24 abril 2010

ULTRA-DERRAME DE SANGUE



Baldes e mais baldes de sangue. Mais e mais Holywood distancia-se do mundo da fantasia de corpos que nunca bombeam sangue. Kick-Ass, a estrear por aqui em junho, de Matthew Vaughn, baseado na graphic novel de Mark Miller - o mesmo escritor de Wanted - traz mais uma amostra de uma realidade sanguínea estilizada. Seu protagonista é um nerd, que decide se tornar um herói. Um herói em um mundo real, em que uma gangue de rua pode facilmente quebrar todos os ossos do seu corpo e o fazer gritar desesperadamente por cada um deles.

Sim, o filme é um divertido elogio a violência. Porém, é um elogio que também reconhece a dor, sua conseqüência. Seus personagens são violentos e passam por situações violentas, mas também sofrem todas as conseqüências disso. Na verdade, uma das principais críticas de um público mais sentimental pode se apresentar mesmo nessa aceitação dos protagonistas de todo o flagelo físico demandado por suas escolhas. Já que grandes poderes não vem com grandes responsabilidades, e sim, grandes responsabilidades dão grandes poderes aqueles que as aceitam. A violência de um jogo de vídeo-game pode ser tão realista quanto a de um romance russo. E um massacre sem arrependimentos é tão válido quanto um jovem paranóico tendo um ataque de pânico pelas 800 páginas de um livro após abrir o crânio de uma velha com um machado. Como o próprio Fiódor Dostoiévski reconheceu, um crime é só realmente um crime dependendo de quem o cometeu. Alguns escolhem seguir o caminho de senhores, outros de servos, o que nós leva a um outro bom exemplo dessa gradual mudança no audiovisual americano: a série de tv Spartacus Sangue e Areia.

A mais recente interpretação da história do escravo Spartacus, que ousou se revoltar e quase desceu Roma aos seus pés, estreou no início deste ano no canal americano Starz, trazendo a mesma estética sanguinolenta do filme 300, baseado na graphic novel de Frank Miller. A trajetória do escravo que se fez senhor continua a mesma já conhecida por produções como a de Stanley Kubrick, porém o que faz de diferente nessa nova versão é o caminho percorrido até o seu clímax. Em seu primeiro ato somos apresentados a uma realidade visceral como nunca mostrada antes, que lentamente culmina num total derrame de sangue. Um derrame que se faz realmente belo após toda a experiência dramática dessa primeira temporada. Digno de uma comparação ao trabalho de outro adorador de banhos de sangue bem orquestrados: William Shakespeare, como pode ser visto em peças como Tito Andrônico e Macbeth.

Spartacus vai mais longe que Kick-ass, pois na sua realidade relativista, em que tudo pode acontecer, nada é certo, nem a vitória, nem a derrota, e nem necessariamente a primeira vem acompanhada de prazeres e a segunda, da ruína, atravessando até o sentimentalismo de Holywood em relação ao destino de seus personagens, sua necessidade de um final feliz modernista. Em Kick-ass, o seu protagonista nerd tem sorte em comparação a sua versão original na graphic novel de Mark Miller. Uma vitória é uma vitória e cada ação tem uma razão de ser. Diferente do mundo niilista ao extremo,e da trajetória pós-moderna da HQ. Num, o herói é feliz por ter razões de ser feliz; na outra, é feliz porque nada pior do que ele já passou está acontecendo no momento.

2 comentários:

Rodrigo Motta Bueno disse...

Daniel... Oi meu nome é Rodrigo, acho que você não me conhece, mas eu o conheço por nome, e pelos comentários do meu pai. Sou filho do Marco Bueno... Assim como você eu sou um apaixonado pela sétima arte. Vou acompanhar mais seus textos.
Um Abraço

Andressa Serena disse...

Ai, ai, ai! Esse é um filme que eu adorei, mas confesso que ele me enganou um pouco. Quando comecei a assistir pensei: "Finalmente um filme de heróis 'normais'!", mas aí ele se mostrou um SUPER herói no decorrer do filme - forte, esperto, e que sempre conquista a vitória com muito esforço e trabalho em equipe. Não que eu não tenha gostado do filme, mas... A vitória sempre alimenta o ser humano, não? Junto com a sua paranóia de bem versus mal, a saga do herói continua sempre em andamento. Além de tudo, trata sempre de uma ascensão: o plebeu sempre vai virar senhor, sempre vai adquirir respeito que, muitas vezes, é um respeito adquirido pela força, pela coragem e por 'fazer o bem'. De qualquer forma, eu adorei o filme e o Nicholas Cage me surpreendeu (ele estava ótimo!).
A série Spartacus eu nunca assisti, mas fiquei interessadinha agora...

Hahaha, beijos!

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