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30 abril 2011
POESIA
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27 abril 2011
EXASPERAÇÃO DO SER NA INCOMPLETUDE
EXASPERAÇÃO DO SER NA INCOMPLETUDE
Por Cecilia Prada
A obra, já disse Barthes, é uma pretensão - uma ilusão da vaidade. O que existe é o ir se registrando, o fragmento, o possível e contínuo, pontinha do Ser emergindo na madrugada e logo agarrado com pinça fina, trazido à luz. Quase sempre se desmancha, fantasma, mesmo à luz tênue da manhã. Se esgarça, retornando àquele continuum ululante - que é o som do universo, em nós, o mar, o mar dentro da concha (omlulante).
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Clarice Lispector compreendeu, quase no final de sua longa carreira literária, a validade suprema do fragmento - permitiu-se “Água viva”. Os fios soltos e abundantes da vida e da ficção sempre foram sua preocupação. Dizia, já muito antes :“Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só : meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias”.
Os tidos como poetas também se autorizam fragmentados. Dificuldade em se aceitarem, em se exporem assim , têm os chamados “estilistas “ - cuja força maior está na expressão, e não na mera intriga. Eles se impõem tarefas, contos, novelas, romances - e ficam exasperados quando se vêem, no fim da tarde e da vida, com os fios soltos da prosa decompostos nas mãos.
Eu vim me guardando, meus fragmentos - solidão.
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Mulher vendendo textos na porta de uma livraria:
-Textos, senhores, textos, textos a valer. Levando contextos e subtextos como bonus. Como quer seu texto? Embrulhado, plastificado, sussurrado ou cor-de-rosa?
- Cor de rosa-rei.
- Como assim? Só tem azul-rei.
-Então vá reinar em outra freguesia, minha senhora, já vi que seus textos não têm imaginação. Nem paixão.
-Alto lá, não faça simplificação tamanha sem de mim conhecer mais do que a mera vontade de vender um texto que...
(Mas o vento, que escutava a conversa, furioso arrebatou-lhe o texto da mão, sem mais. E sepultou-o no ar, para sempre.)
26 abril 2011
Joseph Hart Vaudeville - 7
Capítulo X
Recapitula tudo, ordinária!
NOS CAPÍTULOS ANTERIORES a trupe do vaudeville de Joseph Hart vinha não sei de onde [ ............ 12pt. ] cacos panelas arapucas roda de carroça, ai! fresta e frincha a lona das boléias, ai! o volante do caminhão – e parou na beira da estrada para fazer não sei o que.
Joseph Hart, o patrão vitou o tacão das botas e o relho para a corcunda de Chast Aldrich, o anão. Não interessa! o propietário do vaudeville gritou, talvez um grilo tenha chiado no matagal. Bora ver, qué que não interessava, Maria Amélia, vosmecê alembra?
Baixaria, minha filha, fofoca, o possível assassinato do pai de Joseph, seu Giacomo, a bigamia no trapézio fazendo piruetas e brandindo a sua sombrinha.
Gregor, um pianista do Alabama, e o infame aleijão entre artérias inchadas, cabeças de fêmur, cavidades cavilosas teciam esses e outros boatos enquanto cuspiam bagaços de cana no barro seco.... e agora? chove. Puta merda!, chove.
O posto de gasolina abrigará os histriões que, por sua vez, tentarão secar as roupas para se-apresentarem-se hoje à noite. O posto de gasolina contudo entretanto todavia [ ....... 7pt. ] é verbo, Rafael Noris. Puta merda! Nada não virou substantivo ainda.
Bora, Maria Amélia escutar o barulho da chuva no feltro das barracas:
Capítulo XI
O BARULHO DA CHUVA NO FELTRO DAS BARRACAS
pode
chover, bia hart
corda frouxa buracos de tinta
rasgada num toldo
esmaecido
pode
chover renata
o´brien roda emperrada
de uma carroça
torta
pode
chover à bruta
por que, ai! freve
o para lama o escapamento
é um fumaceiro e
a velha já está
na gruta
Capítulo XII
o feltro DA CHUVA E O BARULHO dOs barracOS
... e agora, José? chove [ ......................................... 41pt ] bastante, e entonces? bora tentar juntos da areia fina a palha do ódio varrer.
Bia Havel e Renata O´Brien Hart cantarão juntas o próximo capítulo e o mistério da bigamia será revelado. Prontofalei.
NÃO PERCA, NA TERÇA-FEIRA, DIA 10/05 O NOSSO FOLHETIM´S GONNA BUSTING ALL OVER...
