam na cabeça – era sangue? Levou a mão direita contida numa luvinha branca de algodão à testa, enquanto o pesado buquê de copos-de-leite tombava inerme na esquerda, mas nem teve tempo de olhar a luva para ver se estava ensangüentada porque novamente a saia longa enrolou no pé e ela teve uma Segunda Queda de Cristo.
– Coitadinha, ela não pode mais.
– É pequena demais.
A chefe da Pia União das Filhas de Maria, uma inglesa alta e de cara congestionada, levantou-a.
– Segura a minha mão. Já estamos chegando.
Alguém tinha tirado o buquê da sua mão. E se a tia ficasse zangada? Mas agora ela só queria que tudo acabasse depressa. A cabeça ardia, o latão apertava muito. Do estômago subia uma náusea imensa. Começou a chorar.
– Quero minha mãe.
– Onde está a sua mãe?
– Não sei... – chorava.
Agora a Chefe da Pia União estava dizendo suba o degrau estamos chegando. Mas naquele momento a náusea intolerável fez cócegas na sua garganta. E num jato, sobre o tapete vermelho do primeiro degrau do Santuário do Sacratíssimo Coração de Jesus ela se dobrou, muito pequena e humilhada nos seus seis anos, vomitando o mundo em golfadas sujas, nojentas, enquanto a procissão toda parava por sua causa. Ela queria morrer de vergonha, de mal-estar, de tanta dor que sentia na cabeça. Onde os espinhos de latão se cravavam um a um – por causa dos seus pecados.



(*) Do livro de contos Estudos de Interiores para uma Arquitetura da solidão (2004)  

15 março 2011

JOSEPH HART VAUDEVILLE – 4



NOS CAPÍTULOS ANTERIORES a trupe do vaudeville de Joseph Hart, na beira da estrada, havia parado.
Entre provocações e uma ameaça de chuva um anão e um piansita faziam comentários maldosos à respeito de seu Joseph, o patrão, e de sua possível bigamia.
No primeiro parágrafo do trecho anterior mencionou-se um revólver. Já que inúmeras cartas de leitores questionaram-me à respeito fornecerei...

Capítulo VI

... A RESPOSTA

Ah, Maria Amélia o revólver, esse revólver do primeiro parágrafo, ferve, bem guardado, no feltro dum paninho. No vão do velho piano [ ................. 17pt. ].
Afinal, todo e qualquer vaudeville tem que ter, por obrigação uma vitrola, um projetor uma tela e um piano velho, né? cheio de cupins, hum? caindo aos pedaços, hein?
– Não interessa!

Capítulo VII

NÃO INTERESSA!

a

Joseph Hart, veio – achtung! – se-lhes-abriu a lona, veia detrás duma boléia repetindo este bordão. Não lhe interessa, a minha vida não lhe interessa.
Pra que ficar falando de Seu Giacomo? Rebenta o vaudeville no punho de outro chicote, Aldrich.Vocês querem saber da vida de Bia Havel e de Renata O´Brien?Vão perguntar à uma cigana, fucking bastards!
Chast Aldrich, o anão alemão, encolheu os ombros. Gregor Simonsen o negrão, o pianista tira, por ora, o pó das calças.
Bruta caixa cerrada, alvo marfim, feltro, tecla preta – um piano é apenas uma trama de aço e martelos? Não, Maria Amélia, um piano é, também, um piano.

b

Joseph Hart – tacões da bota – virou um cesto, [ .... 4pt. ] chutou-o. Bengala, cabelo partido, o testão, o renque, Joseph Hart filho de Giacomo Hart, e o rebenque. Voltou para trás da boléia.
Joseph Hart, a great enterntainer, tocava banjo. [ .............. 14 pt. ] Fazia ciúme. Até os anjos do céu ficavam bravos. Quando, entretanto. Banjo na mão, Joseph Hart fazia o charleston sem tirar as biqueias do sapato do chão. Até os anjos do céu.
Patrão – pois é, qué que o negro, qué que Aldrich tem a ver... – seu Giacomo tossiu um macarrão de sopa / ossos de frango. Papai já tava muito velho. Joseph Hart, a hora e a vez, o chicote e a bengala nas mãos. Já tava fazendo hora extra no vaudeville.


