30 dezembro 2012
NEM SEMPRE DESTINO
NEM SEMPRE DESTINO
Por Regina Zamora
Procurou fixar a visão sobre as flores,
única, naquele jardim!
Que lhe envolve sob um prazer inestimável.
Elas, as rosas vermelhas, as preferidas,
perfumadas e de cor forte, sorte,
despetalar e soltar ao vento,
porque o que realmente importa
é estar ali, no seu mundo à parte,
completamente liberta, envolta
à mais completa indiferença
do mundo à sua volta,
pedindo ou apenas agradecendo
a presença do seu anjo, ele,
que lhe participa abrindo a luz do seu caminho...
Uma vontade cada vez mais necessária,
sua jornada...nem sempre destino.
29 dezembro 2012
LÍQUIDO AMNIÓTICO

Por: Paola Benevides
Ele não sabia nadar. Era pedra, afundava. Apreciava mergulhar no lado mais profundo da piscina e lá permanecer. Bastava. Pura meditação. Sentia o corpo pulsar dentro d'água enquanto mantinha os olhos bem fechados, imaginando-se um peixe de aquário daqueles translúcidos e luminosos, de se ver o coração palpitar, de se enxergar o plancton sendo digerido em cadeia alimentar, de se alojar no mar feito prisão e simplesmente ser. Por dentro. A respiração presa por muito tempo relaxava a cabeça, o sangue comprimido livrava-lhe do barulho lá fora, da secura das pessoas, frias, absortas, quase mortas. Ali estava quente e protegido, a sós com seus órgãos, encapsulado por um útero artificial que logo lhe pariria de novo ao mundo real, de minuto em minuto, como a roda da serpente: ouroboros. Emergia de vez em quando para capturar o fôlego, depois retornava. Era um vai-e-vem entre silêncios e gritos de crianças que brincavam ao redor, embora respeitando o espaço do menino. Quando resolvia abrir os olhos, contava quantos outros pés lhe circundavam, como se fossem irmãos de uma mesma mãe adotiva e quadrada. Azulejos escorregadios, gotículas formadas, vibrações graves contornando seus ouvidos. O globo ardido. Parecia mais pálido que antes - constatava ao olhar para as próprias mãos. Por demoradamente submergida, sua pele enrugava. Mal havia renascido de novo e já velho se reencontrava. Fetal e edil ao mesmo tempo, mas na idade consciente de um menino.
27 dezembro 2012
MANEIRO NA NAMORADA
Foto - Arquivo cidades
MANEIRO NA NAMORADA*
Por Marco A. de Araújo Bueno
Manda mais maneiro, mano, - manera! Manera, maneirou! Na namorada só.
*Micronarrativa de dez palavras (Deca)
MANEIRO NA NAMORADA*
Por Marco A. de Araújo Bueno
Manda mais maneiro, mano, - manera! Manera, maneirou! Na namorada só.
*Micronarrativa de dez palavras (Deca)
26 dezembro 2012
21 dezembro 2012
CLASSIFICADOS
Classificados
Por Wlaumir de Souza
As escritas escolhidas
Alcançadas na multidão dos vocábulos
Vastidão de sinônimos
Tão iguais andam ao par
Respeitando a diversidade das expressões
Puritanos de partido único
Solitários na multidão de si mesmos
Sussurram uns nos outros
Lástimas dos antônimos
Em guerra nos sentidos
Na revelia da conformação
Olhos tortos quase caolhos
Um para cada lado
Dispares querendo o impar
Minutas perdiam na espera
Embaralhadas na anciã inspiração
20 dezembro 2012
PALAVRAS E SILÊNCIOS
Palavras
e silêncios
Por
Vivian Marina
Havia
um amontoado de palavras guardadas na estante. Ao primeiro olhar,
pareciam todas quietas, inertes, adormecidas – e estavam.
Esperavam, pois, apenas serem recolhidas por alguém que lhes desse
vida. Esse tal alguém poderia arranjá-las de maneiras muito
peculiares. E o que o silêncio daquelas palavras desejava era que
fossem tratadas com delicadeza, que fossem escolhidas uma a uma numa
composição suave, cheirando alecrim.
Silêncio
ambicioso, mas, por que não desejar algo tão sincero? Ele, o
silêncio, gostaria que as palavras fossem lidas com paixão, que
aguçassem outras combinações, que fossem pintadas com grifa textos,
circuladas, marcadas, (ab)usadas...
Enfim,
alguém não apareceu. E as palavras, bem como seus silêncios,
permaneceram ali, amontoadas na estante. Nenhuma frase fora formada,
nenhum balbucio ousou soar, nenhum toque para lhes embaralhar, nem
mesmo um vento, uma brisa, para tirar-lhes da estagnação.
