19 junho 2010

NA NATUREZA HUMANA

Liberdade. Liberdade é o que todos buscamos. Todos que atingiram pelo menos um certo aspecto de auto-consciência. Liberdade do putrefante organismo a que chamamos de sociedade. Sociedade que não criamos, mas a qual somos totalmente responsáveis, pois nada mais somos que o seu corpo. Àqueles que conseguiram abrir os próprios olhos, sobra a busca, a busca por sonhos, a busca por desejos. Sonhos nossos, não deles. Desejos nossos, não dela.

Into the Wild é um filme sobre esta busca, dirigido por Sean Penn, baseado no livro de Jon Krakauer, seguindo a vida de Christopher McCandless. Christopher foi um homem que tinha todos os caminhos que a sociedade oferece ao seu alcance, todos os inúteis caminhos que tantos cegos com um sorriso triste se regojizam a seguir, e que tantos outros literalmente lutam para ter, como se fosse a única opção. E tendo-os em suas mãos, ele disse não. Não a uma fórmula pré-determinada que nada poderia lhe dizer. Não a uma fórmula que milhares tomam como realidade, mas que não passa de uma perversão habitada por monstros. 

Christopher disse não e embarcou numa jornada a única coisa na qual conseguia enxergar uma verdadeira autenticidade: a natureza. A natureza, um belo organismo que não devora, ao contrário, flui, flui em um eterno equilíbrio. Um equilíbrio que nunca parece ser encontrado na pirâmide de inutilidade da sociedade. Pelo caminho, porém, ele foi encontrando outras autenticidades: outros como ele que disseram não, outros que até aceitaram os caminhos a eles impostos, mas encontram formas de distorcê-los a seu benefício, e outros que até foram tomados pela praga, mas que entretanto não a deixaram consumi-los, nem se fizeram de corpos para sua propagação.

O caminho se fez de conclusão, e ao chegar ao seu destino, Christopher pode finalmente encontrar a si próprio. O bater do vento sobre as folhas das árvores, o descer da água do rio, os animais existindo em sua própria e constante realidade, formaram juntos a composição que lhe permitiu encontrar o seu próprio eu a boiar na essência da vida. O que lhe permitiu aceitar o seu passado, com seus progenitores, sua experiência perante a degradação da sociedade, não mais como um câncer a fazê-lo gritar, mas como tinta a pintar um traço de seu quadro. Não mais uma agressão, mas uma cor, como todas as oferecidas por aqueles que encontrou em seu caminho. Liberdade da única prisão a qual um homem pode ser encarcerado, sua própria mente. Ele encontrou a liberdade por fazer a sua mente, finalmente sua. E na liberdade, a felicidade, por reconhecer toda a tinta que compunha a sua vida. “A felicidade só é real, quando dividida.” Escreveu em um de seus livros.

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