Um
pouco menos
Por
Vivian Marina
Nem tanto
para direita, nem tanto para esquerda. Há algo no meio disso que destoa. O corpo
pede um pouco menos na bagunça de seus movimentos. Na iminência do errar o
caminho, no instante do desvio, no titubear do salto, no improviso do gesto, no
piscar de olhos – o espetáculo não pode parar para que o corpo se ajeite. A janela
que dá para o lado de lá flerta com as linhas, mistura a luz que por ela entra
com as luzes dos holofotes. Linha e luz que adentram corpo e jogam com a cena.
Lá fora,
nem as tintas, nem as borrachas fazem com que o corpo pare. As câmeras
desfocadas querem captar paixões. Lá dentro, as cortinas, ainda fechadas,
encerram o momento, esperam que o corpo lhe peça abrigo, mas não sabem que há
muito o corpo despiu-se.
As nudezes
do grito e do giro se atracam e enroscam no meio fio. E por que ele se chama
assim? Meio fio? Onde está o fio todo? Talvez esteja perdido no meio dos fios
do público e da multidão que, dentro e fora, querem ver o corpo mostrar seus
ensaios. Mas o corpo cansou de ensaiar, ele quer mais que o diabo o carregue
para bem longe de tanto ordenamento.
Já cansados
os olhos, então, avistaram a parede, pela janela. Nela estava escrito: “Sou aos
poucos”.
Um comentário:
Tão inteiro, mesmo por partes, que bonito!
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