08 novembro 2011

BO,UM FOLHETIM DOS MIL E UM DESERTO - 2



Capítulo I
Al-Qahira

Alá seja louvado! Palmeira seca – um calor abrasador. Alá uh akbar. No Bazar, nas vielas de Khan el Khalili, Alá seja louvado, tias, meninos e velhos sentados na frente de um toldo escutam atentamente.
Sacos de tâmara sacos de farinha grãos de café ainda vermelhos e Musa tornou-se pastor dos rebanhos de Jetro. Batem palmas, o punho magro no ar, a garganta, as covas do deserto, o turbante do narrador. Pandeiro sinistros, fim de feira, os bazares vão cerrando os seus tapumes, suas portas e treliças. Moedas tilintam no chão e Musa tornou-se pastor dos rebanhos de Jetro, sacerdote de Mídia, de quem era genro.
Pele escura – as covas do deserto, os prodígios de Alá, a gagueira de Musa, o profeta judeu, prende a atenção dos ladrõezinhos do mercado. Na glote do narrador. Alá, o vitorioso, faça, por favor, a língua, a fábula, o enredo prevalecer. Alá, generoso – as matronas já mandaram as escravas tirar os embornais das costas, o assassino esquecido de sua vítima escuta boquiaberto, Musa sobe a bruta penha do êrmo para escutar a voz ronca do altíssimo, uma sobrancelha arqueada.
Pandeiro agitado, flauta egípcia, castanholas no quequé, ud trastejado e Musa tornou-se pastor. Balindo, ovelhas cabras bodes malhados. No capão, rampeiros, apascentados, patas trocadas no alto dos rochedos. Jetro, o sogro de Musa, já acordou, encostando a testa no chão dum tapete proferiu a primeira prece da manhã Alá uh akbar, Alá seja louvado no silêncio do areal no silêncio do dia que amanhace, tenda abafada, be midbar – no deserto. Bendiz as filhas – a esposa do jovem profeta vira na esteira humilde. Cerra meus ouvidos, ó clemente, ó misericordioso, a toda calúnia. Guarda minha língua de toda maldade. Musa assovia no êrmo. Bode malhadinho, cabrito dos montes, ovelha de lã alvinegra e um restinho de queijo de égua na bolsa. Musa assovia no êrmo.



Alá seja louvado! o narrador susssurrou fazendo trejeitos horrendos e Alá fala na gruta, no areal, no oco de uma sarça ardente, num gesto gutural – louvado seja Alá que de secos rochedos fez a água jorrar, que fez também o coxo e o gago, que tirou as palavras de minha boca glabras, translúcidas frias que aniquilou os povos de Tamud e Ad e também os poderosos faraós do nossa Misr do velho Egito – uma criança vai chorar daqui a pouco.
Pandeiro batido – rebanhos balindo, fora do acampamento, bem longe. Musa apoiou-se na vara outra vez, ainda não está cansado e o areal, o deserta de Mídiã, ainda permanece escuro.
Alá uh akbar – reverencio o altíssimo pela orientação, pela fala, pelo senso, pelo verbo e pelo substantivo precioso. Na glote do narrador, Khan el Khalil, o velho bairro do Cairo antigo, escurece. A mãe ainda não voltou para casa, o apostador perdeu o lance, o mercador – as portas do caravançará trancadas, cordas nas mãos – coça a barba admirado. Musa no deserto, assovia.
No areal distante, sem vizires nem sultões, nem cruzados nem califas nem mamelucos nem otomanos, presentes e pretéritos já não hão. Palmeira seca – um calor abrasador e Musa tornou-se pastor dos rebanhos de Jetro, sacerdote de Mídia, de quem era genro, Musa assoviava tranquilamente, quando...



... E AGORA, O QUE ACONTECERÁ EM SEGUIDA? QUE MISTÉRIO PRENDE A AUDIÊNCIA NUM VELHO DO BAZAR DO CAIRO, NO AUGE DO SULTANATO MAMELUCO?
NÃO PERCA, NA TERÇA-FEIRA, DIA 22 DE NOVEMBRO, O PRÓPRIO YAWEH APARECERÁ E ENCHERÁ TUDO – A PAGINA A BOLSA O PRATO E A VIDA – DUM ASSOMBRO FEROZ! VOCÊ NÃO PERDE POR ESPERAR...






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