AS OUTRAS
por Bia Pupin
Renata não deixaria que outra mulher desconfiasse da dor que sentia. Preferia transparecer sua felicidade, não que fosse uma tentativa de esconder algo, exaltava o que vivia com devoção. Instinto de proteção.
Do ponto de vista de Renata, Otavio, desperta nas outras um tipo de admiração espontânea. Por outro lado, as outras sentem o desejo de chamar sua atenção ou provocar nele algum tipo de interesse. As outras, mulheres, são repetitivas em seus truques, que se reduzem em olhares e demonstração de proximidade por valores e gostos.
Ele nega, ela se auto-engana.
Renata prefere lembrar ou comentar dos livros que leu ou faz um tratado a respeito da arte no século XX.
As outras despertam nela a certeza da crueldade dos homens.
Passa pela sua cabeça a lembrança do conto da bela adormecida, quando liam pra ela quando criança, e que sua filha também adora.
Mas Renata não se pergunta: Quem é a Bela adormecida?
É mulher que espera um homem despertá-la e pra quê? Pra dominar suas vontades. Talvez.
Antes disso eles fazem juízos de valores, analisando-as, e por fim, uma entre tantas é a escolhida, precisa de um beijo. Depois de escolhida, a vítima vê em outras uma potencial inimiga.
Um comentário:
Seus textos são sutis, causam prazer; não só pela propriedade, também pela leveza com que você aborda os assuntos, digamos assim... pitorescos!
Observo que a maioria das mulheres são mesmo assim, como você as descreveu.
Valeu!
"Forte abraço, força sempre!"
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