20 julho 2010

GAVETAS

Por Bia Pupin


Ficou o vazio. E as paredes ficaram com odor de lembrança esquecida. Será possível?

O que encontramos na gaveta fechada? Encontramos na gaveta aberta?

(Besteira deixa pra lá - pensava Renata).

Renata não conseguiu encontrar mais nada. Mesmo que tudo estivesse ordenado, a loucura monótona impedia qualquer acolhimento.

O desamparo acometeu Renata. Ficaram as lembranças vazias de sentido, como aquela: de quando, enfrentou a família por Otávio e sua avó de noventa anos não entendeu nada, ou o dia em que entraram no apartamento, ainda bagunçado, com a menina em seus braços, ambos felizes grudados no berço.

Renata, dispersa, na casa que não pode abrigá-la. Os sonhos humanos moram dentro de uma casa, sem essa ligação tudo vira devaneio.

Estaria jogada no mundo sob a mira de uma tempestade?

A fragmentação intranqüila condenava a errante Renata, já que, não soube dar sentido à sua casa.

Por que não deixar as gavetas gordas, gordas?! Certamente, ela preferiria não ter a certeza, desejava, preferiria o silêncio das gavetas pervertidas e convertidas em palavras entusiasmadas, nada pra ela...

A não ser a lamúria de quem tenta dizer à sua mulher, que ela está deixando de ser a mulher da sua vida.

O clamor das gavetas perturbou Renata que sonhou com um manual, que lhe decretaria uma formula mágica, um caminho confortável: o silêncio daquele homem e não suas lamúrias.

Das cartas que leu a vaga lembrança, meio cega, contaminada, purulenta...

De quem adia em se embebedar de liberdade.

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