25 abril 2011
POEMA VAZADO
24 abril 2011
ROTOSCÓPIO I
ROTOSCÓPIO I
[Philosophemas]
Por Antônio d'Alemar
Mas de onde vem esta manhã que, apesar de tudo,
não nos abandona? Somos privilegiados.
O mar é mais catastrófico na televisão
E nos sítios onde felismente não estamos.
A terra treme debaixo dos outros
E o sol mantém uma imoralidade média e
{neutra
Sobre grandes assassinatos (...) *
· Canto V ; 44
· Gonçalo M. Tavares
· “Uma Viagem à Ìndia”
· Editorial Caminho, 2010
23 abril 2011
LIVRE-SE
"Tenho apenas duas mãos e o sentido do mundo."
O dia internacional do livro foi instituído pelo Unesco em 1996. A homenagem ao livro é celebrada em cerca de 100 países no dia 23 de abril, e mobiliza uma vasta rede internacional de editoras, livreiros, bibliotecários, associações de autores, tradutores e muita gente na luta pela causa do livro, leitura e da literatura.
A escolha do dia deve-se ao fato de vários escritores consagrados, como Miguel de Cervantes, William Shakespeare, Vladimir Nabokov e Josep Pla, nasceram ou morreram em um 23 de abril.*
*Fonte: CBL
21 abril 2011
19 abril 2011
REVISTANDO UM CONTO SCI-FI [CONJURANDO FANTASIAS]
17 abril 2011
TRADUÇÃO DE UM DICKINSON
e deixa os fiapos para trás
oh, dona de casa do ocaso
volta logo e espana tu a lagoa.
derrubaste a lã púrpura
o fio de âmbar derramaste
agora vejas, alastra-te por todo o leste
com essas esmeraldas impuras!
ainda a espalhar com sua manchada vassoura
ainda com avental esvoaçante
até que o fiapo se esvaia para as estrelas
e eu me vou e não volto mais...
16 abril 2011
SILÊNCIO: CHAPLIN - C.MUDO!
15 abril 2011
CRÉEDO - "A-VIDA-TODA-LINGUAGEM"!
CREIO que a função principal da escola é a de desenvolver ao máximo a competência da leitura e da escrita em seus alunos.
CREIO na leitura, porque ler é conhecer - o que aumenta consideravelmente o leque de entendimento, de opção e de decisão das pessoas em geral.
CREIO na leitura como uma reação ao texto, levando o leitor a concordar e a discordar, a decidir sobre a veracidade ou a distorção dos fatos, desmantelando estratégias verbais e fazendo a crítica dos discursos - atitudes essenciais ao estado de vigilância e lucidez de qualquer cidadão.
CREIO na escrita como instrumento de luta pessoal e social, com que o cidadão adquire um novo conceito de ação na sociedade.
CREIO que, quando as pessoas não sabem ler e escrever adequadamente, surgem homens decididos a LER e ESCREVER por elas e para elas.
CREIO que nossas possibilidades de progresso são determinadas e limitadas por nossa competência em leitura e escrita.
CREIO, por isso, que a linguagem constitui a ponte ou o arame farpado mais poderoso para dar passagem ou bloquear o acesso ao poder.
CREIO que o homem é um ser de linguagem, um animal semiológico, com capacidade inata para aprender e dominar sistemas de comunicação.
CREIO, assim, que a linguagem é um DOM, mas um DOM de TODOS, pois o poder de linguagem é apanágio da espécie humana.
CREIO que o educando pode crescer, desenvolver-se e firmar-se lingüisticamente, liberando seus poderes de linguagem, através da simples exposição a bons textos.
CREIO, por isso, em M. Quintana, que afirmou: "Aprendi a escrever lendo, da mesma forma que se aprende a falar ouvindo, naturalmente."
CREIO, pois, no aluno que se ensina, no aluno como um auto/mestre, num processo de auto-ensino.
CREIO que o ato de escrever é, primeiro e antes de tudo, fruto do desejo de nos multiplicarmos, de nos transcendermos, e mesmo de nos imortalizarmos através de nossas palavras.
CREIO, juntamente com quem escreveu aos coríntios, que a um o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro, ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, ainda, o dom de as interpretar.
CREIO que a ti te foi dado o poder da PALAVRA.
CREIO, por isso, na tua paixão pela palavra. Para anunciar esperanças. Para denunciar injustiças. Para in(en)formar o mundo com a-vida-toda-linguagem.
PORTANTO, vem! Levanta tua voz em meio às desfigurações da existência, da sociedade: tu tens a palavra. A tua palavra. Tua voz. E tua vez.
