29 janeiro 2010

Infarto do miocárdio

Por Paola Benevides (ilustração e texto)

Enfarta o homem casado, geralmente cansado, em seus abatimentos cardíacos. É farta a mesa imposta pela mulher que sempre o aguarda. Ela portando um avental maçônico, sempre ao marido cozinhava. Ele gostava de comer cadáveres quase vivos. O bombeamento rarefazendo-se em sangue ainda quente era um prato cheio a forrar seu existencial vazio.

Pensava em divórcio, em dívida, porém não dizia nada, queria apenas a carne mal passada a não mal passá-lo por tanta fome de vida. Ela o ia consumindo à boca repleta. Esperava dez presuntos, desesperava em pratos limpos. Mais tabuleiros untava em vão e vinho. Circo e pão.

De repente, mão fria e náusea. Quando a sua esposa berra italianamente no fogão até ressoar pelas paredes do vizinho:
- Antes fosse de olho grande, mas morreu de ataque, Dio mio cárdio!

Fora mesmo assassinato a quem a coragem cometera suicídio.



5 comentários:

Alan Carline Queiroz disse...

A carne,que vingança,crua.Presunto presente.Gostei muito.

Unknown disse...

Um beijo 'al dente'!

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Anedota búlgara? Não - italiana. O sentidos, poli-inseminados, deslizam como quiabos e chocam com o rosa/fundo. Paola, iconoclasta,acaba de nos servir um chá-com-porradas. Incorpado,como sempre.

Rafael Noris disse...

quanta inventividade, banquete [in]farto de suspense existencial. A imagem também, muito bem bolada, dá a pitada psicodélica a este texto-vertigem.

Luciano Garcez disse...

iconização ao modo de isidore ducasse - macarronada com sangue, como disse o oswald.

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