30 janeiro 2011

Carlos Olhos Opacos


Chegou à porta de casa. Tirou do bolso seu chaveiro cheio de chaves. Nenhuma delas afetava seu cadeado mais difícil. Passou por portões, travas, trancas, correntes, fechaduras; e porta. Entrou. Tinha fome. Algo fácil e rápido de fazer. Macarrão. Suas opções de molho eram: seu molho de chaves imprestáveis, ou um molho de tomate congelado que mantinha na geladeira. Havia também o molho de suas memórias, dores e confusões remoídas, mas, por lhe causar náuseas, essa não era uma boa idéia.

Tomate. Jantou na companhia da TV, mas ignorou o “boa noite” da mocinha do jornal da madrugada. Comeu o de sempre. Tragédias, futebol, chuva no dia seguinte e aquele crítico tonto, que odeia. O programa de entrevistas, às vezes, lhe trazia algum prazer. Seu lado criança sonhava em ser entrevistado um dia. Seu lado adulto já temia o escuro de outra noite não dormida.

Lembrou de dar veneno aos pernilongos e, por uma hora e meia inteira, tentou pregar os olhos durante o filme que passava pela trigésima quarta vez naquele horário. Em vão. Os créditos subiam, quando se rendeu à insônia, levantou, lavou o rosto e foi esperar o Sol nascer.

5 comentários:

Maurileni Moreira (Maura) disse...

Lindo!!! Tenho vontade de escritas assim, aqui comigo, com uma periodicidade maior... Mas, será, que a criação vem da'onde??? Só quando estou...

Thiago Alves disse...

Como um bom Sadiano eu sei o que falta na vida deste cara...

Bia Pupin disse...

Rafa...escutei e gostei!

Aline Zouvi disse...

Belo!

Alexandre Ataíde disse...

Abraço luso!

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