Por Vivian Marina
Um dia desses sem mais, indo buscar pão e mortadela na padaria do Seu Peixoto, percebeu que a lua crescente, fortuitamente, lhe sorria. O semáforo fazia um barulho esquisito, quase como se estivesse fora do ar. O ipê roxo estava completamente florido, repleto de pompons rosas, lilases e arroxeados. O cachorro latia e rodopiava a cada passagem de transeunte. Um moço vestido numa roupa de ursinho lhe sorriu com desejo. Entre tantos detalhes, inadmissíveis anteriormente, perdeu-se, os passos falharam e as palavras lhe faltaram...
Ao invés do desespero da perdição, pelos excessos que deterioram a pele, sentiu alívio, afinal, se os pés resolveram falsear seus passos e o que lhe falta não é a direção, mas letras enfileiradas, então poderá, quem sabe, trair os significados das palavras como tropeços nos obstáculos das calçadas.
Trair a ortografia, sem o intuito de escrever erradamente. Querência em questionar o próprio erro, fazê-lo mais do que meramente o oposto do correto. Se para construir casas erradas é preciso torná-las inabitáveis e impenetráveis, então, o que ela queria era poder construir uma casa e uma escrita que coubessem nela mesma.
2 comentários:
Putz, se essa Viviana vai andar pela linguagem sensual assim, vou seguir os passos dela. Achei que era teoria, era, um pouco. Mas foi um passeio!
bem-vivi, vinda!
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