30 junho 2013

ALFARROBA




não provei o gosto das coisas.
consumi-lhes apenas a ideia
de um possível gosto
que não era paladar:
era só a pressa de fazê-las desaparecer.


e depois de satisfeito
o corpo não retinha nem o doce,
nem o sal
nem o mel do nódulo que há pouco
cintilava em minha língua


minha memória era de estar só
contemplando um vazio que vibrava
nas extremidades das minhas extremidades


e então veio o seu gosto
e seu inconsumível desconforto
que era um chamado da ânsia
de engolir-lhe os olhos
a pele
os pêlos


para somente então se fazer apelo
e pedir que viesse manso
com a disciplina que conduz seu dia
com a ambigüidade que a faz mentir
e a habilidade de tornar o difícil fácil
e o fácil elegante.


para enfim envolvê-la num abraço cândido
e nutri-la com a ternura
desse arremedo que chamamos desejo.


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