29 novembro 2012

CANTIGA DE MALDIZER



Por Marcelo Finholdt

Kelvin vejas só o que vejo:
Tens a boca lá no cu,
Todos correm de teus beijos
Com tuas penas de anu!

Kelvin vejas só o que vejo:
Vás cagar em outros ombros
Rebocar os azulejos
Com teu lixo, teus escombros.

Não provoques, não perturbes,
Tens a boca lá no cu,
Não insistas, não masturbes
Este rosto teu: Pacu!

Sei que tens os teus desejos,
Mas da merda ninguém gosta,
Todos correm de teus beijos,
Pois exalas, cheiras bosta.

Na verdade és um eunuco
Tens a cara de Jacu
Bem na boca... um sabuco
Com tuas penas de anu!

27 novembro 2012

AO 'TODOS OS PORTAIS...' N'A FILA'

 "Todos os Portais - Experiência Expandida". Nelson de Oliveira,organizador, e Bráulio
   Tavares, palestrante, em pé à direita, atrás de Mustafá A. Kanso (PR)
                                          Foto por - Ju Ramasini

A Fila

Por Marco Antônio de Araújo Bueno

Não lhe causou estranhamento algum quando, já na entrada daquele pátio, topou de cara com a tabuleta bem postada, solene, onde se lia: “A FILA”. Em caixa alta, sem serifas, preto sobre o branco e bem à altura da vista. A lucidez com que se impunha excluía e conclamava a presença de uma crase, isso sim, seria de se estranhar? Ao contrário, era quase uma condição, uma essência mesmo da placa, essa simultaneidade. A caminho, no entanto, lembrou-se ter lido “FUNERÁRIA” onde seria mais crível que, pelo recorte urbano do local, pela vizinhança típica, lá estivesse escrito “FUNILARIA”. Mas este petisco caprichoso, já o reservara ao analista, até por uma questão de comodidade, ou de resistência. Não era o caso desta placa. O máximo que ela permitia era conjecturar se teria faltado um ponto de exclamação ou, algo mais sutil – se, por decoro de se evitar um imperativo grosseiro, autoritário, suprimiram elegantemente um “RESPEITE A FILA!”. E era essa condição que impunha respeito.

Tudo isso lhe infundia uma espécie de esperança vaga, de crença em valores substantivos, de confiança pela confiança; acelerou a marcha e perfilou-se aos demais. Não eram muitos, os demais. Silhuetas discretas, deslocamento proporcional aos espaços sucessivamente desocupados pelo atendimento. Pessoas, como ele, ali, na fila. Dispunha de um dispositivo contra o enfado, conversa mole, mas, sobretudo, contra a timidez incorrigível. Era um livrinho em formato seis por cinco que cabia em qualquer canto de bolso, paginação confortável e à prova de olhares bisbilhoteiros. “Padre Antônio Vieira”, uma antologia...viria a calhar; apalpou e, pela espessura percebeu o engano; era um Hamlet cuja impressão, de tão nítida, dava para ler até nos vagões do metrô e, até por isso, ele o reservara para o crepúsculo.

Decepcionado, enfiou as mãos pelo bolso e resignou-se a sua corporeidade perfilada aos demais. Foi então que se instalou um certo caos no recato daquela espera ordenada. Um homem deixou a fila e, ajeitando pasta e capacete pelos braços aproximou-se, agachou-se e ergueu do chão um retângulo de plástico cinza.- “Esta senha é sua, não?” Sim, era dele, escapou do bolso onde guardava o William Shakespeare das horas crepusculares. – “Melhor ficar esperto pra quando a fila bifurcar”, asseverou, num tom de voz sinistro, em baixo profundo e olhando furtivamente para os lados e para cima, em direção ao começo da fila. – “Obrigado, mas que bifurcação é essa?” Olhou para o edifício à frente, era térreo, não havia razão para olhar para cima.

O caos instalou-se por uma razão singela e contra cuja obviedade, a menor inobservância parecia implicar em afronta grave. Tinha alguma relação com as senhas e aceitar que a cor da senha determinasse a bifurcação parecia tão consensual aos demais, que apenas uma leve indagação sobre sua razão de ser, soava como um libelo. E tornava o perfilado um contraventor.

- “A minha, senhor, eu sei que é branca. Quando bifurcar lá na frente eu sei pra onde devo me dirigir. E a sua que eu vi que é cinza vai tomar outro destino. Fica mais atento que ninguém aqui é ingênuo nem palhaço!”.

- “Bom, já que” branco “não é cor, deve ter senha preta também...”.

- “Tem sim senhor, mas ninguém viu cair de bolso nenhum!”.

- “Deve ser porque não tem destino nenhum!”

{in Portal Neuromancer, 2008; LGE Editora-esgotado}

25 novembro 2012

WELCOME SCORPIONS



Por Regina Zamora


Amargo é o doce da sua boca,
que calo num beijo com mel,
para combinar com o seu fel.
Réu, somos escorpião,
tesão,fogo e paixão!
Até conseguirmos amar,
armar no porém.
E...com a certeza
de que será gostoso,
perderemos o sentido,
hum...delicioso!
Welcome scorpions,
na cama, na mesa,
com sabor e saber
de quero mais,
com sobremesa,
escancarados na mesa.
Daí...até na lama,
me chama e declama,
filosofando Dalai Lama
e então, diz que me ama?
Amo, também!
Razão despudorada,
me desarma bem armado,
vem, meu bem amado,
tarado e desconcentrado,
minha extensão...
é assim que te quero!
Vem a mais de cem...mil!