14 abril 2011
OFÉLIA - IV
13 abril 2011
EVOCAÇÃO: UMA MULHER E SEUS CHAPÉUS
EVOCAÇÃO : UMA MULHER E SEUS CHAPÉUS
Por Cecilia Prada
Coincidências ou sincronias, como as queria Jung – são coisas que dão o que pensar. Como a figura de uma escritora esquecida, mas que marcou presença na sociedade e na literatura dos anos 30 e 40, que veio um dia se debruçar sobre meu ombro e me animar concretamente a escrever sobre ela - a carioca Adalgisa Nery (1905-1980), poeta e romancista, importante jornalista, deputada cassada sob a ditadura militar. Uma vítima dramática do silenciamento que pesou e pesa ainda, explícito ou disfarçado, sobre as mulheres que, pelo menos até meados do século XX, tiveram de lutar muito pelo direito de expressar sua inteligência – sua fala.
Quando, em 2005, escrevi um artigo sobre ela para a revista Problemas Brasileiros, do SESC-SP, as circunstâncias da sua vida me impressionaram tanto que planejei voltar a falar dela com mais vagar, após ler suas obras, resgatadas de sebos. Mas fui adiando o projeto.
Ora, dois ou três anos mais tarde, encerrando um dia de trabalho normal, antes de desligar o micro lembrei-me de repente, e sem nada que provocasse meu pensamento, dessa vontade de escrever mais sobre Adalgisa. Resolvi passear um pouco pela net, procurando-a. Topei com um arquivo que trazia um belo retrato da “mulher dos chapéus”, como fora chamada – pela originalidade dos múltiplos chapéus que ela própria criava. Demorei-me encarando-a e invoquei-a: Adalgisa, tenho tanta vontade de te conhecer melhor, de escrever mais sobre você, vê se me ajuda!
Passado o minuto de invocação, já ia desligando o micro quando me lembrei de dar uma olhada na minha caixa de correio. Acreditem: lá estava uma mensagem de Adalgisa – indireta mas clara, que acabara de chegar : a carta de um sobrinho-neto da escritora, agradecendo o artigo que eu escrevera – mais de dois anos antes. Carta endereçada à revista e encaminhada a mim, e que eu abriria, repito, justamente naquele momento, imediatamente após a invocação....
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Esguia, elegantérrima, inteligente e bela, retratada por pintores famosos – Portinari, Diego de Rivera, além do próprio marido, Ismael Nery – Adalgisa permanece envolta em uma aura de mistério pouco desvendado, figura controvertida que até na memória da família, dos filhos, parece não ter encontrado, ainda, paz , por ter uma vida particularmente marcada pelas contradições inerentes às condições de vida da mulher brasileira do seu tempo. E por ter executado em si própria, nos últimos anos de sua existência, a inexorável sentença que a sociedade – até hoje – impõe à mulher dilacerada entre sua “feminilidade”e os tradicionais compromissos da família e sua inteligência, sua realização pessoal : o silenciamento.
Confrontada de um lado pela cassação política que a privava do exercício do jornalismo – elegera-se três vezes deputada, duas pelo Partido Socialista Brasileiro e na terceira pelo MDB- de outro pelos conflitos com os filhos, por quem se sentia espoliada, foi obrigada a vender o próprio apartamento em que vivia. A escritora viu-se então constrangida a aceitar a generosa oferta de abrigo na casa de campo de um amigo, o radialista Flávio Cavalcanti. O que fez com que, ao lançar em 1972 seu último romance, “Neblina” (que curiosamente já antecipa a afasia auto-imposta de uma mulher) , se visse ignorada sistematicamente e execrada pela crítica ideológica, por ter dedicado a obra ao amigo que a acolhera – diziam que Flávio era inclusive dedo-duro dos colegas comunistas....mas entre o “politicamente correto” e a gratidão a um amigo, ela escolhera a última.
A bela Adalgisa resignou-se então a calar-se – e ainda em pleno vigor intelectual, sem ter doença alguma, internou-se em uma clínica de idosos. Onde, dizem, não pronunciou mais nenhuma palavra, até que um ano mais tarde, atingida por um AVC, foi realmente calada para sempre.
Deixou-nos romances autobiográficos, sendo o mais importante “A Imaginária”, de 1959, e também livros de contos, de poesias e de jornalismo. Seu talento foi reconhecido no Brasil e até na França. Até o filósofo Gaston Bachelard leu suas poesias e escreveu-lhe uma carta, elogiando-a. Mas as intrigas do meio literário a desgostaram de tal maneira que resolveu apagar-se, deixando um belíssimo “Poema do Silêncio”, assim iniciado:
“Silêncio, cobre o meu pensamento e o meu coração.
