19 janeiro 2012

AREIA E NEVE


Areia e neve


Uns grãos de areia resolveram dar uma volta num amontoado de flocos de neve. Eles não passaram desapercebidos, seus tons amarronzados em meio ao branco cristalino denunciaram-nos. Mas não tem nada não. Pudera manterem-se ali sem que aquela neve fofa se desmanchasse encharcando-lhes as bordas. Quiçá tornarem-se vidro ou pérola para possuírem mais utilidade.
Exasperaram e cessaram os devaneios. Voltaram, então, à praia para manterem-se chão. Mas o que é o chão, afinal? Descrevemo-lo como superfície em que se de pode colocar os pés, a tinta, a estampa, a cor, o relevo... costuma-se contrapô-la à profundidade, ao que está por debaixo.
Escapa, pois, o encontro entre aquilo que há debaixo para se ter em cima, superficialmente. Bem como, o superficial não é meramente fútil, pode-se ter dele o vão entre a profundidade e os efeitos dissonantes.
A superfície “fluxa” profundidade. Se fosse a neve a passear pelos grãos de areia, ela também não passaria desapercebida por um tempo e quando desmanchasse aprofundaria o líquido que guarda consigo nas profundezas daquele chão arenoso.

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