Joseph Hart – um moleque num bairro pobretão de Baltimore, famiglia, um banjo tapas orelhas vermelhas. Manja che te fa bene.
Joseph Hart virou um rapagão e fez carreira nos caminhões do pai. Jovem piadista, hábil, um verdadeiro macaco [ .............. 14pt. ] casou-se, um babuíno na poeira dos palcos. Black-face, camabalhotas, ó piano roufenho. Chapas fotográficas.
Seu Giacomo, ora, bateu as botas pela última vez nas tábuas de um Charlottesville. Foi jantar. Renata O´Brien Hart, mulher de seu filho, serviu a sopa e...



... e agora? por que Joseph mantém o emprego do anão e do pianista? e seu Giacomo? engasgo? envenenamento? Hart e O´Brien teriam-no sufocado? outro artista teria feito o trabalho sujo?
e a chuva? o espetáculo? e a hipotética bigamia dos capítulos anteriores?

NÃO PERCA, NA TERÇA-FEIRA, DIA 29/03 E CONFIRA O PRÓXIMO CAPÍTULO DO NOSSO FOLHETIM...



Nota Grafológica

[ .... 4pt. ] e quetais = pausas, my dear. Espere quatro segundinhos, tome um gole dá água e volte à página.

14 março 2011

A DOR

Por Guilherme Salla


.

Dora se foi,
me deixou
só.



Ela se foi
só , Dora.



Lá se foi Dora,
deixou-me
lá.



Só eu,
lá e sem
Dora.


.

13 março 2011

EXEMPLO DE RESENHA EXEMPLAR, p.ex


{RESENHA ENVIADA AO Nelson de OLiveira (org.) - Portal Fahrenheit}

(reprodução do e-mail ao Nelson de Oliveira)


Fui ao evento levado por alguns amigos, e apesar de não ser fã de carteirinha de ficção científica, li com muito interesse os contos publicados por vocês. Atendendo ao seu pedido, envio-lhe minha resenha do Portal Fahrenheit. Atualmente estou cursando Letras na Usp, e planejo mostrar a revista e minha avaliação também aos meus colegas de faculdade. Acho importante abrir as janelas da sala de aula e deixar entrar o contemporâneo. Talvez eu apresente o texto também como trabalho final, em uma das disciplinas.

O projeto de uma revista com cara de livro (os europeus fazem muito isso), mas sem finalidade comercial, me causou certo espanto. Como assim? A revista não será vendida? Esse pessoal da ficção científica está sempre inventando moda, pensei. Mas no final gostei da proposta. É uma forma pouco comum de cortar a corrente que liga a literatura ao comércio. Como se vocês dissessem: a grande arte não pode ter preço.

Durante a leitura fui dividindo os contos em três categorias: os de linguagem simples e enredo complexo, os de linguagem complexa e enredo complexo e os de linguagem complexa e enredo simples. Como você sabe muito bem (você me disse que fez pós-graduação na FFLCH, certo?), nós, da academia, estamos sempre de olho na intensidade e na personalidade da linguagem literária. Mas isso não significa que uma categoria seja intrinsecamente melhor do que a outra. São apenas diferentes.

Linguagem simples e enredo complexo

O mundo dos seus sonhos, de Mustafá Ali Kanso. Achei interessante o autor trazer o amor para a cena, usando-o como base num conto de ficção científica. Kanso narra, com sentimento, o incômodo na rotina de um casal em que o homem ama mais e daí “a dor e a humilhação de não ser correspondido… A espera de migalhas”. Na busca desesperada por uma saída, o homem recorre a um livro que ensina como conseguir a lucidez onírica por meio de técnicas trazidas da Antiguidade clássica. Então ele consegue esse sonho perfeito e nele se realiza. Encantado, ele vai cada vez mais fundo com as técnicas, desenvolve um aparelho e a partir daí a história se desenrola. A trama é bem construída, começa muito bem e vai num crescendo que envolve tecnologia futurista e tudo o mais. No entanto, se o conto provoca reflexão sobre os perigos da acomodação e dos descuidos no casamento, o final deixa a desejar, porque Kanso adiciona açúcar demais na mistura do encerramento, não permitindo ao leitor que viaje no desenvolvimento dessa receita.

