06 julho 2010

CARTA À AMANTE

CARTA À AMANTE

Por Bia Pupin

Quando penso nisso, acredito ser brutalmente imbecil.

Gostaria de saber se nem por um segundo lhe passou pela cabeça a ideia de que nenhuma mulher teria cedido ao charme de um cara jovem e interessante, e deixado embriagar-se da desigualdade que há entre os dois, a não ser na tentativa de alcançar alguma virilidade perdida. E isso não é apenas uma interrogação.

O destino o jogou nos braços de uma ninfomaníaca que vê nele a ocasião de reencontrar sua juventude perdida? Para ele tudo não passa de uma entrega maternal. Ele a comove provoca-lhe uma espécie de pena? Que tola paixão a sua! Quanta inadequação e frustração.

Seu nome, nome de mãe, de pronúncia leve, macia, a mim indizível, tem tons de azul, rosa, mas tudo nele é pastel. Acredita que uma paixão violenta lhes abateu? A tentativa de um milagre...

O que deseja dele? Um rompimento, uma fuga, a busca do “amor verdadeiro”, ora só não deixe que ele perceba que suas conquistas são objeto de ornamento para seu hedonismo, consolo, de uma mulher frustrada e não uma paixão. Não deixe que ele saiba quem é. Que seus cuidados em doses magistrais querem um prêmio de consolação (ele- quanto romance!), afinal ficará bem mais fácil, com tudo aquilo que já sabe com seus 25 anos a mais de bagagem em sua eminente e necessária investida.

Não quero nenhuma resposta sua. Quero seu silêncio em absoluto.

Renata

6 comentários:

Anônimo disse...

Você concebe uma Renata (Call...lembran-se da última Flip?)com uma diferença: esta não glamuriza, explode!Pontuação? Releiam Saramago...Parabéns!

Anônimo disse...

Carta à namorada

Se me deito
No leito
Com ele - eleito

É por amor (ainda que obscuro)

Se minha anca
Desanda
Entre seus dedos
Suados
Desesperados
À procura da tal virilidade – vaidade

É por vontade

Se não me desfaço
Do sexo-fuga
(Complacência que me tortura!)

É pela tentativa de suicidar meu corpo de maneira desdenhosa

E só seu desfalecido Dionísio
Pode destrinçar
Num só golpe de egoísmo - cinismo
A minha angústia de viver

Amante

Obs: provocação fictícia

Bia Pupin disse...

Caro ou Cara, adorei sua provoção!

Anônimo disse...

Adoro ainda mais tudo o que vc escreve!

Cecilia disse...

Para esse Anônimo que se embuça em mistérios, uma pergunta simples:"provocação fingida" pode existir? Se for fingida, não provocará nada...

Anônimo disse...

Considerando que a Renata, o Otávio e a amante sejam todos imaginários, penso que sim. Não é porque a coisa é fingida que ela não possa existir.
Mas devo dizer que essa observação não era pra estar aí. Ela era apenas um lembrete pra eu mesm. Pensei alto, escrevi, e, sem querer, postei.

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