26 maio 2010

MOTES PARA POEMAS E ESTRÉIAS DE COLUNISTAS

"Uma última noite contigo e as palavras se foram todas.
As tuas mãos sempre atuaram como um narcótico porque deixei diversas vezes o mundo passar frente a meus olhos.
O que fazemos são anotações de um incerto fogo que nos guia.
Guardo teu nome e com ele me movimento de uma sala a outra de um labirinto que ainda não sei ao certo se compreende sua razão de ser.
Toco a tua pele quase invisível e me deixo invadir pelos rumores de sua inquietude.
Gosto de começar a viver pelo teu nome.
Um dia imaginei um bosque em que os teus lábios traduzissem toda a folhagem.
Não somos uma fábula, somos?
Sempre penso em ti como uma infância perdida.
Difícil aceitar que seja a minha.
Eu te amo como um plano de fuga ou foste exatamente a primeira mulher em minha vida?
Ler é o que toca aos olhos e tudo o que vemos se transforma em nova miragem.
Talvez as palavras se gastem menos que a realidade de seus temas.
Porém não fazemos idéia se o que tocamos não é senão a palavra.
O mundo sempre se desfez por um excesso de bíblias. "

{AS MÃOS DE CLARICE LISPECTOR, por Floriano Martins}


***







INCIDENTE

Por Marco A. de Araújo Bueno


{Um 'esquenta' para a poetagem que virá na coluna de Cássia Janeiro}

O disco era novo,
Chang, não – era de casa,
Plantado no chão da casa.

Ouvia o meu disco, voava,
E Chang, plantado nas patas,
Parecia que voava também.

E nem notei o ruído, além,
Que levou Chang em disparada
Atropelando o fio do aparelho no chão.

O fio que me ligava a Chang
Rompeu-se. Nesse dia viu-se:
Pequinês voando por sobre um portão.





* Poema produzido, em dez minutos, na vivência-oficina com o poeta Fabrício Carpinejar (de excelentes recursos metodológico-teatrais),
questionado em seus méritos de verossimilhança e antecedentes objetivos da ação proposta pelo mote - violência contra bichinho doméstico.
{SESC- Campinas, em 26/05/07}. Parabenizo a iniciativa e questiono o histrionismo que se prevaleça de “a priores” subjetivos e provoque constrangimentos estéreis. E 'abraxos' ao escritor, crítico, fotógrafo e ensaísta, o amigo Floriano Martins.

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