09 abril 2013

UM 'DECA" UM DECALQUE


        Manero na Namorada*

           Por Marco A. de Araújo Bueno

   Manda mais maneiro, mano, - manera! Manerar, -  maneirou. Na namorada só.


*Deca: Microconto de dez palavras


     
                                          TRANSANTÔNIOS LUSÓFONOS


LOBANTUNIENSES – Exercícios de decalque
Tenho antônio no nome também
(o Lobo, agudo; o meu, – circunspecto)
Perdi um carro com selo distintivo belíssimo
(Wolfland)
Suponho aludir ao Território do lobo, e não tenho Antunes no nome, nem antagonismos muito ao contrário, então apraz-me esparramar meu texto como ele faz ao simbiotizar-se com os dele.
Aqui é para contar como brotou duma artéria viária preferencial que atravessei
em perfumado crepúsculo e tomei tremenda porrada lateral , uma moça
O carro era um Logus e calhou que eu não tivesse razão neste sinistro.
Veio a jejuna motorista Carolina e porrou a lateral do carro. Assustei-me, noprenuncio de uma sina revisitada
(é que a parva tomou o breque pelo acelerador)
Faz vinte e três anos, um ancião acompanhado da esposa velhinha cometeu o mesmo desatino de motricidade e porrou um Fiat 147 que eu guiava. Era um velhote turrão que errou igual à jejuna
(que se fazia acompanhar pelo filinho atado ao banco traseiro)
Cicatrizes, cacos de vidro purulência incrustados no rosto, pálpebras. Mais tarde, dada a lei da gravidade e minhas pesadas leituras fiz-me operar das pálpebras empapuçadas
(Pitose, o nome da intervenção cirúrgica que uma médica oriental cometeu)
Deu-se que minhas pálpebras não se fecham a contento seja para dormir seja para banhar-me
- Perdeste o automóvel ?
Sim, perda total e outras perdas de autonomia.
Mais tarde ainda logrei instalar-se em mim uma prótese.
(Acetábu-lo- assim literalizo a grafia do nome do osso cujo o fêmur dardejava)
No quadril: Titânio por fora e cerâmica na concavidade. Cerâmica na bolota do fêmur convexo; conjunto não-cimentado que hoje cuido pra que não quebre, que não me dê nuanças de perda total
(PT; salvação)
O primeiro Logus naufragou nos vales, Valinhos do Adoniran;
O segundo foi porrado na travessa José Lins do Rego.
Acudi a ambos!
A seguradora acudiu-me o carro.
E hoje lendo o quarto livro de crônicas do António Lobo deslizo-me, biônico, com meu andador e sonho com voltar a pedalar pelos vales e jogar futebol
(a evitar caminhos com o nome de grandes escritores)
Pois sim.

* Pseudônimo de Antônio D'alemar

3 comentários:

Unknown disse...

Por vezes, temo o que não seja ficção por trás de um belo texto. Dessas verossimilhanças tamanhas, de magoar o corpo e deixar ferida em pálpebra, primeiro eu arregalei as minhas de estupefação, depois escancarei as janelas para emanar positividades vibratórias, melhoras ao que te arde, amigo-irmão tão perto-longe! Saúde!

Anônimo disse...

Cecilia Prada disse...
Antônio, que melhor te dirias "´d´Aquém Mar"...pois não é que conseguiste, vitorioso, imitar bem o fluxo verbal do gajo!...O qual lusitano senhor, tive a honra de conhecer, e até de ter dançado com ele em priscas épocas, em São Paulo...Um genio da língua - o maior escritor português, mais merecedor - na minha despretensiosa opinião - do Nobel..Pois então, que se diga, ó António/ Antônio, parabéns!

António Je. Batalha disse...

Ao passar pela net encontrei o seu blog, estive a ler algumas coisas e posso dizer que é um blog fantástico,
com um bom conteúdo, dou-lhe os meus parabéns.
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Sou António Batalha, do Peregrino E Servo.

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