06 maio 2012

DiaDORim

brassaï

Era a múltipla face de monólitos esquecidos na caverna de ossos, que se mexia vibrante entre as veredas. Transbordava um vazio negro, tão profundamente indivisível, como se qualquer um que ali navegasse e encontrasse na madrugada sem luar, a junção do céu e do mar. Porque o mar às vezes é negro quando calmo, não sabia disso? É como estar navegando no espaço sem estrelas.

O sorriso que comportava essa explicação ocultava a dor da ausência de ser inteiro fazia-se vagar entre o chá servido, naquele pequeno espaço oriental, onde a dança lenta das xícaras e olhares fugidios temperavam o ar com perfumes, simplesmente para saber o que vai dar. Mas não era impregnado pelas cores vibrantes necessárias em diversos corpos feitos de tinta, No entanto não são apenas os caracteres frios de uma folha branca e a ponta de uma bic, acredita-se que era nesse meio que os corpos suspensos queriam estar.

Afastava meu pensamento do que desenrolava ali, naquele colchão, via de longe a mecânica se canibalizar pela vontade de preenchimento, mas ambos sabiam que seus vazios abissais o afastavam e os comprometiam a uma amizade, e não a uma possível paixão. Ele começara a querer o corpo dela, ela não queria corpos, ela queria não contemplar os abismos dela, estando com ele dentro, mas ele estava tão envolto em suas feridas maciças que ela contemplava seu negro escorrer assim como escorria seu gozo nas pernas abertas. Assim como chegava ao orgasmo, porque queria chegar ao orgasmo, mas sem amar o outro que ali dividia aquele momento. Não conseguira amar, não conseguiria mais. Pela primeira vez em anos, ela abria as pernas sem o peso das sentimentalidades, mesmo querendo abrir as pernas para um preenchimento sem amor, ela queria não observar as feridas, e não sair de lá mais puta que entrou, não transformando aquele outro em mais uma galáxia que era engolira.

Era inevitável, ela era a puta que foi ali gratuitamente abrir as pernas, ele era uma galáxia cheia de cor a ser dragada. Ela dragou, e caiu no seu abismo.


Mas todo o momento da queda, ela procurava brumas, o nevoeiro gelado que invadia as rachaduras, deixando seus espaços esquartejados preenchido de nuvens plúmbeas. No caminhar seguia-se o peso do retumbar das palavras de outros tantos corpos tatuados invisivelmente em sua pele, que cheirava a sexo, pele que não era a dela essencial, pele fragmentada e friccionada em amores expressos. Só, sua fuga era concreta, era inteira em seus pedaços e buscava mostrar-se assim, partidos para alguém que não tivesse o medo de olhar para o vazio. Ela foi, foi vazia de encontro às nuvens que permeiam desfiladeiros, ela caia e caia dentro de si, sabendo que o vento passava por entre as veredas, causando a sensação de enchente.

Um comentário:

paula miasato disse...

a dor sempre me pareceu bela... Afirmo aqui.

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