Melancolia é o último filme do diretor dinamarquês Lars Von Trier, mais um exemplar da sua fase depressiva, como o próprio admite, começada em Anticristo. Ainda a deixar na espera a conclusão da trilogia de Grace, começada com Dogville, seguida de Manderlay, e supostamente a ser concluída em Wasington. Melancolia nos traz um amalgama desse estado depressivo que dá nome ao filme, um amalgama tanto nas inspirações narrativas, como nas referências, sendo músicas, Wagner, ou reproduções de quadros, Ophelia. O filme é dividido em três partes. Começamos com uma seqüência reminiscente do final do 2001 de Kubrick, só que com seu exato oposto, em vez da chegada da vida, da possibilidade, após toda a melancolia do filme, temos a chegada da morte, da total entrega ao nulo, ou a total entrega ao desespero que pode o anteceder. É o destaque do filme, com suas tomadas em câmera lenta e efeitos. Câmeras lentas a capturar o abismo que afunda o tempo durante um estado de depressão, com seus segundos que se tornam milênios a transformar todo o cenário e a vida neste presente num amalgama embaçado, sem definição, sem sentido, sem propósito. Na segunda parte, temos algo que só pode ser uma adaptação de Os Vivos e os Mortos de Joyce. Narrando um jantar de casamento de uma classe alta ociosa e sem direção, afundada na confusão de valores e aparências que não lhes dizem nada. A depressão causada por ter de sempre estar sorridente, quando nada leva a isso, quando mesmo no roteiro tudo estando perfeito, ainda falta algo, ainda há um imenso e gigantesco vazio, um buraco negro a tragar no seu campo gravitacional o planeta chamado melancolia. Na terceira parte temos a melancolia em si, a pura entrega a ela, tanto num absoluto estagnar, numa absoluta imobilidade, por alguém que a conhece, e a ela pertence, tanto em um de seus reflexos, o medo de quem a ela não quer pertencer, pois não entende que já é dela, o desespero. Em suma, o filme é um elogio a depressão. Se você gosta dela, esse pode ser um filme para você. Ainda prefiro o herói moderno, determinado e com um objetivo definido, encontrado na saga de Grace.
Um comentário:
será mesmo q Grace era tão determinada? ou havia um componente masoquista e passivo nela? no fundo Justine é uma heroína como todas as outras de LVT: a boa alma capaz de se sacrificar pelos outros. Os filmes do dinamarques são os mais feministas do cinema contemporaneo e seguem a linha brechtiana: neles as mulheres são os elementos mais fortes, pois só elas são capazes de renunciar. Justine renuncia a propria neecssidade de justificar a vida na terra, coisa q sua irmã ou seu marido são incapazes...
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