Já
desacreditadas, as palavras e seus silêncios olharam com o canto dos
olhos e viram ninguém aparecer. Era franzino, silhueta delgada,
quase quebradiço – será que se deixariam escrever por tamanha
miséria? Foi quando ninguém lhes tateou com todo o cuidado,
rearranjando-lhes os sentidos, dando-lhes, pois, aquilo que tanto
desejaram – um pouco de zelo, para que, então, pudessem não mais
estarem amontoadas na estante e sim enfeitadas e adornadas por ninguém!
19 dezembro 2012
18 dezembro 2012
MOSHE, MOSHE
MOSHE, MOSHE
Por Vitor Queiroz
e esse não saber
que você traz ainda, bebê, numa caixinha de marfim, essa maravilhada tosquice de madeira já tirada, numa data pré-histórica, mastodôntica, da árvore e não-cadeira nem cabo-de-martelo ainda,
essa ignorância. agora, é muito mais brilhante, brunhida, debastada. você deveria saber que a ignorância também pode ser qualificada, que a ignorância cresce em todo quando e em cada entretanto, cada vez que você sabe
que você entende das perguntas
a mais antiga,
qualquer ponto novo pra agulhar. na trama. no entremeio.
15 dezembro 2012
BIG BANG
Por: Paola Benevides

Trovejou por um céu de nuvens o compasso da eternidade
Projetava galáxias, Galápagos, apagões e brilhos estelares
Até que o universo chorou por cima de todos os mapas
E, gota a gota, o homem elevou o nível dos mares.
12 dezembro 2012
BURBURINHO
Ilustração: Luiza Maciel Nogueira
BURBURINHO
Por Alvaro Posselt
Ouve
e aproveita
o silêncio
do qual
a pessoa
é feita
11 dezembro 2012
CONTEMPORÂNEOS DECAS - IMAGENS DA RESISTÊNCIA
22. Imagens da Resistência
Por Marco A. de Araújo Bueno
Ao colega M.Finholdt, - Vai, caro!
Postou-se nu diante do tanque – protesto! Então lavou suas cuecas.
{Microconto de dez palavras inserto no corpus da tese de doutorado "Brevidade e Epifania na Micronarrativa Contemporânea}
09 dezembro 2012
ANJOS
Por Regina Zamora
Sou o Anjo Ônix...
minhas asas são negras
e me disfarço de ônio.
Sou meio trapaceira,
engano...sou faceira!
Passo um tempão
perdendo tempo...
corro disparando
sentimentos...
pensando, escrevendo,
pintando, bordando,
cantando, dançando,
representando
no meu dia a dia.
Olha só quem
me faz companhia...
o meu Anjo Margarida!
Não entendeu?
É que suas asas iluminam
nas cores branca e amarela...
sua essência é tão singela!
Brincamos até
de bem-me-quer e malmequer
dentro de um lindo jardim,
onde fica escondido,
aquele anjo divertido,
ele é mesmo intrometido,
mas sempre cuida de mim.
Quem?
O Anjo Querubim!
Publicado no Recanto das Letras
Código do texto: T3025119
07 dezembro 2012
04 dezembro 2012
TRADU - ZEN
TRADU-ZEN
ou
TEOFANIA DAS TEOFANIAS
oi
¡LA NADA, CHICO, LA NADA!
Por Vitor Queiroz
toda a vil cobiça é abandonada,
e cadê a iluminação?
vamos, não fique a vontade na casa
desse Buda!
passe voando
pelo deserto chamado "Aqui Não Mora Nenhum Buda"
anon. sec. XII
01 dezembro 2012
ESTAÇÕES
Por: Paola Benevides
Madrugada rasga véu com suas unhas compridas
Feito noiva a descasar antes de ter a mão pedida
Nuvens que no papel do azul compõem indrisos
Abrem sorrisos em despedida à pele boa da tarde
O sol sem sono arde pelo ocaso e então apaixona
Raio a colorir mar que ondeia com chuva de outono
Quem tem arco-íris dentro de si vai se abismar?
Nunca encontramos potes de ouro por detrás...
Só ficam além dos portais as nuanças do existir.
![]() |
“”Let it unfurl”” by Ant Vaughan |
Feito noiva a descasar antes de ter a mão pedida
Nuvens que no papel do azul compõem indrisos
Abrem sorrisos em despedida à pele boa da tarde
O sol sem sono arde pelo ocaso e então apaixona
Raio a colorir mar que ondeia com chuva de outono
Quem tem arco-íris dentro de si vai se abismar?
Nunca encontramos potes de ouro por detrás...
Só ficam além dos portais as nuanças do existir.
Assinar:
Postagens (Atom)