26 novembro 2011

A PELE QUE HABITO

Há pessoas que acreditam que a identidade é uma construção pronta, irrevogável, a qual compomos na nossa infância. Há também aqueles que a vêem como uma escolha, uma série de decisões, gostos e práticas, que podem ser revogadas, desconstruidas e substituidas por outras mais adequadas, adaptáveis ao espaço-tempo em que se encontram após a mudança. O mais recente filme de Pedro Almodóvar, A Pele que Habito, é um estudo sobre essa construção de identidades. Como podem ser também descontruidas e construidas pela mudança de carne, pela mudança de orgãos, da aparência.

A identidade pode ser considerada tanto uma composição interna, de como vemos a nós mesmos, como uma externa, de como acreditamos ser vistos por outros. Assim, pode ser controlada tanto por mudanças psicológicas, como por mudanças materiais, sólidas, que forçam uma ruptura no modo de se ver e de ser visto. O cirurgião, protagonista do filme, se faz de agente controlador de identidades através de seus poderes de manipulação da carne, mudando o sólido para mudar o interior, o subjetivo. Mudando tanto a visão de sua cobaia quanto a si mesma, quanto a sua própria visão sobre ela. Uma série de ações que faz como consequência de suas próprias necessidades de controlar sua própria identidade, de exteriorizar de alguma forma as perdas que não pode impedir, que não pode controlar, sua família. Um agente que, em si, se viu incapaz de fazer o mesmo quando desejava criar a mudança por meios psicológicos, quando necessita descontruir e construir uma identidade sã para sua filha. Pois, só de carnes entende. A criação de uma nova identidade em sua cobáia lhe vêem completamente por acidente. Por isso, quando um controle psicológico também é necessário, o caminho de sua vida se repete, dessa vez tendo a si próprio como vítima.

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails