Por Vítor Queiroz
Capítulo II
A Midnight Saturday Prayer
Pau torto – um violão velho, um violão ferido, arranhado, o polegar do negão. A blind bruder, eh? O tio cego bate palmas. Oh! go down, Moses! Assovia, a boca num trejeito, um violão qualquer.
Fardo pesado, irmão? Wath? Nuttin´, preacher, a semana já passou. Ainda tá cedo. Noite de sábado, o feitor não tá nem aqui mais, eh? e Moses foi pastor dos rebanhos de Jetro, que é sogro de Moses.. Num chão de poeira batida, noite de sábado. As tias sentadinhas num toco, num canto do terreirão. As tia não vai mais pro eito. Família de branco qué mais é acabar com nóis tudo. Pau torto. Os branco não vem cá.
– Moses tava levando o rebanho assim, pra banda de lá. Moses foi bem mais longe que Gilmer, pra banda de lá do ermo. Noite de sábado. Ainda tá cedo pra função, br´er. Aí Moses chegou num monte, o monte do verdadeiro Deus, Horebe, é o nome do monte.
Piche, breu – a pele escura, a pele estragada, arranhões – estrelas no frio da noite da Geórgia – mãos feridas, o espinho do algodão num canto de cada osso. O pastor cativo tenta esconder a barra das calças, o rasgão. Aí Moses tava lá no monte Horebe e sabe o que aconteceu? A função vai começar, já chegou a folga dos preto, oh preacher, já chegou o sábo, eh?
Cada crânio, cada omoplata, cada vão da semana, eh... daqui a pouco, a midnight Saturday prayer, daqui a pouco vai estralar – noites do Congo, noites do Congo – gritar, bater na poeira e cair. O baque seco no terreiro. Palmas, é noite, bruder, já é noite e os branco não vem cá.
– Já acabou, irmã! Não tem mais carrego nos ombro, ninguém precisa pegar algodão pro sinhô, que nem as noite do Congo, irmão, eh? Moses foi lá tirar os irmão do cativeiro, não foi?
Batida de palmas, o pastor já arranha a glote. Oh, preacher! Moses foi lá pro monte Horebe e voltou pro Egito tirar os irmão do cativeiro, não foi? A fogueira tá acesa pro ring shout. Não foi? O verbo ali, na merda na fome na moléstia no cativeiro na miséria no terreirão empoeirado, se fazendo carne. Nos pés da assembléia, hallelujah! Moses aparece de novo. Go dow, Moses! uma família só de branco, bem umas vinte pessoa. No fervor da congregação, yeah you is a nice parcel of christians, Moses também pegava algodão de sol a sol. As noites do Congo,
Oh! go down, Moses,
Away down to Egypt's land, eh!
And tell King Pharaoh
To let my people go
um batuque surdo, sem tambores toma a noite do sábado, uma família de branco e as senzala cheia de preto do Congo, nóis tudo. Nóis african. No terreirão Moses apascenta as ovelhas de Jetro, seu sogro, outra vez. Hallelujah! Os isrealitas carregando os fardos de algodão na cacunda. O jeito do Egito batia na mão, nos irmão tudo de Moses. Let my people go. Na noite do sábado, na noite de folga dos . Moses vai até faraó amanhã, Moses prende e arrebenta, palmas no terreiro. O polegar no violão. A fogueira acesa, as brasas estralando. Away down to Egypt's land.
Numa roda do terreiro, os cativos batem ferramentas e calcanhares no chão, são ancinhos, são enxadas, são vassouras. Oh! go down, Moses! O baque dos ossos no chão, noites do Congo, noites do Congo, noites da Geórgia. O baque dos ferros do cativeiro.
– When Israel was in Egypt´s land. O pastor grita. Let my people go, a assembléia vai responder chorando. Oppres´d so hard they could not a-stand. Let my people go. Noite de sábado. A midnight Saturday prayer.
– Aí Moses tava lá no monte Horebe e sabe o que aconteceu?
... E AÍ? O QUE ACONTECEU, IRMÃO? QUER SABER? QUER SABER MESMO? NO DURO. ENTÃO...
NÃO PERCA!NA TERÇA-FEIRA, DIA 06 DE DEZEMBRO, A APARIÇÃO DE JEOVÁ EM TODA A SUA GLÓRIA, NUM BAZAR DO CAIRO OU NUM TRISTE SENZALA SULISTA.
VOCÊ NÃO PERDE POR ESPERAR...
Um comentário:
Cada crânio, cada omoplata. Haja omoplata pra sustentar o peso das múltiplas referências; haja crânio com massa cortical boa para sacar que a coisa é lúdica, não hermética como parece. O Vitor é assim mas é legal!
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