Em O bunker cretáceo, de Ataíde Tartari, um prestigiado professor de Geofísica é chamado até a Antártida para ajudar a solucionar o seguinte mistério: a descoberta de uma enorme edificação de concreto que data de 65 milhões de anos. Como assim, concreto naquele período? Aprofundadas as escavações, os cientistas descobrem que a edificação, mesmo tendo permanecido debaixo da terra todo esse longo período, é habitada por uma raça excepcionalmente mais evoluída que a humana. Com bom domínio do texto, esse escritor nos traz uma história bem construída, bem contada e com final aberto, sobre como o passado remoto e escondido pode voltar para assombrar o futuro. E o humor é o grande diferencial dessa narrativa, pois Tartari, de forma hábil e mão leve, aplica uma fina camada de ironia sobre os conflitos naturais entre duas raças: a dos geofísicos e a dos paleontólogos, ambas disputando espaço em suas áreas de pesquisa. Uma leitura prazerosa.

Em Tempestade solar, de Roberto de Souza Causo, encontrei uma viagem interplanetária, um asteróide laranja e uma adolescente transformada na mais perfeita arma humana. Pronto, com esse ponto de partida, Causo, tarimbado ficcionista e ensaísta, nos fala de um futuro em que um importante laboratório de pesquisas médicas patrocina pesquisas de engenharia genética ilegal para a criação de trans-humanos. Com todos os artifícios e a terminologia própria do gênero, o autor soa confortável ao narrar a aventura de Shiroma, a garota que perde a mãe aos 5 anos e, desde então, vem sendo manipulada para dar conta de ações quase suicidas. Mas esse conto tem uma virada e a garota manipula seu destino. E aí está o ponto-chave nessa ficção deliciosa de ler, que abre a imaginação do leitor. Enredo e personagens tão bons, que pedem continuidade, e certamente atrairão cineastas e o pessoal dos quadrinhos. Eles que não bobeiem.

A trama de Réquiem, de Petê Rissatti, se passa num futuro não explicitado, onde o ato de sonhar é terminantemente proibido por lei, “sob pena de multa e até de execução”. Para evitar que as pessoas sonhem, o Governo Mundial distribui um medicamento específico (o Réquiem: Repressor Químico para Ecmnésia Mensurada, daí o título) e elas o tomam por medo de infligir as regras. Mas o conformado Ivan certa noite esquece de tomar a tal pílula e o inevitável acontece. A partir daí ele passa a ser perseguido, rebela-se, ingressa num grupo revolucionário e assim transcorre toda essa aventura. Um texto bem criado e bem conduzido por esse jovem autor, que descreve com detalhes consistentes a sociedade futurista por ele imaginada, até com pitadas de bom humor. O final cumpre a promessa estética do conto, pois surpreende, abrindo espaço para mais história na cabeça do leitor.

Deus é brasileiro?, de Sid Castro. O título não faz jus à diversão que encontrei nessa narrativa. A partir da imagem de um Cristo removido do corcovado, o autor instaura o movimento da Revolução de Deus nos Campos de Fé do Brasil. Dividido em três pequenos capítulos, a introdução apresenta com profundo sucesso o universo da guerra entre o Apostolado dos Trezentos Pastores e os pecaminosos Darwinistas, Coelhistas e Xavieristas. A Igreja Internacional Deus é Brasileiro salta das páginas a qualquer leitor que já tropeçou em um dos programas evangélicos que são transmitidos madrugada adentro. Há cenas dignas de um Tropa de Elite do Senhor, e é no final apoteótico dentro da Catedral de Brasília onde se desdobra o verdadeiro significado de um Apocalipse para a FC brasileira. As raízes culturais, a ironia levada a sério e o ritmo alucinante da narrativa tornaram esse conto um de meus favoritos.

Aspieville, de Laura Fuentes. Aqui a autora navega no tempo e por diferentes locais e países, e mergulha no Mal de Asperger (doença que vem ganhando bastante visibilidade) para criar uma ficção sobre uma época em que a ciência será capaz de criar seres portadores dessa doença, com o intuito de aproveitar a extrema concentração de seus portadores. Em prosa poética, Laura nos leva a conhecer melhor o cotidiano de crianças especiais, o seu desenvolvimento, e apóia sua narrativa no perigo das corporações utilizarem esse tipo de trabalhador em prol do incremento da produtividade e do lucro. A leitura é prazerosa e ao mesmo tempo assustadora, pois o futuro que a autora imagina está aí, na virada da esquina, uma vez que recentemente foi divulgada a notícia de que já conseguiram localizar o cromossomo responsável por essa doença. Fica a questão: será que esse conto deveria estar nesta antologia dedicada à sci-fi?