23 novembro 2012

DESÍGNIO


Desígnio

Por Wlaumir Sousa

A pergunta era simples
A resposta um braseiro

Nasces agora e terás um lar apropriado a suas necessidades
Espera-se mais e terás o amor que tem direito

Sonhei com o lar perfeito
Na esperança de que aceitasses os anos mais

Reconhecestes em mim como reconheci a ti
Os anos falaram
Gritaram
Separaram-nos.

Quisera ser tão jovem como ti
Não me permitiram.






22 novembro 2012

AOS PEDAÇOS



Aos pedaços


As flores estavam derramadas aos pedaços sem que fosse possível reconhecer suas vivas cores. Coberto, o chão respirava por pequenos clarões abertos pelo soprar do vento. Nada permanecia imóvel, nem os pedaços de flores, nem os pedaços de respiro. Ambos moviam-se como se estivessem dançando, numa coreografia que respondia ao sabor da brisa leve.

Barulhinho bom do arrastar das plantas naquilo que as (des)abrigava. Liberdade de balançar sem que as frestas lhes desviassem, sem que os becos lhes acumulassem, sem que os buracos lhes fizessem cair umas por cima das outras, sem que os desníveis lhes oscilassem a horizontalidade.

De repente, não mais que de repente, as nuvens começaram a chorar seus prantos, numa chuva macia que inundava e arrefecia aquela paisagem de pedaços. Aos poucos, as lacunas respirantes foram aumentando e os vãos entre as flores se alargando. Desnudado, o chão foi sentindo falta da delicadeza dos carinhos daquele floreio, cadenciado entre os movimentos dançantes e o som suave de seu balançado.

Guardadas as sensações sem ressentimentos, logo elas tornar-se-ão outras, abrindo o inesperado para cada parte dessa composição.

21 novembro 2012

ME, MIM, COMIGO




Era de tarde. Eu e meu amigo imaginário brincávamos debaixo da laranjeira.
Meu amigo imaginário fez toc toc toc na minha cabeça e perguntou:
- Tem alguém aí?
Para nossa surpresa, alguém respondeu.
Eu, meu amigo imaginário e alguém brincamos debaixo da laranjeira a tarde inteira.



17 novembro 2012

DESCARADA


                                                                     Por: Paola Benevides

Fiz troça com o amor e acabei sozinha
Gozei a tua cara, agora goza a minha!


15 novembro 2012

DE TRÊS EM TRÊS...



Por Marcelo Finholdt
(ao amigo de versos Alvaro Posselt)

Pensamentos femininos
Borboletas de um outono
A procura dos meninos

Os meninos pensam reto
Beijam flores no verão
Indiscretos com o afeto

Com afeto a vida encanta
Sim: florida e perfumada
Outras vidas acalanta

No acalanto tem carinho
Não há gelo, sim calor
Novos frutos sem espinhos

14 novembro 2012

POEMÍNIMO

Por Alvaro Posselt

Ilustração: Luiza Maciel Nogueira


Meu encontro já era
A lua desta noite
não ficou à minha espera




12 novembro 2012

DECAS APOCALÍTICOS E ENTREGADOS

                                                    FOTO: Arquivo pessoal

        DECAS* APOCALÍTICOS E ENTREGADOS

Por Marco Antônio de Araújo Bueno


I.                               E Daí ?

       Era o ano de 2012. Era o ano de 2012...


II.                             A Expulsão de Ida

      Preso dentro de casa -  cativeiro quarto -,gritou: Sai Ida, sai!

* A escritora e colunista, neste coletivo - Cecília Prada - houve por bem batizar de 'decas' os microcontos de dez palavras

11 novembro 2012

JOGO DA VIDA

Por Regina Zamora


Faço um mosaico de mim...
não é nada fácil, sim.
Sou um quebra-cabeças
para muitos,
um jogo de memórias.
Assim começa a minha história...
uma riqueza,
um xadrez,
no meio,
uma dama.
Um peixe sem escama,
fora d'água, sem nadar
e que respira o seu próprio ar.
Uma vadia escancarada
na cama,
com um idiota vestindo
pijama.
Uma duquesa jogada
na mesa,
servida para sobremesa.
Sou fichas distribuídas
no tabuleiro de uma vida.



Publicado no Recanto das Letras
Código do texto: T2876726

09 novembro 2012

ARREMEDO



Arremedo

Por Wlaumir de Souza


As folhas esgarçam o cetim dourado
Graçapé pelo tempo atrevido de orgasmo
Simplesmente descompromissado

Amassadas em bolotas
Lembram sempre
As mãos que as tocaram

Retiradas dos cadernos
Experimentaram a liberdade
De folhas soltas pelo tempo acetinado



06 novembro 2012

INTERVALO COMERCIAL #4 - FÁBULA FABULOSA

Por  Vítor Queiroz


moda de viola

Princesa Isabel tinha
dois anéis
um caiu direitinho no boca do sapo,
o outro foi cagado
por um peixe barrigudo

tímidos,
os dous seguem atravessando

a várzea dos charcos
e o vão dos Oceanos


a várzea dos charcos
e o vão dos Oceanos.




05 novembro 2012

PARA OS PYELITO KUE

Por Guilherme Salla

Os Guaranis, Kaiowás e outros
Índios eram,
já não são
livres, ocupavam toda faixa de areia litorânea atlântica.

Hoje, encurralados suicidas,
nos sertões e florestas demarcadas,
das que ainda restam,
índios são mendigos
livres, como só o são mendigos,
índios eram,
já não são.

Os homens brasileiros, Guaranis-kaiowá e outros, erram.
Homens eram,
Já não são?


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