12 fevereiro 2010

FAKE


Por Paola Benevides (ilustração e texto)

Bora brincar na grama. Bora. Lamber o céu na poça de relva. Tal uma moça de solto cabelo, ainda queimo a língua no paraíso da selva. Tudo culpa verde daquele passarinho malditoso, um que me derrama boas viagens emplumadas de nada com nada para testemunhar em versos estas coisas-nenhuma. É que a gente precisa maturar a vista de dentro, caçar formigas na hora da dormência. É que a mente necessita lampejar sem nebulosidade alguma. Assim não calejo a alma, pelo menos, assim não pelejo pele de menos, tudo porque a pele é necessária nos tempos de hoje, no meio dos templos de concreto onde as pessoas rezam sem prezar umas às outras. Caçam-se até os ratos com frio. Concreto armado, tudo armação mesmo. Ninguém se encosta mais, todos tem encosto para a coluna do espírito não se manter ereta. Ninguém se beija mais, quanto mais é meia-aproximação dondoca, de rosto no vácuo. Falsa, a tua faceta cansa. Vá fazer um filme de amor Norueguês na Finlândia! Aqui no meu peito jaz um descongelador automático. Sou moderna, nem uso aliança. Aceito cunilíngua no meu cheiro de sabonete de óleo de fígado de bacalhau fabricado na França. O bacanal fica por conta das elevadas crianças. Pais escandalizados. País escranarvalizado. E eu sou só uma moeda. Sou só um cara em busca de uma coroa bem sincera. Vê minha cara de poker no blefe, na infame lama? Detenho o poder da petulância. E ainda ouço a Lady Gaga. Mundo gagá este...


6 comentários:

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Paola,bom dia (é o que me oferece esse teu "Fake") e cuidado!, ele me silaniza a vertiginosa montanha russa do mecheremeche vocabular que me atrai para um vórtice que é anticongelante. Preciso me atar correntes ao mastro desta nau e não sucumbir ao meu próprio canto de sereia, enquanto a leio desalinhando expectativas-clichê, fraturando vocábulos sem dolantina por perto. E não há dolo e eu adoro essas mônadas há eras. Tua vez, Marco - fake-se, mimetize suas próprias imposturas. Não hás de rstar podre sobre pedra.
Gosto muito de ti, faz eras.Agora, 13 - aniversário do blogue. Mais três, o seu. Nem sei o que pense...
Fique no meu perto!

HOMERO GOMES disse...

Fiquei impressionado com a virilidade (no sentido intelectual) do seu texto, Paola. HG

Rafael Noris disse...

Quando posto um texto de Paola no Twitter sempre penso: em qual genêro se enquadra? Desisti de descobrir, é transpoéticas mesmo. É a poesia percorrendo algo entre a ficção e a crônica. As ilustrações também, sempre muito boas.

Unknown disse...

Quanta redescoberta de mim aqui com vocês, nossa... Não sabem a graça tamanha, a gratidão que tenho ao escrever um algo qualquer, indefinido de gênero (embora tenha apreciado em muito o enquadramento ao viril e ao poético ficcionado) e receber um retorno em crítica tão carinhosa.

Marco, Homero, Rafael... Que honra! Entendo que estejamos tão nesse "perto" que possemos ficar à vontade também para avaliar os tropeços linguísticos. Façam o favor, arranquem minhas pedras, apedrejem o que estiver de fora desse calçamento de palavras. Abraços fraternos!

Marcelo Finholdt disse...

Creio estar - a cada postagem - num crescente interesse pela sua escrita.
Qualquer dia usarei suas palavras bailarinas para mote, para as danças de meus versinhos.
Parabéns pela singularidade extrema de seus escritos e pela criatividade contagiante.

Pedro B. M. Serrano disse...

gostei da sonoridade. parabéns.

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