27 abril 2010

A VIZINHA

A vizinha
Por Bia Pupin

Nunca poderemos saber. Nunca.

Antes da criança nascer ainda estavam sem casa. Renata procurou sozinha vasculhando imobiliárias, preços, condições, Otavio não tinha tempo, durante a semana, de auxiliar as decisões. Comentava entre amigos da necessidade de encontrar rapidamente uma casa (eles confortáveis em suas, diziam que havia muita coisa boa no mercado, para Renata aquilo era desdém e mentira). Passava o dia na faculdade na tentativa de terminar o doutorado antes da bolsa romper, e, além disso, encontrar uma casa- a menina nasceu depois de uma semana que haviam se mudado para um apartamento no centro da cidade. O quarto não tinha nem sido montado. O doutorado não tinha sido defendido.

Tudo era muito diferente: ser mãe, oferecer os seios à menina, talvez Renata quisesse um menino, mas estava adorando vivenciar a maternidade. E nada a insultava, Otavio e Renata viviam tempos distantes desde a notícia da gravidez. Era como se ela virasse mãe de sua filha, nada mais. Testemunhavam juntos o crescimento da pequena.

No elevador conheceram a nova vizinha. Renata sentiu dificuldade de ser simpática com a garota, seu sorriso constante impediu, ficou irritada. E em sua primeira noite mostrou a que veio. Gemidos, gritos, por fim, um berro misturado a um choro.

Ela estava sozinha, em seu apartamento e conseguia tudo aquilo - sozinha.

Renata e Otavio ficaram constrangidos, como se aquilo fosse o lembrete da ausência de sexualidade entre os dois. Otavio resolvia isso de uma maneira pouco generosa, se deitava mais cedo, e depois de alguns minutos se escuta a porta do banheiro sendo trancada.

Renata não era convidada para os festins.

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