25 outubro 2011

BO, UM FOLHETIM DAS ANTIGUIDADE - 1




Bo




Yahweh disse então a Moshê “Vá até Faraó, endureci o seu coração e o coração de seus servos para por estes meus prodígios na frente deles e para que os ouvidos do teu filho e do filho do teu filho saibam quão severamente lidei com Mizraim e quais foram os sinais que, entre nós, estabeleci para que todos saibam que eu sou Yahweh.”


Êxodo 10.1-2.





Papo Reto



Ponta do iceberg. Bueno, o enredo, o cardar da lã urdida, o folhetim da vez é transparente. A trama já foi batida, pisada e repisada por séculos e séculos de textos, bacias de tinta, gravuras e amuletos.

Ponta do iceberg [ .... 4pt. ] a saída dos israelitas e os prodígios que, perpetrados pela vara de Musa, Moisés, Mósis ou Moshê, abalaram o prestígio da antiga Mizraim, o Egito dos Faraós – quer tenham acontecido no total, no parcial ou não, de jeito nenhum – são artigos de fé, pedras fundamentais da verdade, do misticismo ou da vida de crentes à granel do islamismo, do cristianismo e do islamismo, de Java à Nova Escócia.

Pelamordedeus, o folhetim, o quequé, estas sílabas tortas no oco das páginas humildes não foram feitas para malversar, aturdir ou desrespeitar quelqu´un.

Ponta do iceberg. Bo



em hebraico, significa ou venha, forma imperativa de um verbo bidirecional, venerável e transitivo até o tutano dos ossos. Bo el Pharaoh, as primeiras palavras da parashá Bo, uma das subdivisões do Shemot nas sinagogas, foi a epígrafe escolhida para tecer um hiato agradável ao Yahweh on the crossroads: de um lado o branco do papel, do outro a mão trêmula do novelista, do outro as cabras, o barro e as tendas da fábula, a dureza da pedra calcária talhada e do outro a os prodígios do alfabeto.

Ponta do iceberg. Na arqueologia da Palestina ou nas anotações dos egiptólogos as picaretas nunca bateram, no entanto e desde o século XIX, nas tão esperadas provas da escravidão israelita durante ou após o reinado de Ramsés, filho de Seti, ou seja, após 1279 a.C. ou do êxodo de milhares de pessoas pelo areal inóspito da Península do Sinai.




Bueno, talvez as narrativas do Shemot, o Êxodo dos cristãos, formadas por suas muitas versões, anacronismos, fórmulas convencionais e contradições aparentes tenham ferido pela primeira vez a fibra dos papiros do Nilo ou o couro de alguma ovelha cananéia para falar de uma aprendizagem sofrível, fundo bloco de gelo no Atlântico, do diálogo tenso, claudicante, por etapas, entre uma divindade única e terrivelmente ciumenta que manifestava-se mais nos corações atribulados de humildes pastores montanheses e de reis enfraquecidos do que nas cheias e estiagens que alimentavam os Egitos e as Babilônias do Crescente Fértil antigo [ ............ 12pt.].

Ponta do iceberg. Apois, talvez o Shemot não careça da coerência e das provas irrefutáveis de um relato histórico atual, talvez as suas linhas não precisem de fenômenos naturais estapafúrdios ou das cartilhas dos astrofísicos e, muito menos, do racionalismo europeu do século XVII para manter a sua beleza impressionante.

Ponta do iceberg. Fábula [ .... 4pt. ] a veia do narrado, a urdidura da trama, o folhetim pode até botar nas tábuas do palco o faraó Merneptá e seu filho, um outro príncipe Seti que não assumiu o trono, perdendo-o para Amenmessés, quiçá um núbio, talvez por que não fosse o primogênito, talvez por um simples coup d´etat, e pregar no tule da ribalta umas poucas evidências arqueológicas.

Pero, a fábula – papo reto – vige, na esteira de sucessos misteriosos e de ressentimentos seculares, firme e forte. Ponta do iceberg.

A novela trata, entonces, dos acontecimentos da saída de Mizraim, das primeiras parashot do texto bíblico, da trama batida, pisada e repisada por imãs, bispos e rabinos [ ....... 7pt.] transparente, transparente – água nova, fresca, de uma fonte de outrora, água de nascente.





NA TERÇA-FEIRA, DIA 08 DE NOVEMBRO, NÃO FAÇA A BESTEIRA DE PERDER! NO VELHO CAIRO, OS MINARETES CHAMARÃO OS SENHORES E AS SENHORAS PARA A ÚLTIMA ORAÇÃO DO DIA.

E MOISÉS, O FUGITIVO, TERÁ UMA BRUTA SUPRESA NA AREIAS DE MADIÃ.. O QUE É QUE ESPREITA? O QUE É QUE CHAMA O PROFETA NA BOCA RONCA DE UMA GRUTA?







3 comentários:

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Caro caro, agora entendo tua ansiedade - está magnífico! Um verbo bidirecional, muito transitivo;as angústias do novelista diante do papel em branco. Teremos problemas com o quinto monarca de dinastia póps-diluviana de Uruk ! Sim, ele nos acusa de plágio, de tal Algamesh, parece-me. Saudações, povo e pova do Egipto.

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Mas, afinal, quem é esse tal Vitor Queiroz? Fake, lena urbana? Que verve!

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