16 março 2010

Retrato de Polaroid


Quando uma ambulância levava um homem infartado pelas ruas; quando um homem caia bêbado pela calçada; quando a mãe chegava de seu trabalho e cobria o filho que dormiu com a TV ligada; quando uma briga de ratos ocorre pelo lixo que escorre nos bueiros da cidade.

Renata e Otavio decidiram pedalar pelas ruas, a madrugada era gelada, mas o céu estava bonito. Ela havia comprado filme para a Polaroid com que gostava de clicar prédios, carros em movimentos, os postes que iluminavam a ponte por onde caminhões faziam seu vai e vem. Renata discursava apressada sobre os destinos aparentemente acertados daqueles que cruzavam a ponte. Dizia ela:

- De longe, todos parecem saber o que devem fazer, já de perto esses destinos que vem e vão não possuem certeza do que fazem.

- Quais são suas incertezas? Otavio perguntou um pouco incomodado.

- Se eu posso ter certeza de qualquer coisa? Porque, sinto que os retratos que faço na minha Polaroid não dizem nada. Ela sorri pra ele.

Talvez, ela quisesse dizer que somos apenas homens ou mulheres solitários, mas temeu, era ele sua esperança, ele era pra ela a chance de diminuir a distância ferina entre dois seres. Renata entendia que entre os dois até o silêncio era possível. Mas, sabia também, que o risco da incompreensão era constante.

Afinal, é muito irresponsável dividir momentos medíocres, com aqueles que fantasiamos o efêmero do belo.

2 comentários:

Rafael Noris disse...

Bacana o texto! Mas não consegui dissociar o casal da literatura e o da vida real, hehe, quando Otavio diz "- Quais são suas incertezas?", até vi o jeito do Alan de mexer as mãos quando está indagando sobre algo ;)

Bia Pupin disse...

Nossa vi agora, não estou em dia com as minhas "Prioridades"!
As vezes não sei se estou acordada ou sonhando, levo muito a sério a brincadeira e a fantasia. Talvez, eu me esqueci de guardar tudo no devido lugar.

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