O apanhador do tempo, de Márcia Olivieri. A autora, em uma narrativa na primeira pessoa do singular, nos revela o testemunho de um réu estranho e misterioso, mas perde uma boa oportunidade de correlação com outro clássico Apanhador. Dono de uma longevidade alquímica, o protagonista segue justificando ao leitor muitos crimes inexplicados no decorrer do conto. A narrativa apressada não aprofunda muito bem o personagem ou o enredo, e me incomoda no que tange à verossimilhança de um relato perante um júri. Por fim, a história questiona o leitor, com um desenlace aberto que melhora o texto em certo aspecto, mas ainda assim me parece deslocado dentro de si mesmo.

Adorei o miniconto de Ricardo Delfin, Minhas férias. Uma vez vi alguém falando na televisão que tecnologia é tudo aquilo que foi inventado depois de nós nascermos. Achei engraçada a ideia das crianças circulando e tratando de temas comuns da ficção científica de forma bastante despachada, sem o menor respeito, sem a menor noção de perigo. Isso me fez pensar se não vivemos, nós, adultos, uma situação parecida, indiferentes ao alto preço que as próximas gerações irão pagar por tudo que andamos fazendo com o mundo. Essa é minha modesta interpretação… Mas a verdade é que se pode ler e rir muito com esse conto.

Linguagem complexa e enredo complexo

Meu amigo que acompanha o Projeto Portal comentou que o conto de Mayrant Gallo, Invasores, segue uma linha oposta daquele publicado no Portal 2001. Nesta nova narrativa não estamos em um Brasil superpotência, mas sim em uma realidade pós-apocalíptica na qual sofremos uma invasão alienígena que acabou por provocar uma regressão da civilização. A atmosfera acaba sendo a de um faroeste futurista, onde o Estado desapareceu e as comunidades precisaram se reorganizar um pouco por si mesmas. A maior força de Invasores está no crescente relacionamento entre os humanos e os invasores, mas eu penso que seria preciso mudar o foco da trama para o rapto em si, para que a ideia seja melhor aproveitada.

Mesozóide, de Danny Marks, é uma mistura breve e súbita de conceitos de FC — ciborgues, pós-humanismo, física atômica, viagens estelares e temporais —, em que o ficcionista nos apresenta sua versão de um exterminador do futuro mais possível, mais familiarizado com o universo da FC, que veio tentar evitar o que o autor batizou de Grande Erro. Ao final, a narrativa nos deixa a pergunta: será que ele teria sido bem-sucedido ou ainda virá a ser? Curto e dinâmico. Agradou bastante.

Pesquisando no Google descobri que (Ficção especulativa), conto de Brontops Baruq, usa uma referência antiga: o conto Ondulações no mar de Dirac, publicado há anos na revista Isaac Asimov Magazine, sobre uma máquina do tempo diferente. Ela só podia retornar ao passado, mas as ações realizadas lá não interferiam nos acontecimentos no momento presente. Ondulações, de Geoffrey Landis, usa essa ideia para tratar da vida estranha do protagonista, capaz de viver grandes peripécias, mas todas elas inúteis, sem resultado. A máquina de Brontops, apesar de usar o mesmo princípio, é usada para a investigação e a vigilância dos cidadãos, e vemos a história sob o ponto de vista de uma dupla de policiais. Desconfio que existem vários pontos para discutir neste conto, mas, para mim, sobressai a questão do poder da autoridade.

O conto do Abílio Godoy, COMum, como o de Kanso, parece ter recebido influência do filme A origem. Afinal ambos tratam da capacidade de se adentrar no mundo dos sonhos… Ou algo parecido com isso. Mas o resultado é bastante distinto e bem menos pirotécnico, e a linguagem do conto é tratada com bastante cuidado… Talvez seja o mais relevante, nesse sentido. Porém, não sei se por isso mesmo, me deu a impressão de muita frieza ou melancolia. É a história da desilusão de um cientista que participou do planejamento e da criação de um sistema para navegação coletiva em sonhos… Mas ele foi expulso da jogada porque o projeto foi encampado por corporações interessadas em lucrar com o aparelho. Foi desenvolvido então uma espécie de jogo (o COMum) no qual o melhor ilusionista ganha a competição. Eu não gosto de dar explicações alegóricas, mas entendi essa narrativa como uma crítica ao sistema artístico e como este acaba se curvando às necessidades econômicas. Eu poderia resumir assim a mensagem final: quando o sonho deixa de ser sonho, vira realidade.

