Por: Paola Benevides
Seu toque era um prurido causado
por bolor de livro antigo que contava histórias de uma vida através dos poros
de outras raras existências. Abriram-se feridas pelas traças compenetradas, sanguessugas
a banquetear suas veias cavas, galgando teias estanteadas, remexendo as prateleiras
de aranha.
De tanto amarelar-se, década após década, passou a desencadear uma
marromice aguda, que combinava em muito com a madeira da escrivaninha nunca antes reformada. Preservava todas as notas em rabiscos de caneta, ranhuras e falhas.
Era
erva-daninha a sustentar toda floresta de palavras, desgastada pelo uso de
vistas cansadas que pendiam óculos e perdiam máscaras com o tempo. Certo dia, virou natureza morta, tivera as folhas arrancadas a
fim de servir como forro de sótão para que pintassem tela, para que pisassem nela, feito folhas tortas ao chão.
2 comentários:
Mais um texto que dá vontade de se comer - com traças e carunchos, e tudo - de tão lindamente escrito!parabéns duplos, Paolinha, pelo texto e pelo aniversário...
Cecília, quanto carinho nutro por ti... Muito obrigada pela sensação compartilhada e pela lembrança. Sigamos nos lendo, bonitas.
Postar um comentário