12 outubro 2010

TIVE UM SONHO ESTRANHO - FINAL [BRAVIDEIAS II]




TIVE UM SONHO ESTRANHO - PARTE III
Por Marco A. de Araújo Bueno

(...)
Ocorre que, ao adormecermos, desligamos, por assim dizer, a porção nobre do
cérebro (no Sistema Nervoso Central) responsável pela racionalidade dos nossos atos, pela vontade (volição), pela consciência e pela tomada de decisões, entre outras atribuições. Por outro lado, como numa troca de grandes usinas de força, ativamos o Sistema Nervoso Periférico que manterá em funcionamento os batimentos cardíacos, por exemplo, e toda a musculatura lisa do corpo. Entramos então em sono profundo e, na seqüência, no sono do sonho – o Sono ‘Rem’ (rapid eyes moviments).
É neste que, do ponto de vista psicodinâmico “repassamos” acontecimentos, sensações e percepções vivenciados no período de vigília, sucedendo que, entre estas imperceptíveis ocorrências, as que lançaram alguma questão psicologicamente significativa ao nosso registro inconsciente, receberão um tratamento semelhante a uma narrativa ficcional calcada numa figurabilidade especial. Costumo usar em consultório uma observação citada também por Borges (1976) e atribuída a Joseph Addison (num ensaio de 1712) segundo a qual “... a alma humana quando sonha, desligada do corpo é, há um tempo, o teatro, os atores e a platéia”. Borges acrescenta que é “... também a autora da fábula que está vendo...” Sobre a referida figurabilidade é necessário esclarecer que o tratamento dado ao material psicologicamente significativo já aludido (para que continue “latente” e censurado pelo consciente) constitui-se de algumas operações de natureza lingüística (metáforas, ou, analogias condensadas, e metonímias, tais como tomar“ a parte pelo todo”,“o objeto pela pessoa que o usa”, o “continente pelo conteúdo e outras) e, por vezes, imagéticas.
Para ilustrar esse mecanismo, menciono um desenho a mim oferecido pelo meu
filho em que, a cabeça de um presumido homem asiático, aparece transpassada pela figura de uma aeronave civil, de ponta a ponta, seguida no plano seguinte por uma alusão estilizada às torres gêmeas recém (2001) atingidas em Manhattan. No balãozinho, a inscrição: “Saiu da cabeça dele!”. Neste caso, uma metáfora inscrita num grafismo,..”como se” o avião a que alude o desenho ter-se-ia materializado e condensado na abstração de uma idéia... a de arremessá-lo!
Se estiver claro que, para defender-se de uma emoção negativa ou ameaçadora de medo ou aflição, o nosso inconsciente transforma, edita ou deforma o material latente até que ele possa ser resgatado pela memória consciente e
experenciado pelo sonhante (pra diferir de “sonhador”) como algo estranho. Então podemos afirmar que através de um bem sucedido trabalho de distorção e disfarce, o sonhante não teve seu sono interrompido e a narrativa do sonho deu certo; funcionou. Quando, aliás, não funciona, temos os aterrorizantes pesadelos - os sonhos mal elaborados, os que nos fazem despertar subitamente numa angústia horrível (proveniente de nossos censurados afetos e suas representações.
Pensando assim, tecnicamente, pesadelos são sonhos que não deram certo. Mas... se nos embrenharmos distraidamente, e mais uma vez, nas reflexões de Borges (1976):- “(...) e se os pesadelos forem estritamente sobrenaturais? Digamos que fossem fendas do inferno. Dentro dos pesadelos, não estaríamos literalmente no coração do inferno? Por que não?



REFERÊNCIAS

BORGES, Jorge Luís. Libro del sueños. Buenos Aires: Torres Agüero, 1976.
FREUD, Sigmund. Obras Completas. Trad. Luis Lopez Ballesteros de Torres. Madrid:
Editorial Biblioteca Nueva, 1972. (Titulo original: Die Traumdeutung)


Um comentário:

Anônimo disse...

Cecilia Leonor Brescianini comentou sua publicação

Cecilia escreveu:

"Olá Marco! Creio que afiada é uma coisa boa, não! rss. Gosto de ser afinada,rss. Deixar ler é ótimo, porém a deixa foi: me deixa leira, fertilizante... Agora vc escreve " bela mente" , benza Deus...abç"

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