O conto Devoção, de Izilda Bichara, é uma deliciosa narrativa nonsense protagonizada por duas figuras do universo on-line: o Homem Google e a Mulher Antivírus. Quem aprecia as criativas e irreverentes ficções de autores como José Agrippino de Paula e Paulo Leminski, vai se divertir muito com as peripécias dessa dupla de cores e formatos estranhos. A autora certamente é apreciadora da arte e da literatura surrealista, pois Devoção mistura sonho e realidade, dialogando de modo muito criativo com o trabalho de Salvador Dalí e Luis Buñuel, dois criadores que sempre me agradaram muito.

A Senhora do Lago, de Georgette Silen, única autora que eu conhecia nessa revista. Conheci a narrativa cadenciada de Georgette no conto O caçador de Deus, da coleção Paradigmas, e já li uma entrevista da autora no site Criando Testrálios. Fã declarada de As brumas de Avalon, nesse conto a autora cria uma versão middlepunk de um relacionamento às avessas entre Galahad e Arthur. Nela, Merlin possui um implante de canhão no lugar de um braço e os cavaleiros da Távola redonda cavalgam bestas metálicas articuladas com engrenagens de estanho. No universo da autora, Morgana de Avalon faz um papel alienígena junto aos seus, “os Celtas, o povo que veio das estrelas”. Diante de uma Excalibur prismática, menestréis testemunham espadas com fio a laser cerzindo juramentos de lealdade tirados das novelas de cavalaria. Uma boa surpresa num livro de FC, para quem, assim como eu, se declara um fã da saga pendragoniana. Não vejo a hora de buscar Lazarus, o mais recente lançamento da autora.

Os olhos do gato, de Luiz Bras, é sem dúvida um dos meus favoritos na coletânea. Fiquei fascinado com a maneira que o contista combina forma e conteúdo dentro da literatura de gênero. Nesse conto, acompanhamos uma versão moderna do mito das amazonas, onde mulheres, homens e gatos de estimação compõem uma fábula breve sobre os horrores, as maravilhas e as verdades de se tornar um adulto. A fórmula estrutural simula uma sucessão de flashbacks entremeada por cortes como os de um filme, facilitando muito a imaginação do leitor ao longo da narrativa. A coisa que mais chama a atenção são as nuances emocionais da protagonista, que vão da doçura à frieza calculista bem feminina. O trecho mais marcante na minha leitura foi: “Crescer é se perguntar todos os dias: de quantas maneiras uma pessoa pode se ferir?”

O banho de Diana (sonata tripla em pi menor), de Bruno Cobbi, protagonizado apenas por mulheres guerreiras, investe na releitura paródica de certa história da mitologia grega. Diana, grávida, acorda num vagão de metrô deserto, numa estação vazia. Sua solidão é física e metafísica, e o suspense começa a tomar conta da trama. Cobbi foi muito competente ao criar um enredo de mistério e solidão, com final cíclico surpreendente. É curiosa a atitude do autor em explorar conceitos de matemática, geometria e mitologia grega na FC, algo que me parecia inédito até então. O conto é repleto de pequenas referências e vale uma segunda leitura com olhos bem atentos ao título.

Novembro / 3001, de Marco Antônio de Araújo Bueno, traz uma linguagem contaminada pelo vocabulário acadêmico, o que torna seu narrador metódico e irônico. Reconheci em seu labirinto narrativo certas imagens de autores célebres como Machado de Assis e Euclides da Cunha. O conto, apesar de curto, é um vasto mosaico distópico e bizarro, no qual cabe quase tudo: pós-humanos, contrabandistas de órgãos, milícias tribais, mortos-vivos, criaturas andróginas, programas de reabilitação etc. O comentário de meu amigo especialista em FC foi: “Esse conto não chega a pertencer à estética cyberpunk, tampouco à new weird, mas está confortavelmente instalado entre ambas.”

Linguagem complexa e enredo simples

On, de Cláudio Brites, investe na forma modernista, com toques de surrealismo e expressionismo, ao apresentar um misterioso diálogo inserido num único fluxo discursivo. Não há travessões nem aspas, o diálogo ocorre separado apenas por vírgulas, num parágrafo longo e solitário. Esse parágrafo monolítico e a trama bizarra sobre uma cabeça sofrendo uma pane mental instauram o mais puro horror. O jovem contista talvez tenha alguma ligação com o teatro, pois On, na minha opinião, é uma narrativa curta que também ficaria muito bem no palco, como certos esquetes de humo negro, de Beckett e Ionesco.

