21 março 2013

GIZES



Gizes



Demoro-me em minhas próprias palavras, passo por elas, apago, permaneço, rearranjo, descanso. Instantes e pessoas que estão em mim e me inscrevem, escrevem, expectoram. Sinto em minha pele esses efeitos, à flor da pele. Já não sei e nem quero saber do que me lembro e esqueço, fato e ficção criados por mim mesma. Tudo mistura-se numa indiscernibilidade que convém ao agora.

Cheiro de canela, gosto de amora, não os sinto, apenas desperto-os pela poesia. O suspiro que encaracola sua doçura e chama um devaneio. A trama tecida pela aranha em sua teia, aquela outra toda açucarada enfeitando e dourando o doce e essa feita de palavras que estão embaralhadas em meu corpo.

O pássaro que leva e traz lembranças, voa espalhando o que não aconteceu, rememorando um futuro incerto. Os tempos fazem-se pelo pensamento, as pessoas fazem-se pelos encontros. E nessa versão, o amor e a vida são um desenho de giz no quadro negro já todo manchado desse mesmo giz – nítido e esfumaçado que embriagam, dilaceram e continuam a ser queridos.




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