22 abril 2012


LIMIAR PÚBLICO

Por Carmô Senna


O vapor embaçava a janela e saia da chaleira para o café matinal. O corpo também transpirava e turva a visão, seus pés umedeciam o chão da cozinha, formando uma cartografia pequena e denunciando seus rastros... Onde pontos remotos marcavam suas linhas verticais e horizontais de um vermelho adocicado pelo amargo do gole mais quente do seu corpo.

E ao andar pela cidade, vazia e fantasmagórica em seus finais de semana de pré-folias, preliminares de pequenos córregos e várzeas que me preparo a percorrer nos futuros vindouros momentos de verão.

A proximidade delicada, a força bruta do corpo dela, que vibra e transpira a cada toque meu. Liberam a adrenalina e a pulsação de que rente ao meu corpo se escondem mistérios de alcovas, que frequentadas antes de mim forram minha futura cama. é inebriante e altamente tóxico o cheiro que exala daquele corpo, que não tem donos nem proprietários. essa terra selvagem que transformam minhas seiscentas terminações tântricas em deuses pagãos. E a vontade de tocar-lhe sem pudores me torna um animal irracional sedento que ignora os olhares dos espectadores, transeuntes e observadores desse meu mundo cio.

Prendo a respiração para sorve-lhe os cheiros do corpo em chamas que sinto e recinto. Uma cocaína que anula todo e qualquer outro sentido são. Tornando-me alimento dos poros e desejos táteis. E é assim, tateando que pretendo invadir barbaramente suas fronteiras. Que “bouleversando”, os versos gemidos de orelha, as minhas despertam odes romanas, templários e revolucionários franceses que sinto latente.

Tento destruir suas bastilhas rosadas e úmidas, com minha língua fremente, para nas ruínas dos risos reconstruir minha qualidade persa de luxúria. Sendo em suas argolas mouras, os anéis de fumaça que me aprisionam ao doce sequestro. Dando-me o prazer de vivenciar Estocolmo.

Sei que ainda tenho em minhas Odessas repletas da presença de bombas e minas, nunca dantes encontradas. Fazendo o terreno minado. Mas não se assuste as guerras. Pois, não me importam novos caminhos, só a vontade estampada e violenta nos teus olhos, com o gosto ereto do gozo que é viver em tuas nascentes claras.

Apenas o quente deleite do café que me desperta os sentidos, faz meu Danúbio descongelar. Escondido nas coxas grossas da moça, que tuas mãos e olhos percorrem. Tais abissais desejos! Fazem de mim passageiro e navegante, em Abissínias tuas e minhas, cheias das credulidades e perversões.

Onde em nuas ilhas flutuantes esperam de sua boca as mordidas famintas e desejosas, a marca da carne, a propriedade momentânea de pisar na lua.

Um comentário:

Paula Miasato disse...

"meu mundo cio"... Que lindo.

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