A palavra tundra remete a um ambiente congelado, com pouca vida. Não é o que acontece no conto Tundra, de Tiago Araújo. Aqui tudo é bastante expressivo e vivo. A linguagem das ruas é empregada em um ambiente estranho (ou seria um ambiente cotidiano tornado estranho por essa linguagem?). Apesar das cores fortes, expressionistas, a história não me soou muito clara: boa parte dela descreve policiais e enfermeiras em uma padaria… Tem-se a impressão de a cena ser parte de um universo maior (a referência ao tal Coletivo-dos-Anjos) e de um mundo no qual pode-se morrer e arrumar um novo corpo em seguida. Talvez a tundra esteja na frieza com a qual morre-se bestamente e na indiferença dos “canas rasgando o cu do mendigo”.

Maria Helena Bandeira (descobri agora há pouco que ela é sobrinha do poeta Manuel Bandeira, meu predileto) comparece com quatro narrativas curtas, todas excelentes. Confesso que sua ficção poética e melancólica, em que o estranho aparece casado com o maravilhoso, me encantou fortemente. Penso ter divisado em seus contos (principalmente em Por uma flor e a boca vermelha e Em um dia de verão marciano, amor), em que a água parece ser um elemento transformador, algo de Borges e de Ray Bradbury. Ou seja, um modo de tocar fundo na inteligência emocional do leitor, mais do que em sua inteligência racional.

Finalizo esta mensagem dando os parabéns ao organizador e ao grupo de contistas. Não li os cinco números anteriores da revista, mas se apresentaram a mesma qualidade deste Portal Fahrenheit, e acredito que apresentaram, não resta dúvida de que o conjunto conseguiu atingir o objetivo proposto: fazer circular, fora do gueto, a boa ficção científica brasileira.

Um abraço do

Breno J. Portugal

06 março 2011

PRIMEIRO CONCURSO DE POEMAS DE CHALEIRA

Por Marco Antônio de Araújo Bueno

2º CONCURSO DE POESIA “POETIZAR O MUNDO”
– Modalidade: INDRISO.

Organizadora: escritora e poeta Isabel F. Furini.


1) O Concurso de Poemas tem como objetivo estimular a produção literária e é destinado a todas as pessoas maiores de 18 anos que apresentam um poema INDRISO inédito escrito em português.

2) O tema é livre e a inscrição é gratuita e poderá ser feita até 10 de junho/2011.

3) Cada concorrente poderá participar com apenas um Indriso inédito (ou seja, ainda não impresso nem publicado na internet), que não tenha sido premiado em outro concurso.

4) Consideram-se inscritas as obras enviadas pelo e-mail à: isabelfurini@hotmail.com Concurso de Poesia: “Poetizar o Mundo”, no corpo do e-mail, sem anexo, escrito em língua portuguesa, digitado em espaço 2 (dois), com fonte Arial, tamanho 12 (doze).

6) Deverá constar no final: o título do poema, nome completo do autor, seu endereço, telefone, RG, e 4 ou 5 linhas de currículo.

7) A comissão julgadora será composta pelo escritor e psicanalista Marco Antônio Araújo Bueno (editor do blog De Chaleira), Isabel F. Furini (escritora e poeta, autora de “O Livro do Escritor”).

8) Premiação: O primeiro lugar receberá troféu e diploma, o segundo e terceiro lugares receberão diplomas, e poderão ser escolhidas até três Menções Honrosas que também receberão diplomas.

9)O resultado do concurso será divulgado em site literários da Internet, e blog: http://www.isabelfurini.blogspot.com/ no blog Falando de Literatura do Bonde News e De Chaleira, http://e-chaleira.blogspot.com/


10) O resultado será divulgado até 1º de Agosto/11. Na ocasião, também será homenageado com placa comemorativa o poeta Isidro Iturat, criador da modalidade poética Indriso. O INDRISO é formado por 2 tercetos e 2 monósticos, num total, portanto, de 08 versos, com métrica e rimas livres. Mais informações sobre o indriso no site: http://www.indrisos.com/

11) O encaminhamento dos trabalhos na forma prevista neste regulamento implica concordância com as disposições nele consignadas.

*
Informação: Os ganhadores do primeiro concurso “Poetizar o Mundo” foram:
1º Verso-Mundo - André Luiz Caldas Amôra
2º Não tenho tempo - Robinson Silva Alves
3º Novas Dimensões - Luiz Gondim de Araújo Lins

Menções Honrosas
4. Miragens – Tatiana Alves
5. Não sei Rimar - Denivaldo Piaia
6. Poetizar o Mundo - André Telucazu Kondo
7. Escrever faz parte disso - Angela NedjaBerg Ceschim Oiticica
8. Aos que virão... Benilson Toniolo
***

05 março 2011

Vamos pular o Carnaval?



