09 fevereiro 2013

FARMACOPEIA


A solidão é maior que o mundo inteiro. Raça humana que não se abraça, quando resolve fazer parte da história do outro, a tinta do tinteiro se afasta e as palavras ressecam. Amarelam-se as páginas que se viram feito caras, feito as costas, feito as portas que se batem quando são postas as vidas em aberto. Tudo tem um preço. Nada tem valor. Alguns livros são comprados pela capa, enfeitam prateleiras, viram alimento para traças. Vendem-se mais dramas e catástrofes que as fábulas de cor rosa. A tolice do homem está em querer ler na ficção o que acontece na realidade, porém com doses mais inacreditáveis de sofrimento. Homeopatas! Sangue nos olhos dos outros é refresco de groselha. O pavor se pavoneia em chantagem, abre margem para a comoção. Aplaude a plateia. Vítimas de seus próprios egos, emoção embotada na garganta, chaga sem prego. Jesus nos salvou mesmo ou se perdeu na gaveta dos dízimos? Diz-me o quê em relação à sua existência? Está valendo a pena de morte? A cada febre terçã faz-se uma novena. À própria sorte, que graça teria um bilhete premiado sem que fosse compartilhada a notícia? Escondem-se os abastados dos interesseiros agora por cultivarem a ilusão da jactância, o fato é que os pretensos ricos sentem inveja dos esfarrapados no quesito alma. Ninguém sabe se aturar sozinho, na verdade, ninguém se quer sem o próximo, que quanto mais aproximado está, aí se proliferam os defeitos feito baratas expulsas do ralos. Quando não, as qualidades são aproveitadas por tempo limitado, manipuladas, pois hoje em dia tudo é reciclável. Poucos não são os rasos. Raros são os maduros sustentáveis.
Drug Detox for Alcohol and Drug Addiction
Refém do chefe, do marido, da mãe, da televisão, do partido, da contrapartida, da contravenção... Viciado em gula, luta no tatame, funk pancadão, aspartame, shake diet, Chuck Norris, cachaça com ou sem limão... Dependente físico da obesidade mórbida, da foda fora do casamento, do ajuntamento falido, do palavrão frente às crianças, da moda em 30, 60, 90 sem entrada e sem juros... Afeito a cheques sem fundo, fundo de poço, ostentação, esteticista, açougue, maltrato animal, agiotagem fatal, cigarros e Marijuana (foi ela quem disse certa vez trajando vermelho até os olhos: - Não se chega ao pó senão por mim). Tarja preta é o remédio para a censura. Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra, pode ser de crack, pode subir o telhado de vidro alheio, pode ser o equivalente em cacos do seu espelho. É de doer o coração dos mais fracos, porque os mais fortes só aprenderam a dormir sob efeito de comprimidos. Por um triz, Rivotril. Uma estaca de vampiro ao menos estanca sangramento. Morre-se de hemorragia interna ou na internação. Aceitamos só visitas íntimas, não aceitamos cartão, a porta da área de serviço está aberta a ladrão de strip poker, negros com micropênis, prostitutas universitárias, freiras lésbicas e padres pedófilos. Não damos crédito à velhice, pois antes enfrentar a cadeira elétrica que a de rodas ou balanço. Vaidade com a idade aumenta. Vamos à queda de braço, que não se dá a torcer. Torcida uniformizada só serve mesmo para bater. Mas temos esperança que a paz um dia venha em cápsulas.


Um comentário:

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Que texto magnífico você escreveu, Lola Blum!

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