24 novembro 2011

ANDARES

Andares


Um dia desses sem mais, indo buscar pão e mortadela na padaria do Seu Peixoto, percebeu que a lua crescente, fortuitamente, lhe sorria. O semáforo fazia um barulho esquisito, quase como se estivesse fora do ar. O ipê roxo estava completamente florido, repleto de pompons rosas, lilases e arroxeados. O cachorro latia e rodopiava a cada passagem de transeunte. Um moço vestido numa roupa de ursinho lhe sorriu com desejo. Entre tantos detalhes, inadmissíveis anteriormente, perdeu-se, os passos falharam e as palavras lhe faltaram...
Ao invés do desespero da perdição, pelos excessos que deterioram a pele, sentiu alívio, afinal, se os pés resolveram falsear seus passos e o que lhe falta não é a direção, mas letras enfileiradas, então poderá, quem sabe, trair os significados das palavras como tropeços nos obstáculos das calçadas.
Trair a ortografia, sem o intuito de escrever erradamente. Querência em questionar o próprio erro, fazê-lo mais do que meramente o oposto do correto. Se para construir casas erradas é preciso torná-las inabitáveis e impenetráveis, então, o que ela queria era poder construir uma casa e uma escrita que coubessem nela mesma.

2 comentários:

Anônimo disse...

Putz, se essa Viviana vai andar pela linguagem sensual assim, vou seguir os passos dela. Achei que era teoria, era, um pouco. Mas foi um passeio!

Rafa Carvalho disse...

bem-vivi, vinda!

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