Areia e neve
Por Vivian Marina
Uns grãos de areia resolveram dar uma volta num amontoado de flocos de neve. Eles não passaram desapercebidos, seus tons amarronzados em meio ao branco cristalino denunciaram-nos. Mas não tem nada não. Pudera manterem-se ali sem que aquela neve fofa se desmanchasse encharcando-lhes as bordas. Quiçá tornarem-se vidro ou pérola para possuírem mais utilidade.
Exasperaram e cessaram os devaneios. Voltaram, então, à praia para manterem-se chão. Mas o que é o chão, afinal? Descrevemo-lo como superfície em que se de pode colocar os pés, a tinta, a estampa, a cor, o relevo... costuma-se contrapô-la à profundidade, ao que está por debaixo.
Escapa, pois, o encontro entre aquilo que há debaixo para se ter em cima, superficialmente. Bem como, o superficial não é meramente fútil, pode-se ter dele o vão entre a profundidade e os efeitos dissonantes.
A superfície “fluxa” profundidade. Se fosse a neve a passear pelos grãos de areia, ela também não passaria desapercebida por um tempo e quando desmanchasse aprofundaria o líquido que guarda consigo nas profundezas daquele chão arenoso.
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