Cobre o meu corpo do desejo dos homens
E a minha sombra da luz do sol.
Cobre até a lembrança dos meus passos
E o som da minha voz.
Cobre a minha caridade e a minha fé,
A vontade de morrer e também a de viver.”
12 abril 2011
JOSEPH HART VAUDEVILLE - 6
capítulo IX
FRATURA EXPOSTA
Parece que não.
Parece que não vai. Não tem graça, borboleta furada,
não vejo nenhuma graça na cabeça de alfinete que prendia, então, as noites e os tablados. Adão, naquela época, chamou cada bicho de bode, cachorro, elefante
ou vespa. As palavras, hoje quando, entretanto, não têm mais serventia. Uma família de refugiados atravessa a fronteira do Líbano em 1982. Moscas azuis caídas
para suturar. Lábios, ossos ou feridas. Nervos. Cartilagens. Músculos falidos. Não vai. Achtung! Bruta chuva, bruta chuva. O tédio varre a Palestina, o Irã, a Líbia e o Egito. Parece que. Parece que não. O tédio que acompanha o tiroteio, o ódio e o exílio fratura os varais, senhoras e senhores, do nosso folhetim.
Aldrich? Anão de merda. Enfie a cenoura na boca e fique quieto. Página em branco, é o que há. Palavrões. Nada será capaz de rabiscar, ó agulha. Ó crueldade. Palhaços, trupe de folgazões, saltimbancos. Profissionais sérios. Nossa Senhora e o seu filho na beira da estrada, num jumentinho que vai para o Egito. Sem pecado. Crianças que não querem crescer. Sem pecado, sem pavor. Pegue um charuto, lamba a ponta do polegar. Bora, Maria Amélia, folheie as páginas. Você está vendo? O que é que você está vendo? Choveu ontem à noite. Pegue a caneta, rabisque, rasgue o folhetim. Não adianta. Parece que não vai. Páginas cheias de formas, páginas trituradas, manchadas de lama, lanhadas de alto a baixo ainda são páginas
Parece que não
vai. Aranha, grilos e formigas. Parece. Alfinetes traiçoeiros, escondidos nas areias do deserto. raspando a carne viva dos meus pés e das minhas mãos. Bata palmas, João Batista, bata palmas.O burrico trotará indiferente. Os saltimbancos voltarão, senhoras e senhores, no dia 26 de maio.
O folhetim prosseguirá. Firme e forte. As palavras e as borboletas, memsahib pupin, têm serventia. Ossos e feridas. Nervos. Cartilagens. Pé de cabra. Não quero choro nem vela. Músculos flácidos. Achtung! Não procure, Aldrich,
a batida perfeita de Flaubert. Não vai. Parece que. Parece que não. Não vai dar certo, anão. Enfie a cenoura na boca, Chast Aldrich, achtung! e fique quieto até o próximo capítulo. O posto de gasolina já está bem perto.Rodas de carroça, lonas bem amarradas. Pinguim de geladeira, bibelô de porcelana. Vamos em frente.
11 abril 2011
POEMA DE PÁSCOA
10 abril 2011
TEMPOESPAÇO - MICROCONTO PUBLICADO NO BONDE
"Tempoespaço" -
"Por quê não vai pra p.q.p.?"-
"Demora mó longe, mano!"
09 abril 2011
05 abril 2011
ETIMOLOGIA DO 'REPETECO"- PELÉ MILI/ROGÉRIO CENI
04 abril 2011
UM POEMA CHEIO DE ME-TOQUES
como se fosse o objeto mais frágil
como se fosse o objeto mais raro
minhas mãos tocam as suas
mãos, pernas, costas e nuca
como se fosse o poema menos lido
como se fosse escrito para cegos
fecho os olhos e reviso
cada verso do seu corpo
como se fosse durar para sempre
como se fosse acabar daqui a pouco
eu curto cada segundo
pra alongar o nosso amor
03 abril 2011
N'ESTANTE JÁ
Por Tonhão Gusta
(Estava na estante)
Quebra-pratos
ilu
aí os vento de Oyá Iansã tira os taco do chão
no lufa-lufa
arrasta as alma e as tira da chinela
ó iabá
pra cima e pra baixo
no lufa-lufa
troca tudo de lugar
epa-hei!
troca tudo de lugar
aí os vento de Oyá Gbalé quebra os prato e logo as folha seca
vai parar noutro riacho : sempre cada vez melhor
epa-hei Oyá!*
02 abril 2011
LIMITLESS
Por Daniel Matos