14 fevereiro 2012

AS FÉRIAS DE SUETÔNIO BARBOSA #3


Nêga Maluca, versão

Nêga Maluca, a cabeça tá proporcional ainda Góngora y Argote já chegaro na gira, mas a nêga ainda não bolou total não é nêga ainda, nem maluca.
Não é, quiçá, nem a parturiente Griselda nem Dolores, cantora de boleros do Texas nem Maria Amélia fidalga, hesita – apenasmente – vai ou não vai até a árvore barroca? até a boca hedionda, terrível da Gruta do Cravo?
Nêga Maluca, tá brotando pérola e caindo flulô no quintal cheio de hipérbatos. Bora, Dolores, cospe, cospe a rosa murcha, cospe a feiosa, horrenda, versão no cabelo alisado a ferro dos trouxa:

deste, pois, formidável da terra
bocejo,
o melancólico vazio a Polifemo, horror daquela serra, bárbara choça é, albergue sombrio e redil espaçoso adonde encerra quanto os cumes ásperos bode dos montes esconde:
cópia bela que um assobio junta e um penhasco sela


Góngora, tragicomédia

Boteco do Perna. Oh, apoteose do uísque paraguaio oh, palco de balbúrdias e cicatrizes indeléveis oh, porres homéricos oh, sonegadores de impostos.
Profissa, Dolores, cantora de bolero texana, feriu o lábio cheia de nervosismo fingido. Glote fechada.
Cuspindo um tipo ideal antilhano atrás do outro, Dolores arrebentava sin piedad a garganta. No quando, entretanto um chafariz de pitangas carcomia de vez a inverossímil maquiagem da mujer. Oh, barafunda de cílios postiços.

– Puta que pariu, carajo, detesto Perfume de Gardênia! Na platéia, apois, um Polifemo sacana atirou – sem mais nem menos – uma cadeira na nêga.
Luís de Góngora, orixá invocado, ficou pê da vida, tremeu no sutiã do gogó. Corazón! Vou falar tudo, seu rebanho de chauvinista féladaputa, vou falar tudo na orde, tudo no caso reto. A árvore miúda, quase um arbusto.
Vosmicês não têm sequer um hipérbato no cu pra cagar, toma esse verso entonces:

Apois, o melancólico vazio da caverna, este bocejo formidável da terra, é apenas um abrigo sombreado para Polifemo, o horror daquela serra.
Para o gigente, a gruta é também um redil espaçoso para encerrar tantos bodes quantos os cumes ásperos podem esconder: um belo rebanho, bêbado miserável, que um assobio de Polifemo ajunta e um penhasco, seu tosco, sela.



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