Uns quicam-se aos sons de ressoo com os dedos indicadores apontados ao céu cristão, suando os dias mal-remunerados na alegre contradança de não ser o que se é. Ou mesmo uma forma de descer os véus, escancarando-se? Todos sucumbem aos prazeres, livres do fardo da farda, cumprindo o comprido descanso no extravaso. Outros brasileiros, os mesmos do futebol na ponta do pé no chão, pulam a data, passam a bola, contra a dança dos que não pensam. Não vem ao mérito da questão. É dinheiro gasto com frugalidade, música com o duplo sentido todo de fora, pois quem tem peito não precisa mostrar a cara e quem tem bunda, caga e anda enquanto a bosta nela resvala. Pensar para quê? A liberdade do pensamento está além do raciocínio, quando o corpo é que emite a opinião mais sincera por detrás das fantasias e máscaras. Paixão. A carne vale nos dias gordos: o rei momo está nu! Poucos são os que aproveitam, porque são aproveitados pelos outros. Bêbados equilibristas da nação. Pura malandragem de quem desfila, assim sem mais, para o mundo, seja ele primeiro, terceiro ou segundo. O certo é que logo será hora da Fênix, ressaqueada sobre um carro alegórico, ressurgir bem na quarta-feira de cinzas.


03 março 2011

SONETO XLI


Por Marcelo Finholdt

“Não suporto frescura, inocência incomoda,”

Dedicado à Aparecida Rocha (in memoriam)
E a sua neta impertinente.



Celulite, pelanca, isso é bom, faz-me falta,
Gordurinhas, pneus, mechas brancas são belas,
Quero sempre arranjar uma velha donzela,
Botarei novamente este assunto na pauta...

Não procuro ninfeta empinada, peralta,
Quero ruga com ranço e bastante barbela,
Quero é ser seu avô, sem maiores mazelas,
Não procuro modelo... há magreza, são altas.

Sempre corro se vejo: uma pele esticada,
Bom perfume, pintura e umas roupas da moda,
Mente fraca, noviça, esta sim é mancada!

Não suporto frescura, inocência incomoda,
Não sou pajem, babá, pra noviças sou nada,
Quero só sua avó. E você? Dentre a soda!

02 março 2011

MEU DIA TODO DE PERFEIÇÕES FEITO

MEU DIA TODO DE PERFEIÇÕES FEITO

Por Cecília Prada

No dia, por exceção amanhecido sem obrigações nem cobranças, despertei com sossego e espreguiçamentos – para aproveitá-lo, pensava eu (incauta!),com música, caminhada pelo bosque, flores e passarinhos, almoço em restaurante razoável, e conversa com amigos, um uisquinho permitido ao anoitecer, quem sabe alguma hora de entendimento, de entretenimento, sei lá. Essas coisas.
Sabia eu, é claro, que tal programação de amenidades para ser cumprida necessita de cuidados prévios – lugares por onde não se deve caminhar, pessoas que devem ser evitadas a todo custo, leituras que, etc. Todos sabem: banidos por 24 horas, ao menos, os jornais e telejornais, os abaixo-assinados, os pedidos urgentes de localização de crianças desaparecidas, listas para vítimas de terremotos e inundações... enfim.
Uma cápsula – eu me disse – devo criar, vá lá, uma cápsula hermética. À prova de humanidade? Sim, por 24 horas ao menos. Estirar-me ao sol, armazenar vitamina D para beleza da pele, permitir-me talvez um banho de shopping - relativizado embora pelo orçamento limitado.
Eis senão quando: curiosa, não resisti a dar uma olhada na minha caixa de mensagens. Afastei sem abrir as urgências sociais do momento, os viciados em política, os apóstolos do apocalipse, e também – com um suspiro de frustração – as almas caridosas que nos avisam de parentes desconhecidos que nos legaram fortunas em libras esterlinas provindas da Suazilândia ou do Nepal.
Com alívio vi que andavam ativos os amigos que se propõem enri-quecer meu estoque de fotos maravilhosas de cidades, galáxias, animais e plantas exóticas que realmente me enchem os olhos e a alma e guardo ciosamente – para futura contemplação demorada, em dia que nunca ocorre.
ENTÃO DE REPENTE, SEM MAIS: como um murro violento que a atingia, a ela, a escritora em férias de um dia, toda a fealdade do mundo entrou no-vamente no seu micro, na sua sala, na vida. E era, não, absolutamente não era o que todos vocês estão pensando: a foto da iraniana condenada à morte por adultério contra o marido morto, não. Nada disso – esse seria um contraponto chocante, claro, a ser usado com boa técnica literária pela Escritora experimentada, mas já anda por aí estampado para atestar a infinita maldade, a burrice empedernida deste nosso mundo.
Não, o choque, que havia, era inédito. Mais poderoso. Mais cruel, diria. Mais arrasador: dois “forwards” que circulam pouco, sem comentários, parece, mas estão por aí na net, podem conferir: O primeiro, “Quem diria que não é uma foto?”, é uma coleção de quadros veiculados pela propaganda do Irã : uma inundação de lindas jovens retratadas em trajes bíblicos, castas túnicas que recobrem por inteiro seu corpo, todas de rosto descoberto e cabeça adornada, diríamos, por obrigatórios chales (o que há de tão diabólico nos cabelos da mulher muçulmana?). Mostrando toda a serenidade, a paz interior, a sedução casta de virgens esperando pelo doce enlevo da vida familiar islâmica. ( Não, não há no horizonte sombra do cadafalso, por enquanto. Nem pedras rituais, não. Ainda não, lindas jovens, continuem tranquilas, lindas jovens kitsch desprovidas de sorriso, alma e vida).
O segundo “forward” traz coisas ainda mais belas e alegres: na Palestina, um gárrulo bando de 450 menininhas engrinaldadas, de quatro a dez anos de idade, no dia de seu coletivo casamento com bravos guerrilheiros do Hamas, de idade entre 25 a 30 anos, que as recebem como presentes do seu líder, juntamente com a quantia de 500 dólares. Uma bela visão pedófila por atacado que não parece, ainda, ter despertado de seu marasmo histórico que dura desde 1995 as feministas e pesquisadoras de “grupos de gênero” das nossas universidades.
Não consigo, há muito, ter meu dia todo de perfeições feito. Acho que não o conseguirei gozar nunca – lembro a canção de Edith Piaf que nos dizia : “Haverá sempre, no quarto ao lado/ um silêncio de morte após os gritos do amor”.

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01 março 2011

PRÓLOGO MAIS

PRÓLOGO MAIS

Por Marco A de Araújo Bueno


FOTO - Do arquivo pessoal do músico Marcelo Finholdt


As coisas sobre cuja ciência nada sei – eu as desejo intocadas, encantoadas.
Exercem sobre mim tamanho fascínio, de tão assustadoras e ingênuas, que as prefiro flutuando alhures, sem captura plausível. Não ouso corromper o encanto e o espetáculo que elas encenam quando querem, quando caseiam. Ou quando as fazem casear aqueles que, de bom grado, aceitaram a roupagem de nome e etiqueta com as quais as desnudaram e exibiram.
E não porque sejam sacanas – uma madame Curie e o Rádium dela, o Moëbios e sua ‘banda’; o Einstein com sua sedutora E=M.C 2. Nem Lacan com os matemas, algoritmos.
Nem é casual que assim seja, pois o lingüista Saussure mostra que a relação entre os nomes e aquilo que buscam representar, embora arbitrária, é necessária à significação. Que seja.
A filosofia de toda ciência é um inventário de pequenos a enormes constrangimentos. Gaston Bachelard tanto o soube que dizia das teorias – são a constante reforma de uma ilusão.
Se as desejo intocadas, encantoadas, é justo por fazer da ilusão, a própria condição desse desejo.
Quando, casualmente, surpreendo uns marmanjos do saber – e suas simplificações sedentárias – ou uns ajumentados jovens pensadores (e sua prepotência estressada), quando os flagro tagarelando, excitados, sobre os signos das coisas, cuja representação, convencionaram existir, não raro, também fico excitado.
Tudo se dá como se, por vulneráveis frestas de sentido, eu perscrutasse, ‘voyeur’, a intimidade de um puteiro; ou a própria devassidão dos...adultos.
Será desse despropósito das palavras (não me apraz colocar um Manoel de Barros em nota de rodapé) e pelo fio de humor de um L.F.Veríssimo que, para logo mais (e com muito menos) cruzarei pontes de Safena para atingir plantações de falácias em meus textos. Malgrado.∞

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